PRESENTES SUSPEITOS

Bolsonaro era próximo a governo saudita e Emirados Árabes Unidos

Foram 151 viagens de representantes do governo do Brasil para terras sauditas em apenas quatro anos, quase cinco vezes mais do que período anterior. Em Abu Dhabi, amizade era próxima com dono de fundo de investimento que ‘fez a festa’ no Brasil

(Alan Santos/Divulgação PR)
(Alan Santos/Divulgação PR)
Bolsonaro e o príncipe Mohammed bin Zayed, presidente do fundo Mubadala, dos EAU

São Paulo – A Arábia Saudita foi destino frequente de viagens oficiais do governo Bolsonaro. De acordo com levantamento feito pelo Brasil de Fato, representantes do Brasil, sob o mandato do ex-presidente, foram 151 vezes ao país entre 2019 e 2022. O número é quase cinco vezes maior do que as 32 viagens oficiais realizadas nos três anos anteriores, entre 2016 e 2018, período de Michel Temer. A proximidade de Bolsonaro com o mundo árabe não se restringiu aos sauditas, já que ele também teve bom trânsito em Abu Dhabi, nos Emirados Árabes Unidos.

O levantamento do Brasil de Fato, feito com base em dados do Portal da Transparência, mostra que logo no primeiro ano do mandato de Bolsonaro, em 2019, foram 82 viagens. No ano seguinte, mais 23 e, em 2022, outras 40. Em 2021, ano marcado por restrições de circulação internacional causadas pela pandemia da covid-19, seis viagens foram registradas. No total, foram gastos cerca de R$ 2,2 milhões contra R$ 539 mil das 32 missões realizadas entre 2016 e 2018.

Coincidentemente, ou não, foi dos sauditas que Bolsonaro recebeu um presente no valor de R$ 16,5 milhões destinado para a então primeira dama Michelle Bolsonaro. Os ‘mimos’, um par de brincos de diamantes, um colar e um anel, supostamente enviados em 2019 pelo príncipe herdeiro da Arábia Saudita, Mohammed bin Salman, ficaram retidos na Receita Federal por não terem sido declarados na entrada ao país, configurando irregularidade. A legislação brasileira obriga a declaração de bens mais valiosos que US$ 1 mil, cerca de R$ 5,2 mil. Assim, as joias foram retidas no Aeroporto Internacional de Guarulhos e assim ficaram apesar das insistentes tentativas de Bolsonaro para liberá-las. Chegou a mover três ministérios para isso, sem sucesso.

Fundo Mubadala

Além da Arábia Saudita, os Emirados Árabes Unidos foram destino de viagem oficial do governo Bolsonaro. Em novembro de 2021, em sua segunda viagem oficial pelo país, o clã Bolsonaro fez questão de deixar claro o clima amistoso entre o ex-presidente e o príncipe herdeiro de Abu Dhabi, o sheik Mohammed bin Zayed. Na ocasião, pelo Twitter, Eduardo Bolsonaro disse que seu pai e o sheik “mais pareciam bons amigos se revendo”, acrescentando que a “relação amistosa” entre ambos era positiva para o Brasil, pois se convertia em investimentos árabes no país. O deputado citou o fundo Mubadala, que tem sede nos Emirados Árabes Unidos e do qual o sheik Zayed é o presidente.

O Mubadala é o fundo soberano de Abu Dhabi e reúne reservas de capital usando esses recursos em investimentos. Na ocasião, tinha cerca de US$ 243 bilhões (cerca de de R$ 1,3 trilhão no câmbio atual) investidos em mais de 50 países e vinha aumentando seus aportes no Brasil. Comprava ativos a preços baixos e crescia enquanto a economia brasileira patinava. Ainda naquele mesmo mês de novembro de 2021, poucos dias antes do amigável encontro entre Bolsonaro e Zayed, o fundo anunciou a aquisição do controle da concessionária Metrô Rio. Antes disso, em 2019, já havia comprado parte do controle da Rota dos Bandeirantes, rodovia pedagiada em São Paulo, que pertencia à Odebrecht.

Preço de banana

Mas a cereja do bolo do Mubadala no Brasil, sob o governo Bolsonaro, foi a compra da Refinaria Landulpho Alves, na Bahia. A chamada Rlam é a primeira refinaria nacional, criada em 1950, e pertencia à Petrobras sendo capaz de produzir mais de 30 produtos diferentes. O valor do negócio foi US$ 1,65 bilhão, quando, segundo avaliações do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis Zé Eduardo Dutra (Ineep), valia pelo menos o dobro disso, US$ 3,12 bilhões, podendo bater perto dos US$ 4 bilhões. O prejuízo para a população brasileira não ficou nisso, já que, após a compra, a Bahia passou a ter um das gasolinas mais caras do país.


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