Desespero e abuso

‘Eleição comprada’ vira assunto principal nas redes sociais

Depois de crescer apenas um ponto no último Datafolha, Bolsonaro passou a abusar ainda mais de medidas eleitoreiras que injetam bilhões de reais para tentar comprar o voto do eleitor

Divulgação/Facebook
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Assim como em relação à máquina de fake news bolsonarista, instituições se omitiram ou agiram tardiamente para conter abusos do candidato à reeleição

São Paulo – Após três anos e meio de um governo desastroso, o presidente Jair Bolsonaro (PL) agora abusa da máquina pública para tentar garantir a sua reeleição. Atrás nas pesquisas, o candidato da extrema-direita vem fazendo jorrar recursos públicos com o objetivo de angariar votos na reta final das eleições. Parte dos eleitores, no entanto, percebem a manobra eleitoreira. Assim, o termo “Eleição Comprada” foi parar entre os assuntos mais comentados do Twitter nesta quinta-feira (20).

A farra começou, ainda no final de 2019, com o chamado orçamento secreto. Assim, deputados e senadores que recebem recursos através das emendas de relator atuam nas bases em apoio ao atual presidente. Cooptados, os parlamentares aprovaram, em julho deste ano, a chamada PEC das Bondades. O governo Bolsonaro garantiu, assim, a ampliação do Auxílio Brasil para R$ 600 às vésperas do início da campanha. Também ampliou o vale-gás e antecipou auxílios para caminhoneiros e taxistas. Quase concomitantemente, a base do governo também aprovou o teto do ICMS sobre serviços essenciais, que fez cair artificialmente os preços dos combustíveis.

Entre as medidas mais recentes estão o empréstimo consignado para os beneficiários do Auxílio Brasil. Só a Caixa Econômica Federal já liberou R$ 1,8 bilhão em crédito para 700 mil pessoas somente na semana passada. Já nesta segunda (18), o Conselho Curador do FGTS aprovou o uso de recursos futuros do fundo para financiamento imobiliário para trabalhadores com renda familiar mensal de até R$ 2,4 mil.

Irresponsabilidade e desespero

O candidato da coligação Brasil da Esperança à Presidência da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), tem denunciado reiteradamente os abusos com dinheiro público cometidos pelo seu adversário. Na avaliação da professora de ciência política Mayra Goulart, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com a tentativa de ganhar na base da “eleição comprada”, Bolsonaro inaugurou uma “nova dinâmica”, em termos de utilização da máquina pública para fins eleitorais.

“Estamos lidando com alguém que está deliberadamente cometendo abuso de poder político para vencer a eleição, despejando na sociedade um conjunto absurdo de recursos que são tirados de outras políticas públicas e arremessados na sociedade, sem nenhuma articulação com qualquer projeto de desenvolvimento”, afirma a professora, em entrevista a Glauco Faria, para o Jornal Brasil Atual, nesta quinta (20).

Ela ainda alerta para efeitos “deletérios” dessas medidas, como no caso do crédito consignado, por exemplo. Isso porque são famílias pobres, que pegam dinheiro emprestado para pagar dívidas e comprar alimentos, na maioria das vezes. Mas o risco que essa medida, travestida de política social, agrave ainda mais a situação de endividamento das famílias. O Ministério da Cidadania estabeleceu o limite de juros de 3,5% ao mês, nessa modalidade de crédito, o que corresponde a 50% de juros ao ano.

Nesse sentido, o Ministério Público, junto ao Tribunal de Contas da União (TCU), pediu suspensão do crédito consignado do Auxílio Brasil pela Caixa. No pedido de medida cautelar, o órgão cita “desvio de finalidade” e uso “meramente eleitoral”. De acordo com o subprocurador-geral, Lucas Rocha Furtado, o “assombroso montante” em crédito já liberado pela Caixa “impõe dúvidas sobre as finalidades perseguidas mediante essa atividade”.

Acirramento da disputa

Apesar da infinidade de recursos que Bolsonaro vem colocando em circulação, ele avançou apenas um ponto percentual, de acordo com pesquisa Datafolha desta quarta-feira (19). Lula aparece com 49% das intenções de voto, enquanto Bolsonaro tem 45%. Considerando apenas os votos válidos – excluindo brancos, nulos e indecisos, o ex-presidente tem 52% e o atual, 48%. Nesse sentido, Lula afirmou hoje que acha “impossível” que Bolsonaro tire essa diferença em uma semana, “mesmo fazendo as loucuras que ele faz e contando a mentira que ele conta”. Ainda assim, esses 10 dias até o segundo turno, no próximo dia 30, serão “eletrizantes”.

Eleição comprada: algumas postagens que denunciam as manobras de Bolsonaro


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