Sargento artista e arteiro

(Foto: Marina Duarte de Souza) A dificuldade de trabalhar com cultura fez com que James­ Frank de Assis Lopes, 32 anos, escolhesse o Exército como opção profissional. Mas o caminho […]

(Foto: Marina Duarte de Souza)

A dificuldade de trabalhar com cultura fez com que James­ Frank de Assis Lopes, 32 anos, escolhesse o Exército como opção profissional. Mas o caminho militar não impediu que o palhaço-ator parasse de acreditar no potencial da arte de transformar cidadãos e de trazer alegria. Fã de Elisa Lucinda, viu nessa poeta e atriz capixaba que conheceu na época do colégio, inspiração para seguir os primeiros passos no teatro – que escolheu como linguagem e instrumento para provocar a autoestima das pessoas. Com um grupo de dez amigos artistas e arteiros, levava diversão a orfanatos, hospitais, asilos.

Com uma mania inquieta de querer agitar o ambiente, James desmonta a frieza do estereótipo militar, carreira que escolheu seguir no final da adolescência, e incorporar os ofícios de pianista, palhaço, ator, atleta. Vestiu a farda, mas não tirou o nariz. Hoje é sargento e trabalha no setor administrativo do 24º Batalhão de Caçadores de São Luís (MA), onde é responsável por eventos, passeios e colônia de férias, pois também é formado em Turismo.

James costuma levar Azulão, seu personagem da adolescência, nas ações de que participa com o Projeto Rondon. O projeto, criado em 1967, tinha o propósito de integrar universitários a ações sociais acompanhadas pelo Exército – e ao mesmo tempo mantê-los longe das manifestações e das organizações contrárias à ditadura. Foi assim até 1989. Em 2005, a pedido da União Nacional dos Estudantes (UNE), foi retomado pelo Ministério da Defesa, então chefiado pelo vice-presidente, José Alencar. De cara nova, a proposta é envolver os universitários em ações voltadas ao estímulo da participação, da inclusão social e da promoção da cidadania em municípios do Norte e Nordeste com baixo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH).

As mais recentes operações ocorreram agora em julho em Pernambuco, Rondônia e Maranhão. James foi o “anjo”, o militar encarregado de acompanhar o grupo de estudantes em seu estado, e permaneceu duas semanas com 14 estudantes em Nina Rodrigues, cidade do interior maranhense com aproximadamente 12 mil habitantes. As obrigações eram dar apoio logístico e supervisionar o grupo. Diante do grande número de crianças encontradas na visita, os estudantes ganharam reforço nas atividades culturais, e o sargento, a chance de reviver Azulão. James quer criar uma ONG para expandir essa “promoção da alegria” pelo Maranhão adentro, e quem sabe pelo Brasil. Parece movido por um sonho solidário do artista sob farda.