Não é bróder. É mano!

Jeferson De reuniu em seu filme Bróder, com estreia prevista para março, Mano Brown e Daniel Filho, Capão Redondo e Globo Filmes. “Como cineasta, mostro que a gente pode ser muitas coisas além de motoboy”

(Foto: Geraldo Lazzari)

Formado em Cinema pela Universidade de São Paulo (USP), Jeferson De está que não se aguenta. “Bróder”, seu primeiro longa-metragem, só recebe elogios por onde passa. Foi selecionado, exibido e reverenciado no Festival de Berlim, nos festivais de Paulínia e do Rio de Janeiro e fez o rapa em Gramado, onde conquistou cinco Kikitos, entre os quais os de melhor direção e de ator, para Caio Blat. A estreia do filme em circuito nacional, antes prevista para este mês, deve ficar para março. Em torno de seu projeto, Jeferson De conseguiu reunir universos e figuras díspares como Mano Brown e Daniel Filho, Capão Redondo, na periferia de São Paulo, e Globo Filmes. Em 2000, criou o manifesto Dogma Feijoada, que prevê maior participação de negros nas produções audiovisuais. De lá para cá, Jeferson De diz que amadureceu em relação às convicções raciais, mas descarta uma possível flexibilização. E, apesar de testemunhar os avanços na sociedade brasileira no que se refere à diversidade, ainda sente o peso da discriminação racial, como conta nesta entrevista.

Depois do sucesso que seu filme fez nos festivais, qual a expectativa em relação à estreia no circuito comercial?

Estou na maior alegria com a recepção do filme e ansioso para ver a reação­ do público. “Bróder” é um filme que fala da amizade, do carinho, das relações. Houve uma entrega absurda de cada um dos envolvidos. Isso dá para ver no resultado final. Fiquei com medo porque tinha a preocupação de estar falando algo que só eu entendesse. Em Berlim, deu para perceber que eles entenderam e se emocionaram com o que eu tinha a dizer.

O que o levou a filmar no Capão Redondo?

Escrevi o roteiro sem pensar em um lugar específico. A história não precisava ser na periferia, poderia ser na Mooca, no Butantã, no Brás, na Brasilândia, em Santana. Tinha de ser uma casa simples, humilde, onde ocorre o encontro de três amigos. Todas as relações apresentadas poderiam acontecer em qualquer bairro. Mas eu já conhecia muita gente no Capão e, ao conseguir os recursos para fazer o filme, achei bom que fosse empregado em benefício dessa gente de lá. Além disso, quase todos os filmes sobre a periferia de São Paulo foram gravados na Brasilândia. Aquele visual já tinha enchido o saco. Ao levar o Gustavo Hadba, fotógrafo do filme, ao Capão, ele pirou. O cara é carioca, mora no Leblon, e adorou. O pôr do sol do Capão é o mais lindo de São Paulo. Vai lá… Pegue uma garrafa de vinho, arrume uma laje e assista. O contraditório é que, quanto mais poluído está o dia, a paisagem fica ainda mais bonita.

Qual é a sua relação com o bairro?

Faz tempo que sou um assíduo frequentador. Adoro a Oscar Freire (rua no bairro chique dos Jardins), comer e beber bem, mas também adoro comer e beber bem lá no Capão Redondo. Lá tem uma feijoada maravilhosa. Sou de Taubaté (interior paulista), vim para São Paulo estudar Filosofia na Universidade de São Paulo (USP). Um amigo, que fazia Ciências Sociais, morava no Capão e me apresentou o bairro. Outro fato ainda mais engraçado, que mostra como a vida dá voltas, é que quando a minha ex-mulher ficou grávida ela quis ter um parto humanizado. Fomos em busca de uma parteira, encontramos a Ângela Gehrke da Silva, uma alemã, que fazia os partos humanizados na favela Monte Azul, no Capão. A nossa filha, Joana, nasceu na casa onde a gente morava, no Butantã, com essa parteira.

E como foi o trabalho por lá?

