Minoria rica e cega

Nunca antes na história do capitalismo os Estados Unidos haviam sujado seu boletim com nota rebaixada por uma agência de classificação de riscos. O rebaixamento registrado no início de agosto […]

Nunca antes na história do capitalismo os Estados Unidos haviam sujado seu boletim com nota rebaixada por uma agência de classificação de riscos. O rebaixamento registrado no início de agosto pela agência Standard&Poor’s causou alvoroço nos mercados do mundo. 

No dia em que este texto era finalizado, o índice da Bolsa de São Paulo acusava queda de 8,08%, a maior desde a crise de 2008, a mesma da qual se sentem os efeitos até hoje mundo afora. E a S&P é a mesma que dava 10 com louvor às contas do Lehman Brothers dias antes de a instituição falir, deixar o sistema bancário americano com o mico na mão e dar origem ao colapso-dominó… de 2008.

Ora, remoer o passado para quê, não é mesmo?, questionam os desmoralizados, porém ainda poderosos, gerentes do cassino global. Mesmo com o moral baixíssimo, não abrem mão de sua cartilha vencida, que a redução – se possível a nada – do papel do Estado, das despesas dos países com educação, saúde e proteção social. 

Essa elite, rica e cega, sustenta, por exemplo, o chamado Tea Party – o movimento de ultradireita norte-americano que simboliza o poder da minoria a esculhambar a democracia, inclusive aquela tida como a maior do mundo –, onde o presidente democrata é refém dos rivais republicanos; e de onde parte o bloqueio econômico que há 50 anos tenta estrangular a sobrevivência de Cuba só porque uma revolução botou para correr dali os burgueses de Miami que dela faziam a casa da mãe Joana.

Por influência dessa regência mórbida do liberalismo, o pesadelo americano foi assombrar a Europa, deixou estarrecidas as populações da Grécia, Irlanda, Portugal, Espanha, Itália e está prestes a pegar belgas e franceses na próxima esquina, todos já temendo ser chamuscados também pelas chamas da periferia de Londres. 

E se uma minoria rica e cega ainda tem poder e influência para ditar rumos para a economia global, não é de surpreender que as recentes manifestações populares que proliferam no velho mundo comecem a pôr em xeque a própria democracia. Parece ser esta a ambição dos que insistem no beco do neoliberalismo sem saída: por que remoer o passado e buscar outros modelos, sustentáveis, de desenvolvimento e de democracia, não é mesmo? Para a frente andemos todos, dizem, ainda que dois passos adiante esteja o abismo que cavaram com suas cartilhas.