Estranhos no paraíso

Devastadora da moral tucana, a reportagem de Amaury Ribeiro Jr. atinge em cheio a credibilidade­ da velha mídia e comprova seu moralismo seletivo

Na década de 1990, Aloysio Biondi já mostrava aos brasileiros o bilionário esquema tucano. Foto: Arquivo Diário da Manhã (GO)/Divulação

Em conversa com a Revista do Brasil antes do encerramento desta edição, na antevéspera do Natal, o jornalista Luiz Fernando Emediato, da Geração Editorial, celebrava o potencial da internet como circuladora de informação. “É uma ferramenta explosiva à procura de um conteúdo.” No momento, afirma, o conteúdo é o livro-reportagem A Privataria Tucana, do jornalista Amaury Ribeiro Jr. Solemente ignorada pela imprensa e divulgada pela rede, a obra que terminou o ano com 100.000 exemplares vendidos em dez dias escancara a nocividade das privatizações da era FHC.

Primeiro, o prejuízo fiscal, ao lembrar contas que o sábio Aloysio Biondi já fazia no início do século – em seu livro O Brasil Privatizado (1999), Biondi mostrava que o governo gastou com o programa de desestatização R$ 87,6 bilhões para com ele alcançar receita de R$ 85,2 bilhões. Segundo, as evidências de crime, ao relacionar operações de lavagem de dinheiro com propinas pagas por participantes de leilões de estatais a gente próxima de tucanos de bico graúdo. E terceiro, ao comprovar que as privatizações não eram, como argumentavam seus estrategistas, opção técnica de livrar o Estado de um peso que não podia carregar. A ordem, “vender tudo que fosse possível”, era satisfazer não as necessidades do Estado, mas o apetite voraz do mercado privado – que se apoderou a preço vil de setores altamente lucrativos.

O livro expõe o ex-governador José Serra. Não o acusa. Mas atinge em cheio sua filha, o cunhado, primo e amigos do ministro do Planejamento da época e guardião daquele programa de privatizações. “Serra desenvolveu como ninguém a arte de criar inimigos ao perseguir e ameaçar jornalistas, adversários e até companheiros de partido. Conheço gente do PSDB que está se divertindo, comprando livros para dar de presente”, diz Emediato.

Devastadora da moral tucana, a reportagem atingiu em cheio a credibilidade­ da velha mídia e comprova seu moralismo seletivo. Ao negarem-lhe repercussão, os donos dos meios de comunicação assinaram atestado de compromisso carnal com aquele ideário político que empobreceu o Brasil. E se terminou o ano como fenômeno editorial, inicia 2012 como ponto de partida de uma nova agenda para o país. “Se acontecer a CPI, o livro ficará pequeno”, avisa, mineiríssimo, Ribeiro Jr.