O Paulo Magrão, da organização não-governamental Capão Cidadão, que conheço há mais de dez anos, foi parceiro. Essa ONG foi nosso braço dentro do bairro. Combinei com o Magrão que ele arrumasse todo mundo de lá que quisesse trabalhar como pintor, marceneiro, segurança para ajudar a parar a rua, explicar para a comunidade em todas as instâncias legais e ilegais que a gente estava querendo filmar lá. A comunidade abraçou o projeto. Mas havia outro problema, bem delicado. Eu não queria usar ator local. O cinema cria a ilusão do tapete vermelho. Depois, nenhum cineasta dá conta disso. Ele vai lá, faz o filme do favelado, um beijo e tchau. A vida dele continua no tapete vermelho, a do cara, não. Muitas vezes, esse cara não entende o que aconteceu. Não fica claro que ele está interpretando ele mesmo. Eu expliquei isso lá, o pessoal entendeu. Não era um filme sobre o Capão Redondo, eu estava filmando no Capão. A única exceção foi o Du Bronx, porque ele é rapper. Sabe o que é subir num palco, fazer um show, descer e continuar no mundo real. Quem o indicou foi o Mano Brown.

Você já conhecia o Mano Brown? Além de indicar o Du Bronx, qual o papel dele no filme?

O Mano Brown foi meu superaliado. Já o conhecia de shows e de se cruzar na padaria nessas minhas idas ao Capão. A gente batia papo. Eu precisava muito do apoio dele. Escrevi o roteiro ouvindo Racionais MC. Durante as filmagens, ele visitava o set, sentava do meu lado, opinava em algumas coisas. Eu praticamente paro o filme para homenagear o Mano Brown com a música Fim de Semana no Parque, quando os três meninos saem do Capão e vão, literalmente, passear no grande parque de diversões que são as Avenidas Paulista e Berrini, a Vila Madalena.

Como o Cacá Diegues e o Daniel Filho entraram no projeto?

Primeiro, o meu roteiro foi selecionado pelo Sundance (laboratório de roteiros criado pelo ator Robert Redford e ligado ao maior festival de filmes independentes dos Estados Unidos). Passei pelo laboratório deles, no Rio de Janeiro, durante uma semana com dez julgadores detonando o meu trabalho. Um negócio totalmente teórico. Tudo em cima daquela peça de 90 páginas. Saí de lá e reescrevi o roteiro. Mandei ao Cacá Diegues, porque ele já havia assistido aos meus curtas e elogiado. Não conhecia ninguém. O Cacá tem experiência de um processo que sempre desejei para mim. Faz filmes grandes, com atores profissionais e os lança, comercialmente.

E lançamento comercial não é o forte do cinema brasileiro.

Em São Paulo, a gente fica preso ao cinema meio cabeção e de arte, nisso chega o cinema do Rio e faz o rapa aqui. Busquei um meio-termo. O Cacá me respondeu dizendo que o projeto era bom, sugeriu que eu procurasse a Columbia Pictures. Segui a orientação dele, e o Rodrigo Saturnino, presidente da Columbia, afirmou que queria fazer o filme. Em 2007, mandei para a Globo Filmes. O Daniel Filho leu, gostou e me chamou para nossa primeira reunião. Eu tremia. No fim da conversa, o Daniel me abraçou emocionado e agradeceu por eu ter levado o projeto para ele. Não entendi nada, achei muito louco aquilo, ele me agradecendo… Passei a catequizar o Daniel sobre a realidade do Capão. Mandei o livro do Ferréz, os DVDs e camisetas do Racionais MC. Hoje ele sabe tudo sobre o Capão.

Houve algum novo direcionamento depois da entrada dos novos parceiros?

O filme é meu economicamente e conceitualmente. Algumas pessoas ficam assustadas e perguntam se o Daniel Filho e o Cacá Diegues atrapalharam. Fica aquela dúvida: “Será que os caras botaram muito o dedo?” Eu só posso responder isso com as pessoas assistindo ao filme. Depois comparem se ele se parece em alguma coisa com o Chico Xavier, com Se Eu Fosse Você, Orfeu… Acho que não. O “Bróder” é a minha cara. O Daniel, por exemplo, discutiu muito comigo o roteiro com o objetivo de deixar o trabalho melhor. A gente levou quase um ano discutindo e melhorando o roteiro. Lembro que eu ficava ansioso, queria começar a rodar, e ele dizia: “Se você quiser filmar agora, pode filmar. Para a gente, é mais um filme. Para você, é o seu filme”. Não é à toa que Chico Xavier ultrapassou a marca de 3 milhões de espectadores. O cara sabe o que está fazendo.

