Carta ao Leitor

Encurtar as distâncias

paulo pepe Luís João, 36 anos, afastado do trabalho por causa do câncer: exposição a produtos tóxicos No momento em que estudantes ocupavam uma universidade em defesa de sua autonomia, […]

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Luís João, 36 anos, afastado do trabalho por causa do câncer: exposição a produtos tóxicos

No momento em que estudantes ocupavam uma universidade em defesa de sua autonomia, os jornais escondiam que uma Secretaria de Turismo mudara de nome para Secretaria de Ensino Superior – resolvendo-se por decreto, sem papo, algo que deveria ser conduzido por lei. Impressiona que tamanho absurdo do governo de São Paulo não tenha virado escândalo nem manchete. É o que explica, nesta edição, o jurista Dalmo Dallari.

A apuração sobre o câncer ocupacional, que você verá à página 20, registrou uma curiosa coincidência. No dia em que atendeu a reportagem da RdB – que queria saber por que é dificultado a um funcionário estabelecer o nexo entre sua doença e a nocividade de seu ambiente de trabalho –, a assessoria de imprensa de uma das empresas receberia a equipe de uma emissora de TV para uma matéria sobre seus investimentos e cuidados em relação à proteção do meio ambiente. Dois veículos, dois mundos.

É por isso que nem sempre meios de comunicação, poder e opinião pública falam a mesma língua e abre-se um distanciamento entre esses atores. Falta sintonia. Esse fenômeno ocorreu de forma acentuada na eleição do ano passado. E o distanciamento, revelam pesquisas, continua. Atrapalha o crescimento da consciência de cidadania.
O desafio do jornalismo diferenciado é justamente ir ao encontro da sintonia que falta. E as manifestações de carinho e aprovação dos leitores nos indicam que é este o caminho: buscar um conteúdo que preencha esse vazio da mídia e expandir os debates em torno dos consensos possíveis. O crescimento econômico, por exemplo, é um deles, reconhecido por oposição e situação e visível em todos os cantos. Desde a geração de empregos formais até os efeitos na poluição e no meio ambiente. Outro consenso, que vai do jurista Dalmo Dallari aos movimentos sociais e sindicais, é de que o Brasil está mudando, mas que é preciso muito mais.

E, graças a esse leitor diferenciado que se manifesta, a revista tem ganhado saudáveis problemas – começa a represar pautas e assuntos reclamados e, conseqüentemente, a conviver com a necessidade de mais páginas e menor intervalo de circulação. Assim está a Revista do Brasil, a sangue quente.