Dívida social

Governo de transição: PEC do Bolsa Família blindará programa contra teto de gastos

Gleisi afirmou ser consenso dos partidos proposta de retirar do teto de gastos os recursos do Bolsa Família a R$ 600. Demais investimentos sociais estarão na discussão do orçamento

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"Nosso entendimento nessa reunião foi muito bom, de que esse programa seja excepcionalizado"

São Paulo – O conselho político do governo de transição de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) definiu que a proposta de emenda à Constituição (PEC) discutida para abrir espaço no orçamento de 2023 deve excluir todo o recurso do programa Bolsa Família do teto de gastos. Aprovado pelo governo de Michel Temer (MDB), o mecanismo limitou investimentos sociais por 20 anos. O objetivo do futuro governo é agora garantir a manutenção do benefício em R$ 600, uma das promessas de campanha do presidente eleito.

A decisão foi tomada nesta sexta-feira (11) pelos 14 partidos políticos que formam o grupo, e anunciada pela presidenta do PT, a deputada federal Gleisi Hoffmann (PR). “Precisamos ter a PEC do Bolsa Família. Não é a PEC de Transição, é PEC do Bolsa Família. Nós queremos que esse programa seja excepcionalizado”, destacou. 

Foi a primeira vez que o conselho, integrado por PSB, PT, Solidariedade, PV, Psol, PCdoB, Rede, Agir, Pros, Avante, PDT, PSD, MDB e Cidadania, se reuniu no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), em Brasília. A presidenta do PT também confirmou que os demais investimentos sociais prometidos pela campanha de Lula, como aumento real do salário mínimo, continuidade do programa Farmácia Popular, entre outros investimentos sociais, terão sua recomposição discutida no âmbito do orçamento do próximo ano. 

Compromisso

O objetivo é evitar um apagão social, já que essas demandas não foram previstas pelo governo derrotado de Jair Bolsonaro (PL). Ao contrário, a proposta de orçamento para 2023, encaminhada ao Congresso pelo Executivo, em agosto, prevê apenas o Auxílio Brasil no valor de R$ 405 e cortes severos nas áreas sociais. Durante a campanha eleitoral, Bolsonaro prometeu, no entanto, que manteria o benefício em R$ 600, após a campanha de seu adversário divulgar também essa proposta. 

A promessa, contudo, foi lembrada na reunião do conselho político de hoje para destacar a necessidade da medida. “Ou seja, nós oferecemos um programa à população, que é tirar o povo da miséria, garantir o Bolsa Família de R$ 600, o salário mínimo e as propostas mais emergenciais para tirar o povo brasileiro desse sufoco. E nós fizemos a avaliação de que essas propostas foram apresentadas pelas duas candidaturas que disputam a presidência da República. Então a gente pode dizer com muita tranquilidade que 100% dos eleitores que votaram para presidente da República aprovaram isso”, frisou Gleisi. 

Espanto com o mercado

Durante a entrevista, os partidos também disseram ter recebido com “espanto” a reação do mercado financeiro às indicações sobre a futura gestão econômica do Brasil. Como já vinha prometendo na campanha eleitoral, o presidente eleito confirmou nesta quinta que dará prioridade às políticas sociais, em especial o combate à fome.

O anúncio, no entanto, soou negativo para o mercado especulativo. Houve alta de 4,14% no dólar, a R$ 5,39, e a Bolsa teve recuo de 3,35%.

Para Gleisi, houve um movimento especulativo, que prejudica o país. “Eu não sei o que o presidente Lula falou que pudesse fazer uma variação tão grande do sentimento do mercado. Aliás, hoje todos os indicadores de dólar já voltaram à normalidade. O mercado não tem o que se preocupar. Conhece quem é Lula, sabe como ele trabalha com as finanças públicas, a responsabilidade que tem e também conhece o compromisso social que ele tem. Ele falou isso durante a campanha inteira, que tinha o compromisso de acabar com a fome, de gerar emprego e de fazer desenvolvimento social. Então por que o espanto?”, afirmou a parlamentar. 

Ela ainda destacou que a responsabilidade fiscal e social estarão alinhadas, mas enfatizou que o governo Lula não abrirá mão da social. “Estamos falando da vida das pessoas, da sobrevivência delas. Por isso que o nosso entendimento nessa reunião foi muito bom, que precisamos ter a PEC do Bolsa Família”, completou. 

Agenda da transição

O conselho político volta a se reunir na próxima quinta (17). Ao lado dos demais 31 grupos técnicos nomeados nessa transição, ele deve apresentar um relatório de diagnóstico do país até 10 de dezembro para o vice-presidente eleito, Geraldo Alckmin (PSB), que coordena as equipes. O documento deve detalhar os principais problemas da máquina pública e analisar os contratos, decretos e portarias em andamento, para propor medidas emergenciais.

A presidenta do PT também anunciou que deve iniciar conversas com o União Brasil. A equipe de transição deve ainda ganhar mais nomes nos próprios dias. Nesta sexta, saíram as nomeações da ex-ministra do Planejamento Miriam Belchior e do ex-procurador-geral de Justiça de São Paulo Márcio Elias Rosa como novos integrantes. A ex-ministra atuará como assistente do coordenador dos grupos técnicos, Aloizio Mercadante. Já Rosa será assessor jurídico de Alckmin na transição.

A apresentação do texto da PEC também deve ficar para a próxima semana. O senador eleito Wellington Dias (PT-PI), coordenador da área de orçamento, afirmou hoje que ainda não está definido se as regras estabelecidas na proposta serão permanentes ou se terão duração de apenas um mandato. Ainda segundo ele, a medida deverá ser fruto de um entendimento junto com a Câmara e o Senado. 


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