Como foi ter Daniel Filho e Mano Brown envolvidos no mesmo projeto?

São as contradições do nosso país e do cinema brasileiro. Tinha tudo para não rolar, mas rolou. Ao mandá-lo e ele ser aprovado pela Columbia e pela Globo Filmes, consegui garantir mais recursos e o lançamento comercial do filme. Para mim, é inconcebível fazer um filme para ser visto pela mãe e amigos. Conheço vários cineastas que também passaram cinco anos da vida deles se dedicando a um filme que não foi lançado. Ou, o que também é cruel, foi lançado e ficou apenas uma semana em cartaz, sem nenhuma divulgação.
 
Houve algum tipo de preconceito de alguma das partes nesse processo?

Aconteceu uma história chata, uma das primeiras vezes em que fui à Columbia Pictures, um prédio maravilhoso, na Berrini. Cheguei, fiz o cadastro, tirei a fotinha. Lá em cima, na recepção, uma senhorinha bateu o olho em mim, sem titubear, e disse que entrega era do outro lado. Por isso, o meu papel como cineasta é importante, consigo mostrar que, além de motoboy, a gente pode ser outras coisas. Em geral, sou mais discriminado por seguranças negros. A gente aprendeu que os jovens negros nas cidades são um perigo para a sociedade. Por isso, foi uma alegria enorme, ao voltar de Gramado, subir a Rua Joaquim Eugênio de Lima e ver na banca de jornal, na Avenida Paulista, eu e o Caio Blat na capa da revista Caras. Apesar de ter dado a entrevista para eles, nunca pensei que me colocariam na capa. O óbvio seria colocar o Caio Blat, o que para mim já estava ótimo. Ninguém tem noção de quanto isso muda a história de um monte de meninas e meninos que passam e veem um negro na capa de uma publicação sem ter feito alguma merda. Não é um negro exibido no programa do Datena como um criminoso. Fiz um esforço no filme para tirar qualquer romantismo do crime, do tráfico. Ninguém vai sair do filme achando graça em ser bandido. 

Quais foram as suas referências na infância?

Meus heróis eram o Saci, um preto sem uma perna, fumante inveterado que usava um boné ridículo, e o Mussum, o bêbado que falava tudo errado. Em um filme dos Trapalhões, ele acabou abraçado com uma macaca. Olha que mudança maluca. Toda vez que a Taís Araújo estampa uma capa, há mudança na autoestima. Isso é uma sociedade de mudança. Melhorou muito. Aqui em São Paulo, tivemos o Netinho como candidato a senador e, mesmo com uma galera pegando pesado, ele recebeu 7 milhões de votos. A própria Marina. É uma negra que foi a terceira candidata mais votada à Presidência do Brasil.

O que você acha do Dia da Consciência Negra, o 20 de novembro?

É uma maneira de a gente mesmo comemorar e lembrar de um líder que foi fundamental, Zumbi dos Palmares. Para mim, o grande herdeiro dele é o Mano Brown. Não passo batido de jeito nenhum. Participo de passeata ou exibo meus filmes em algum lugar. Para mim, é difícil ser militante. Fazer poesia e política é demais para mim. Não dou conta. Prefiro ficar com a poesia. O melhor que eu possa fazer, historicamente falando, é continuar realizando meus filmes e levar as pessoas para o lado emocional. Quando você emociona as pessoas, fica tudo mais fácil.

Você é a favor da política de cotas?

