A soma das pessoas

Entre uma versão anti-Serra e uma versão pró-Dilma, a capa final optou pelo fato: O Brasil mudou “É legal ver a família, vizinhos e amigos dizendo que se sentem representados […]

Entre uma versão anti-Serra e uma versão pró-Dilma, a capa final optou pelo fato: O Brasil mudou

“É legal ver a família, vizinhos e amigos dizendo que se sentem representados naquilo que eu fiz, no jeito de falar, vestir, nas pequenas coisas. Isso não acontece nas novelas nem em outros filmes. Eu estava cansado de sentar em frente à televisão e receber luz. Eu queria mudar de lado e reluzir.”

O depoimento é de Cadu Barcellos, morador do Complexo da Maré, zona norte carioca, e diretor de um dos cinco episódios de “5x Favela, Agora por Nós Mesmos”, produzido por Cacá Diegues e inspirado no clássico filmado em 1961. Na época jovens de classe média e integrantes do Centro Popular de Cultura, o CPC da União Nacional dos Estudantes (UNE), eles queriam levar ao público um choque de realidade, mesmo sem pertencer a ela.

Agora, quem faz o filme são moradores dessas favelas, formados em suas comunidades. Entre a versão original e a atual, correu meio século. O Brasil passou por 25 anos de autoritarismo comandado por militares, e outros tantos de mediocridade comandada por economistas com a cabeça em Washington, berço da teoria abatida pelas recentes crises.

É sabido que o país precisa melhorar a saúde, a reforma agrária, os sistemas político e tributário, o modelo de desenvolvimento sustentável, democratizar o acesso ao conhecimento e à informação. Mas o Brasil de hoje não é obra de ficção, nem é mera coincidência ter escapado ileso a essas crises mundiais.

Une democracia, crescimento e distribuição de renda, desponta como liderança numa nova ordem social global e comprova que: o Estado não é estorvo, mas alicerce dessa nova ordem; um governo que dialoga com movimentos sociais dá voz a quem conhece o chão onde pisa; semear empregos e melhores salários é garantir que o bolo cresça; proporcionar renda aos mais pobres via políticas sociais não é caridade, mas oportunidade para que mais brasileiros saboreiem o bolo.

A Rede Brasil Atual acredita nesses avanços e na capacidade do Brasil de continuar buscando conquistas ainda não alcançadas. E vê na candidatura de Dilma Rousseff coerência com esse projeto, conforme demonstram algumas páginas desta edição.

Nossa capa poderia ser hostil, do contra, comum em certas publicações semanais. Ou afirmativa, legítima, explicitando uma posição. Porém, como de hábito, optou por destacar personagens que não são situação nem oposição, apenas retratam com suas histórias de vida uma face desse novo Brasil.

Diz Cacá Diegues que seu companheiro Leon Hirszman (1937-1987), idealizador do primeiro “5x Favela”, onde quer que esteja, estará feliz com a atual versão de sua obra: “Leon sempre foi um congraçador que trabalhou pela solidariedade e pela soma das pessoas”. É isso. A solidariedade e a soma das pessoas são também a nossa missão.