'Entre Vistas'

José Dirceu defende integração sul-americana e olhar do Brasil para a China

Em entrevista ao jornalista Juca Kfouri, da TVT, ex-ministro falou sobre desenvolvimento nacional e política externa

ricardo stuckert
ricardo stuckert
"Temos a China, que caminha para ser a maior potência do mundo. Temos a Índia, a Rússia, o Irã, a Indonésia e o próprio Brasil. Vem aí a Nigéria também."

São Paulo – O ex-ministro-chefe da Casa Civil José Dirceu concedeu entrevista ao jornalista Juca Kfouri, no programa Entre Vistas, da TVT. O material foi ao ar na noite de ontem (26). Em pauta, temas como política externa e desenvolvimento nacional. Dirceu defendeu que o Estado brasileiro assuma papel de liderança em um novo contexto geopolítico, em que há potências emergentes e o rompimento da estrutura imperial norte-americana.

“O mundo mudou. É verdade que os EUA são a maior potência militar, tem dólar e controle da cultura. Mas estamos em outro mundo. Evidente que há uma decadência do poder imperial dos Estados Unidos. Não é uma república, nem democracia. É um império plutocrata. Cada dia mais antidemocrático”, defendeu. Para o petista, é essencial traçar novas rotas em um novo mundo. “Temos a China, que caminha para ser a maior potência do mundo. Temos a Índia, a Rússia, o Irã, a Indonésia e o próprio Brasil. Vem aí a Nigéria também.”

Queda do império

Ao prosseguir em suas críticas ao modelo norte-americano, Dirceu lembrou do histórico de violência que circunda a história daquele país. Tradição que continua nos dias atuais, em uma “guerra por procuração”, de acordo com o ex-ministro, a partir do investimento massivo em armas para a Ucrânia contra a Rússia. “A Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) não tem o peso do passado. O Brasil tem todas as condições de navegar em um mar diferente”, sentencia.

Entre esses “mares diferentes”, para Dirceu, destaque para o Pacífico. “Temos que observar a realidade concreta econômica. Todos países da América do Sul têm como principal investidor a China. Portanto, a logística vai se mover para o Pacífico. Se observar Roraima, Rondônia, paraná, Santa Catarina, a logística começa a se mover. Precisamos pensar em um projeto de integração de infraestrutura e um projeto de integração científico, tecnológico, político, social. É preciso o Brasil voltar a exportar tecnologia e serviço.”

América Latina

A integração nacional latino-americana, com especial protagonismo brasileiro, pode ser destaque nesta nova costura global. “Temos a integração sul-americana fundamental. São 400 milhões de habitantes. O Brasil pode sim construir um projeto de desenvolvimento nacional. Tem as bases para isso. Somos potência energética, alimentar. O Brasil tem indústria de base. Precisa de projeto e forças políticas e sociais que sustentem.”

Primeiramente, caberá ao Brasil, de acordo com Dirceu, rever tratados e parcerias com finalidade de desenvolvimento. “Rompemos relações com a Venezuela que sofreu sanções. Mais pandemia e queda do preço do barril de petróleo, uma crise sem precedentes. Cuba tem um ativo que é Mariel. Um porto de águas profundas. O Caribe tem 50 milhões de habitantes e 50 milhões de turistas. A Venezuela tem 328 bilhões de barris de petróleo e deve 1 bilhão de dólares ao Brasil. Um dos países mais ricos do mundo. Se não reestabelecermos relações com a Venezuela, a Colômbia vai tomar nosso espaço”, disse.