É fundamental neste momento. Adoraria descobrir uma fórmula mais rápida e melhor. Não dá para passar mais 100 anos sem soluções. É necessário colocar esse número de meninos e meninas de pele escura dentro das universidades. Não é a forma ideal, mas é a mais eficiente por enquanto e tem dado resultados rápidos. Um país que se diz moderno e desenvolvido não pode abrir mão de tantos talentos. Ainda é pequeno o número de estudantes de pele escura na USP, uma instituição que ainda não apresentou as respostas para isso. Desde que a USP foi fundada, ela vem sendo paga por um número grande de negros e não emitiu uma resposta favorável para a comunidade negra. Precisamos ficar muito atentos ao racismo, ao preconceito e ao machismo, porque eles aparecem em momentos em que a gente pensa que está tudo resolvido. Não está. Minha função é colocar isso nos meus filmes de uma forma sutil. Parte da sociedade e da mídia não quer discutir nem abordar isso. Acho o filme Cidade de Deus, do Fernando Meirelles, maravilhoso tecnicamente, mas em nenhum momento aqueles meninos discutem por que todos são escuros. Essas construções não caem do céu. Por isso, é necessário figuras como eu, atrás das câmeras. A participação dos atores e atrizes negros no processo de criação artística é frágil. São os últimos a chegar num set. Não tem truque, é preciso escola, formação. Por que a última vez que eu vi numa sala de aula uma pessoa negra foi no primeiro ano do colegial? Depois só tinha eu de negro.

O que é o Dogma Feijoada? Continua existindo?

Continua! Já são dez anos do Dogma. São sete leis de como nós, negros, poderíamos produzir atentos à cultura negra. O nome científico é Gênese do Cinema Negro Brasileiro. Um cinema com atitude. Um cinema que eu não precisasse abrir mão da minha história pessoal, que acho bem importante para o Brasil. Entre as leis que escrevi está previsto que o diretor tem de ser negro(a), o filme tem de se dirigir à cultura negra brasileira, o protagonista tem de ser negro(a), e assim por diante. Amadureci muito nesse período. Não dá mais para eu olhar a periferia e classificar as pessoas dizendo quem é negro e quem não é. Existe um dado que para mim é novo: muitos jovens com o tom de pele do Caio Blat dizem que são negros. E aí? Você vai dizer que não é negro? O filme trata disso. Não estou mais discutindo a negritude. Quero discutir a branquitude. Hoje em dia muita gente diz que é meio negão. O conceito biológico de raça está furado.

Mas, ao escolher o Caio Blat como protagonista, você não descumpriu os preceitos do Dogma Feijoada?

Não, os negros estão no “Bróder”. A extensão do que eu chamo de negro é que aumentou. O Macu, personagem do Caio Blat, é filho de um negro, tem um padrasto negro e os amigos dele são negros. As pessoas me cobram isso. Mas quem disse que o Macu não é negro? Todo mundo sabe que o Caio é branco, mas o Macu, não. É o olhar do personagem. Para mim, não há conflito. Estou conceitualmente muito confortável com a proposta do filme. O Gaspar, por exemplo, do grupo Z’África Brasil, é um loiro, usa dreads e camiseta do Malcom X; o Eminem é black total. Nos Estados Unidos, certamente, ele não é visto como negro, mas no Brasil isso é possível. O Brasil é o único lugar onde existe meio veado, meio negro, meio gordo. Olha os eleitores da Marina, meio Dilma, meio Serra. É disso que estou falando.

O que o fez escolher o Caio Blat?

Eu tinha dúvidas sobre quem poderia interpretar o Macu. Naquele momento, o Caio havia estreado o Batismo de Sangue, do Helvecio Ratton. Fiquei impressionado com a atuação dele fazendo o Frei Tito. Mandei o roteiro para ele ler. Nisso, ele respondeu, por e-mail, que sempre quis ser negão. Era tudo o que eu queria ouvir de um ator branco, porque na minha cabeça ele iria interpretar um cara como eu. Aí nos encontramos. Na ocasião, ele me convidou para a pré-estreia do Baixio das Bestas, do Cláudio Assis, que para mim é um dos mais importantes diretores da atualidade no Brasil. Quando eu vi o filme, tive certeza total de que o Caio seria o Macu. O Caio é um cidadão muito ativo e antenado. Um dia abri o jornal e li que ele tinha se mudado para o Capão. Uma iniciativa dele que acabou envolvendo todo o elenco. Em um determinado dia, os atores ficaram vivendo como se fossem os personagens. Rolou uma feijoada e quem preparou a comida, lá no Capão, foi a Cássia Kiss, que não come carne.

