Por aliança com PSOL, PV terá de abrir mão de tucanos e democratas

Presidente estadual e deputado do partido de Heloísa Helena afirmam à Rede Brasil Atual que alianças atuais do Partido Verde são inaceitáveis e devem fazer parte do passado se Marina Silva quiser apoio do PSOL

As ex-petistas reuniram-se na terça-feira em Brasília para debater a possibilidade de aliança entre PSOL e PV, mas agora devem convencer seus colegas de siglas sobre as vantagens da união (Foto: Fábio Rodrigues Pozzebom. Agência Brasil)

O PV terá de abrir mão das alianças com PSDB e DEM para fechar a união com o PSOL nas eleições do próximo ano. Até agora, a coligação caminha muito mais pela vontade da pré-candidata do PV, Marina Silva, e da presidente do PSOL, Heloísa Helena, do que por aspirações de ambas as siglas.

Na terça-feira (24), as ex-petistas iniciaram conversas sobre a possível união em 2010, mas a Executiva Nacional do PSOL apresentou cinco condições que o PV deve atender: independência política, com candidaturas próprias nos estados, mudança da política econômica, defesa das demandas sociais, defesa da integração e da soberania da América Latina e fortalecimento do Estado.

A condição primordial, de acordo com integrantes do PSOL ouvidos pela reportagem, é a independência política. Atualmente, o PV tem alianças com democratas e tucanos na capital paulista, entre outras cidades e estados, e pretende apoiar Joaquim Roriz, atual PSC, na candidatura ao Distrito Federal.

“Se o PV quiser marchar com o PSOL, evidentemente vai ter de considerar as opções que ao longo da história tem feito como coisa do passado. O que reivindicamos é que as candidaturas vinculadas à da Marina tenham independência tanto ao bloco PMDB-PT quanto ao bloco PSDB-DEM”, afirma Roberto Robaina, presidente do PSOL no Rio Grande do Sul e integrante da Executiva Nacional.

O deputado federal Chico Alencar (RJ) considera que o quadro está indefinido e que será preciso realizar muitos debates com as bases da sigla até a conferência eleitoral de março do próximo ano, quando o PSOL vai fechar seus nomes nas disputas para presidência, Câmara, Senado e assembleias legislativas.

A princípio, a intenção do partido era o lançamento de Heloísa Helena à disputa pelo Planalto, fato que ficou claro no congresso nacional da legenda realizado em agosto em São Paulo. Na ocasião, no entanto, a vereadora por Maceió preferiu deixar todas as possibilidades em aberto, e não escondeu que a verdadeira intenção é disputar o Senado por Alagoas, tendo a possibilidade de concorrer com o desafeto Renan Calheiros (PMDB).

Agora, a candidatura ao Senado é dada como certa, e basta definir se o PSOL terá nome para concorrer à presidência ou não. Existe a alternativa de uma candidatura de caráter simbólico com o professor Plínio de Arruda Sampaio, que em 2006 concorreu ao governo de São Paulo.

Chico Alencar chama de “baque” a decisão de Heloísa Helena de não disputar a presidência, lembrando que a presidente do PSOL estava muito bem posicionada nas pesquisas, com até 12% das intenções de votos. O deputado aponta, no entanto, que a decisão da colega é respeitada pelos quadros internos, e que a verdadeira discussão vai se dar em torno da aliança.

Classificando de inaceitáveis as relações do PV em alguns estados, o parlamentar adverte que a extensão da parceria em nível regional é muito difícil. “O PV deve entender também que o discurso ambiental, por mais forte que seja, não pode estar isolado das questões econômicas e políticas”, afirma.

O lado do Partido Verde

Se gera dúvidas e pedidos por parte do PSOL, a aliança é vista com ceticismo do lado do PV. A proximidade ideológica entre Marina Silva e Heloísa Helena não se reflete nas relações entre as duas siglas, a ponto de o vice-presidente do PV, Alfredo Sirkis, ter declarado recentemente que não acredita na união.

Em conversa com a Reuters, o vereador no Rio de Janeiro apontou que o PSOL está na extrema-esquerda, ao passo que o PV, na visão dele, ocupa a centro-esquerda. “Não acho viável. O PSOL tem simpatia pelo chavismo e pelo populismo”, disse.

Na próxima semana, comissões formadas pelos dois partidos reúnem-se para continuar as conversas em torno de um possível programa de governo. Caso as condições apresentadas pelo PSOL sejam atendidas, as negociações serão levadas para decisão de cada um dos partidos.