Carta ao Leitor

Nada acontece por acaso

Valter Campanato/ABr Manifestações como as de agosto, em Brasília, servem para influenciar decisões do Estado A injeção de quase meio trilhão de dólares por parte de bancos centrais – da […]

Valter Campanato/ABr

Manifestações como as de agosto, em Brasília, servem para influenciar decisões do Estado

A injeção de quase meio trilhão de dólares por parte de bancos centrais – da Europa e América do Norte – em socorro aos mercados em pânico, recentemente, prova que o mercado especulativo não é movido pela razão e que governos têm, sim, de intervir na economia. Essas lições da atual crise financeira, observadas em artigo de Bernardo Kucinski, são algumas das formas de verificar o papel do Estado na vida das pessoas. Por mais que os ideólogos do liberalismo tenham tentado abolir as funções do Estado no funcionamento das sociedades, o poder público é que indica seus rumos. Na economia do Japão ou da China, nas guerras colonizadoras ou no flagelo dos colonizados, no grau de autonomia ou de dependência das nações.

Como se poderá verificar ao longo desta edição, da gestão pública resultam conseqüências como o trânsito caótico, poluidor e assassino de São Paulo ou a qualidade de vida de Porto Alegre. Se foi a estratégia de Estado o que gerou a desigualdade no Norte do Brasil, só ela poderá reverter a situação, promover o desenvolvimento e a integração. O Estado pode proporcionar o acesso das pessoas com deficiência ao trabalho, ao esporte ou aos serviços de sua cidade – ou segregá-las.

Não será obra do deus-mercado ou da livre-iniciativa a criação de oportunidades de geração de renda e de emancipação dos povos do sertão miserável historicamente esquecido. Nem foi resultado do acaso a agressão às democracias do Brasil e do Chile, em 1964 e 1973. Uma administração pública pode assistir passivamente aos conflitos que travam seu Poder Judiciário. Ou pode, como em Diadema e Olinda, preparar seus cidadãos para mediar conflitos, incentivar o diálogo e cultivar a paz.

E se é verdadeiro que o Estado interfere diretamente na vida das pessoas, para o bem ou para o mal, também é fato que a participação das pessoas na política de sua cidade, seu estado e seu país pesa muito nas ações dos governantes. O exercício da democracia não se esgota no processo eleitoral. Os rumos que queremos para nossa vida também podem ser decididos pela vigilância e pela pressão social sobre os eleitos.