Como tem sido a trajetória de exibição de “Bróder”?

Tem sido linda. Começou, em fevereiro, no Festival de Berlim, na Alemanha. Para mim, já foi uma emoção absurda. Imagina, meu primeiro longa-metragem estrear em um dos três maiores festivais da Europa. Quando o curador do festival assistiu ao filme, disse que estava lindo e tinha chances de ser selecionado para algumas das mostras. Depois de selecionado, o curador sugeriu uma mudança. Pensei: “Pô, ele estava querendo mexer na montagem?” Ele explicou que o público ia entender uma palavra sem compreender o contexto. A palavra em questão era Hitler, que está na letra de um dos raps. Concordei com a sugestão dele, tirei o Hitler da cópia que rodou os festivais, mas vou incluí-lo na do circuito comercial.

Com foi a experiência da premiação no Festival de Gramado?

Eu e o Caio, coincidentemente, nunca tínhamos ganhado um prêmio tão grandioso. Chegamos a conversar sobre a necessidade que a gente tinha de ser premiado. Tínhamos a consciência de que o filme é bom. Quando ouvi anunciar “melhor ator, Caio Blat”, já fiquei extremamente feliz. Ele já havia dito para mim e depois repetiu, em público, que o “Bróder” é o principal filme da carreira dele, que nunca tinha feito um filme com tamanha intensidade. É uma honra. Nisso, o “Bróder” já havia recebido as premiações de melhor trilha sonora e melhor montagem. No momento em que foi anunciado o melhor diretor e ouvi meu nome, eu flutuei. Nunca tinha recebido prêmio pela direção. Recebi prêmios de melhor filme com os curtas, mas é de toda a equipe. Já o de direção é o reconhecimento do meu trabalho. Pô, foi demais para o meu ego. A primeira coisa que veio à minha cabeça foi a ausência que o “Bróder” gerou, nos últimos cinco anos, na vida da milha filha, Joana. O filme tomou conta da minha vida. Todas as vezes que ela ouvia a palavra “Bróder”, ela ficava triste. Dos 8 aos 13 anos, ela conviveu com esse fantasma. No dia do aniversário dela, eu estava em Gramado, recebendo o Kikito. Sempre tenho no bolso uma relação de todos os patrocinadores, mas, naquela hora, apagou tudo da memória, ofereci o prêmio à Joana e puxei um Parabéns a você. Todo mundo cantou junto. Foi uma loucura. Saí de Gramado rapidinho, viajei para Porto Alegre, São Paulo e depois para Santos, onde a Joana mora, e dei o Kikito para ela.

Como surgiu o desejo de ser cineasta?

É uma história breguíssima. Meu pai era metalúrgico e técnico do time de futebol da empresa onde trabalhava, em Taubaté. Mas ele acreditava que, além de jogar, os funcionários deveriam ter mais diversão. Aí ele viajava para Caçapava (cidade vizinha) para buscar o projecionista e um projetor. Eu tinha uns 6 anos e acompanhava meu pai. Ficava no banco de trás do carro olhando aquela caixa do projetor. Ao chegarmos na quadra do clube, meu pai esticava um lençol, o projecionista arrumava as bobinas e, de repente, aquilo tudo virava aquilo que a gente chama de filme. Eu via aquilo, a reação das pessoas, mas sabia que era mentira, que estava tudo dentro daqueles rolos. Essa história eu só resgatei recentemente. Cheguei até a pensar que eu estava inventando tudo isso na minha cabeça, mas a minha mãe e meu irmão confirmaram tudo. Putz, só podia me tornar um cineasta, né? Ou jogador de futebol, que era o meu desejo, mas minha mãe não deixou. Felizmente, porque agora, aos 42 anos, eu já teria me aposentado e estaria fazendo merda na periferia.

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