Por governabilidade, Lula fala com Lira e governo tenta resolver ‘compromissos pendentes’
A jornalistas, em tom ameaçador, Arthur Lira diz que, “se o resultado da votação for positivo, todos os louros para o líder do governo, Zé Guimarães; se for negativo, a culpa é do governo”
Publicado 31/05/2023 - 19h03

São Paulo – A expectativa para a votação da Medida Provisória 1154 (a MP dos Ministérios), que reorganiza a estrutura da Esplanada no governo de Luiz Inácio Lula da Silva, segue alta, diante de um cenário de incerteza e correria do Planalto para “desenrolar pendências de compromissos” que ainda não foram cumpridos por parte do governo. Esses compromissos são emendas parlamentares não pagas a deputados e lentidão na nomeação para cargos do segundo e terceiro escalões.
O presidente Lula ligou para o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), nesta quarta-feira. Um encontro presencial não foi confirmado até o momento, mas o deputado teria alertado o chefe de governo de que o risco de derrota é grande.

No início da noite, entre uma reunião e outra, Lira falou com jornalistas. Com semblante tenso, reclamou de “falta de atendimento e de atenção” por parte do governo. “Não posso nem vou ser responsável por um resultado (da votação) ser positivo ou negativo. Se for positivo, todos os louros para o líder do governo, Zé Guimarães, que tem sido um herói, bravo, lutando para que as coisas aconteçam. Se for negativo, a culpa é do governo”, declarou.
O termo “pendências de compromissos” foi usado por um deputado do PT à RBA, sobre os motivos da reclamação contra o governo, que “é geral” na Casa. Mesmo deputados do partido do presidente não têm recebido valores das emendas. No caso das siglas de centro e mesmo de direita que, em tese, são da base governista, há deputados “muito à direita” que não entram na equação do Planalto.
“Esses já não votam mesmo, não entram na conta”, calcula o parlamentar. “Mas no caso de quem é da base, os deputados dessas siglas que votam com o governo reclamam de coisas concretas”, afirma o parlamentar, sobre emendas e cargos.
Da base, pero no mucho
União Brasil, PSD e até MDB, que têm ministérios no governo Lula 3, votaram majoritariamente contra o Planalto no projeto de lei do Marco Temporal das terras indígenas.
Quanto à MP dos Ministérios, o PT só pretende ir à votação “com a segurança de que o governo vença”, disse uma deputada da legenda. As negociações seguem e a votação deverá ocorrer na noite de hoje. Depois, a MP seguiria ao Senado. O texto precisa ser votado nas duas Casas do Congresso antes do término do prazo. À meia-noite de quinta (1º) para sexta-feira (2) a MP 1154 perde a validade.
Segundo a Folha de S. Paulo, o governo liberou às pressas, a partir de ontem (30), R$ 1,7 bilhão em emendas parlamentares para evitar a derrubada da MP, o que faria com que a estrutura da Esplanada dos Ministérios volte a ser a mesma do governo Bolsonaro.
Articulação falha
As falhas de articulação existem e não são “intriga da oposição” ou da “mídia tradicional”. Mas o deputado Rogério Correia (PT-MG) minimiza as avaliações de que Lula está devendo, que não fez sua parte e precisa de fato “entrar no jogo”. “A ordem o Lula já deu, que se cumprissem os acordos feitos. Desde a crise na votação do marco do saneamento, quando o pessoal deu o recado, Lula reuniu a turma e disse que era pra cumprir acordo”, lembra.
“Agora, tem que ver o que é que emperrou dentro do governo. Eu acho que é mais desarticulação, desarticulação de não funcionamento da máquina ainda, que tem que ser consertada”, complementa Correia.
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