‘Brasília tem de ser exemplo para o Brasil’

O governador Agnelo Queiroz respondeu a uma entrevista encaminhada por e-mail pela reportagem

Agnelo: resgatar a autoestima (Foto:Marcello Casal/Agência Brasil)

O senhor assumiu o governo pós uma crise política sem antecedentes. Qual a extensão dos prejuízos encontrados?

Agora como governador eleito e empossado, não falo mais de propostas, promessas. Chegou a hora de transformá-las em medidas, em ações reais de governo. Eu me sinto honrado por ter sido escolhido pelos brasilienses para pôr fim ao longo período de escândalos e desmandos das gestões anteriores. As velhas práticas que envergonharam nossa capital não terão mais lugar nesta cidade. Cidade que tem de servir de exemplo para o Brasil. Não serei conivente com qualquer ato de indignidade de qualquer integrante do meu governo, seja quem for. Meu compromisso é com a ética e com a transparência na gestão pública.

Logo que chegamos, encontramos uma situação de total desamparo da cidade, com mato alto, grama, muitas dívidas, e contratos prestes a serem fechados com valores altíssimos e que não resolveriam efetivamente o problema da população. A Saúde estava em um estado tão ruim que tivemos que instalar um gabinete de crise, do qual sou chefe, e decretar estado de emergência.

Está sendo feito um diagnóstico detalhado sobre cada uma das áreas de governo para verificar necessidades e possibilidades, mas é importante que tudo seja feito com planejamento. E eu sempre faço questão de frisar que este é um governo absolutamente responsável e vai agir absolutamente dentro da lei.

Suas primeiras falas como governador eleito enfatizaram a ideia de um “tratamento de choque”, com ênfase no resgate da autoestima e na volta à legalidade. O que foi efetivamente encaminhado nestes três meses?

Fui eleito com a esperança do brasiliense que quer um novo caminho para sua cidade, para romper com esse passado que tanto envergonhou nossa capital. Estamos iniciando um novo modelo de gestão pública, com ética e transparência. Aos poucos, estamos resgatando a auto-estima do brasiliense. 

Entre os dias 2 de janeiro e 4 de março, uma área equivalente a 5,6 mil Maracanãs teve o gramado cortado; mais de 1,6 milhão de mudas foram plantadas nos canteiros da cidade; quase 15 mil árvores foram podadas e mais de 130 mil toneladas de entulho foram retirados das ruas. 

Nos últimos três meses de 2010, a empresa responsável pelo corte de grama estava desmobilizada, praticamente sem operação. No início de 2011, o novo governo pediu à empresa que voltasse a operar com 100% de sua capacidade. Ainda assim, em função da quantidade de mato e a necessidade de urgência em deixar a capital federal limpa novamente, foram contratadas, por meio de pregão, outras duas empresas.

Como já disse anteriormente, meu compromisso é com a ética e com a transparência na gestão pública. Por isso criei a Secretaria de Transparência para ajudar a recuperar a credibilidade do Governo do Distrito Federal (GDF). O secretário, Carlos Higino, tem a missão de controlar irregularidades, como casos de mau uso do dinheiro público, fraudes e desvios. As áreas de Saúde e da Tecnologia da Informação, conhecidos focos de corrupção no GDF, terão prioridade nas auditorias.

A Saúde foi destacada como a área de prioridade zero neste início de governo. O senhor mantém a previsão de uma mudança substancial no atendimento até o fim do semestre?

Estou indignado com o que as gestões passadas fizeram com os órgãos públicos, com a saúde pública especialmente. Herdamos uma situação de caos administrativo e sucateamento da máquina pública. Mas estamos aqui para mudar isso. Diante da gravidade da situação, tive de decretar estado de emergência na saúde pública do DF. Isso nos permite tomar medidas emergenciais de forma mais ágil, como comprar remédios, fazer obras, remanejar servidores para atender especialmente o setor. 

É importante lembrar que não se resolve um problema do tamanho que encontramos em poucos dias. Algumas ações levam mais tempo que outras, pois dependem de análises profundas de processos e contratos. Apesar disso, já podemos observar avanços importantes, como a reabertura de centros cirúrgicos, a recuperação de tomógrafos e a impermeabilização de áreas que agora podem servir para ampliação do número de leitos da rede pública. Eu, pessoalmente, já visitei 9 hospitais do Distrito Federal e a Farmácia Central. A emergência do Hospital Regional de Planaltina está passando por reforma e a primeira Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do Distrito Federal finalmente foi inaugurada e está atendendo com toda sua capacidade a população de Samambaia e região. Além disso, já autorizamos a realização de concurso público para preenchimento de 1.222 vagas para área de Saúde para, aos poucos e com responsabilidade, acabarmos com o déficit de profissionais nos hospitais.

No que os brasilienses – e os brasileiros – podem esperar uma capital diferente da que Roriz e Arruda moldaram? Há pessoas em postos-chave no governo, a começar pelo vice Tadeu Fillipeli, historicamente ligados a um deles ou a ambos. Elas não trazem as práticas que a população, ao ir às ruas, exigiu que fossem banidas? 

O governo da coligação Novo Caminho representa as propostas apresentadas por nós durante a campanha. O PMDB da campanha, aliado à coligação, já era bem diferente do passado. Haviam rompido com o ex-governador Joaquim Roriz. Eles procuravam um novo rumo e acabamos nos unindo justamente para enterrar este passado. Ganhamos a eleição com o apoio amplo de diversos partidos por uma Brasília melhor. O PMDB é um desses partidos, o do vice-governador Tadeu Filippelli. Ele faz parte da direção do PMDB e temos uma relação muito boa. Vamos resgatar a auto-estima do brasiliense e trazer de volta os princípios da ética e da transparência.

Como o Plano Diretor de Ordenamento Territorial (PDOT) pode redirecionar o desenvolvimento do DF? O senhor acredita que, apesar do processo fortemente questionado (incluindo denúncia de compra de votos), o conteúdo da lei é ou será, de modo geral, positivo?

A revisão do PDOT já está em curso. É um compromisso meu de campanha, porque nós não poderíamos manter um plano diretor sob suspeição, já que aproximadamente 20% do PDOT é hoje considerado inconstitucional. A revisão implica no debate democrático de todo o DF, ouvindo segmentos da sociedade será submetida à Câmara Legislativa.