Nuestra América

A variedade da música latina do Iroko Trio no programa ‘Hora do Rango’

Composto por Carla Rincón (violino), Elodie Bouny (violão) e Marcelo Caldi (sanfona), trio explora ao máximo os arranjos e os limites técnicos de cada instrumento

Bel Junqueira/Divulgação

Obras dos compositores Carlos Aguirre, Luis Laguna e Heitor Villa-Lobos integram o repertório do Iroko Trio

São Paulo — O Hora do Rango desta quarta-feira (20) apresenta a música versátil e contemporânea do Iroko Trio. O grupo transita com maestria por uma ampla obra musical da América Latina, misturando composições autorais com clássicos latino-americanos. 

Nessa pegada, o trio cria espaço para peças imponentes como Danzón Nº 2, de Arturo Márquez, e intimistas, como Memória e Fado, de Egberto Gismonti. Os arranjos exploram a profundidade e a amplitude de cada um dos instrumentos, indo quase ao seu limite técnico.  

Iroko Trio é composto por Carla Rincón (violino), Elodie Bouny (violão) e Marcelo Caldi (sanfona), três instrumentistas com brilhantes carreiras individuais, cujas trajetórias cosmopolitas se conectam e contrapõe com maestria a concepção erudita às formas populares.  

O que já rolou 

Diz a lenda que Carcaju é uma mulher que recolhe ossos de lobas mortas e entoa cantos sobre eles a fim de curar o que está doente ou precisa de restauração, fazendo-as renascer em forma de mulher. A história, contada no livro Mulheres que Correm com os Lobos, de Clarissa Pinkola Estés, foi a inspiração para o nome da banda Carcaju, que participou do programa Hora do Rango de terça-feira (19).   

“Todo o meu cantar tem a ver com algo sagrado pra mim, então, no momento em que estava lendo essa obra, a lenda que guia todo o processo do livro me despertou muito interesse”, explica a vocalista Claudia Nishiwaki Dantas. Além dela, o grupo é composto por Felipe Rezende (bateria), Pedro Canales (baixo), Ivan Liberato (violão e backing vocals), e Rodrigo Passos (guitarra e vocal).  

O grupo se prepara para lançar o primeiro álbum, também chamado Carcaju, viabilizado por meio de financiamento coletivo e finalizado em outubro de 2018. O álbum traz como espinha dorsal o feminino e as várias formas como ele se manifesta pelo sagrado, o desejo, a maternidade e o meio urbano. São 10 canções, com uma mescla de gêneros e ritmos da música popular brasileira, guitarra elétrica distorcida, violão acústico, batuques e linhas de baixo elaboradas, dialogando com o rock progressivo e a cultura pop.  

“As principais mensagens desse trabalho são a do despertar, como ser e se tornar mulher e compreender o meio que nos envolve”, diz Claudia. Segundo ela, foi no processo de produção do disco que começou a compreender a si mesma, instintivamente, sem o filtro social que molda a mulher contemporânea. “As letras expressam a minha essência mais primordial, de mulher selvagem.”  

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Fora da caixinha 

O Hora do Rango abriu a programação semanal segunda-feira (18) com a sonzeira do grupo Francisco, El Hombre, que apresentou seu novo álbum, Rasgacabeza, um trabalho que, segundo a própria banda, “não é de meios termos, nem de meias palavras”.   

“Ora soa freak, ora soa punk, ora soa do jeito que tem que soar – fora da caixinha de definições pré-estabelecidas – para fazer reverberar a proposta da banda de expurgar vivências, urgências e o que mais estiver entalado por meio de canções”, explica o grupo formado por Juliana Strassacapa, Mateo Piracés-Ugarte, Sebastián Piracés-Ugarte, Andrei Martinez Kozyreff e Rafael Gomes.  

Sucessor do álbum Soltasbruxa (2016), que levantou questões sociopolíticas, feministas e de igualdade, Rasgacabeza procura manter um discurso latente, com uma linguagem mais eletrônica e tons mais agressivos. As músicas trazem o caos urbano como premissa estética e procuram cutucar feridas abertas. O álbum começa com a música Chama adrenalina: gasolina, seguido pela faixa Chão teto parede: pegando fogo.  

“O Brasil estava em uma situação política muito tensa e queríamos que tudo inflamasse”, recorda-se Sebastián. “É um pouco niilista o pensamento de que tem que queimar tudo para que então ressurja, mas, no calor do momento, era o que a gente estava vendo como solução”, complementa. 

Produzido pelos irmãos Mateo e Sebastián Piracés-Ugarte, junto aos demais integrantes da Francisco, el hombre, Rasgacabez foi gravado pela própria banda, boa parte em meio às turnês pelo Brasil e pela América Latina. Uma caixa foi captada em Santiago, no Chile; um beat foi registrado no avião; uma guitarra gravada em Goiânia. Parte do trabalho foi feito no estúdio Costella com Alexandre Capilé, enquanto a mixagem ficou por conta de Pedro Garcia, baterista do Planet Hemp. A masterização é de Fernando Sanches, do estúdio El Rocha. 

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