O lixo do futuro

Cooperativa de catadores de recicláveis, em Diadema, gera renda e promove cidadania

Cooper Limpa, fundada há 11 anos, tem 19 cooperados que recolhem INSS. Foto: Danilo Ramos

Desempregado aos 44 anos, sem perspectivas de recolocação e cansado dos bicos, o então metalúrgico José Lacerda Borges se uniu a outras pessoas como ele, do bairro Serraria, em Diadema. A ideia era montar um ferro velho, mas na incubadora da Fundação Santo André foram orientados a abrir uma cooperativa de catadores de recicláveis. Isso foi há 11 anos. “Começamos sem nada. Nem havia lei para autorizar a prefeitura a firmar acordo com a gente”, conta Lacerda, presidente da Cooper Limpa. Hoje o empreendimento funciona num galpão no bairro Inamar, cedido pela prefeitura, que fornece também água, eletricidade, um caminhão uma vez por semana para retirada de resíduos em creches, além de uma remuneração de R$ 55,95 por tonelada de resíduos coletados em residências e órgãos públicos da cidade. A cooperativa tem esteira mecânica, três prensas, três caminhões comprados com recursos do Banco do Brasil e do BNDES, e um computador no escritório modesto. Os 19 cooperados recolhem INSS.

“Não dá para ficar rico. Pouco ou muito, é uma coisa garantida”, diz Lacerda. “O trabalho não é fácil. Mas separamos o que faz mal para o ambiente”, afirma o cooperado Luiz Carlos Messias, que já foi caminhoneiro, costureiro, marceneiro, carpinteiro, trabalhou em estúdio fotográfico e hoje faz a triagem na esteira.

Já o cooperado Paulo de Oliveira Monteiro, que prensa os fardos de embalagens, encontrou ali tranquilidade. Embora ganhasse mais como padeiro, adoeceu devido a tantos assaltos. “O médico me mandou procurar outra profissão. Estou aqui há 11 anos”, diz, satisfeito.

Em 2007, a Petrobras financiou o cadastramento dos catadores cooperados do ABC. Os questionários respondidos mostraram que a maioria dos 194 trabalhadores em Mauá, Ribeirão Pires, Diadema e São Bernardo não tem sequer esteiras. Separam os resíduos no chão, sujeitos a dores e problemas posturais, entre outros. São poucos os que possuem equipamentos e apenas dois têm veículos próprios. A renda média de todos não chega a um salário mínimo.

“O resultado está abaixo do esperado. Há casos de retirada menor que R$ 200, que é fruto da precariedade do trabalho e da falta de apoio do poder público municipal”, aponta o educador social Fábio Luiz Cardozo, consultor da Unisol do Brasil, entidade que incentiva ações em prol de trabalhadores em situação de exclusão. A situação tem levado catadores organizados a pressionar os governos locais para ampliação das políticas públicas da coleta seletiva com inclusão social desses trabalhadores. “Apesar da dificuldade, há avanços, como o reconhecimento da categoria profissional e pessoas que moravam na rua e hoje conseguem pagar o aluguel de uma casa”, destaca Cardozo.