Brasil, terra indígena

Contra o ‘racismo da ausência’, bancada do cocar toma posse na Câmara

Célia Xakriabá (Psol-MG) celebra a chegada dos representantes dos povos originários ao Parlamento. “Reintegração de posse do que é nosso de direito”

Reprodução/Twitter
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Embora diminuta, a "bancada do cocar" pode ser determinante para as questões indígenas

São Paulo – Entre os 513 deputados que tomaram posse de seus mandatos nesta quarta-feira (1º) na Câmara, a chamada Bancada do Cocar representa alento e esperança para os povos originários, que têm na tragédia vivida atualmente pelo povo Yanomami o símbolo maior de seu martírio. A bancada é formada por deputados indígenas ou que têm antepassados indígenas.

“Hoje o Brasil toma posse. A ancestralidade toma posse. E assim, junto das mulheres indígenas, do meu povo e com nossos maracás, começamos esse dia histórico”, disse Célia Xakriabá, eleita pelo Psol de Minas Gerais por meio de suas redes. O grupo tem ainda Juliana Cardoso (PT-SP) e Paulo Guedes (PT-MG). Há também uma representante da direita, a deputada Silvia Waiãpi (PL-AP), que foi secretária de Saúde Indígena na gestão de Jair Bolsonaro (PL), a quem segue manifestando apoio.

Além dos parlamentares que assumiram hoje, a Bancada do Cocar conta com representantes dos povos indígenas que ocupam postos em diferentes instâncias, como secretarias nos governos estados e nos ministérios. Caso, por exemplo, da ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara, também do Psol, que não assume a cadeira por São Paulo já que está licenciada por ter sido nomeada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva ministra dos Povos Indígenas.

“Nunca mais sem nós”

Segundo Célia Xakriabá, a chegada dos representantes dos povos originários ao Parlamento é uma “reintegração de posse do que é nosso de direito”. “Queremos as nossas pautas legitimadas pelo movimento. Pelo nosso povo. Querem tirar o nosso espaço como sempre, mas como disse nossa ministra (Sônia Guajajara), ‘nunca mais sem nós’.”

“No ano em que cria-se o novo e ancestral Ministério, não precisamos de mais colonizadores em nossas pautas. É hora de rompermos o racismo da ausência e assumirmos todos os espaços que são nossos. O chão da luta é o nosso palco. E bolsonaristas não podem protagonizar nossa luta!”

Célia chamou atenção para a pretensão anunciada pela ala bolsonarista de controlar a Frente Parlamentar Indígena e uma possível Comissão dos Povos Indígenas. “Eles querem usurpar para seguir defendendo o garimpo e o passar da boiada. Precisamos nos mobilizar. Diante de tudo que estamos vendo na Terra Indígena Yanomami é um absurdo imenso ainda tentarem disputar nossa pauta”, alertou.

A cura da Terra

Sonia Guajajara discursou durante a posse de hoje: “Nós, mulheres indígenas, somos a cura da Terra! (…) A gente tá aqui lutando hoje pro mundo olhar pra potência que a gente é pra garantir a vida humana no planeta.”

A posse foi prestigiada pelas ministras do Meio Ambiente e da Mudança do Clima, Marina Silva, e da Igualdade Racial, Anielle Franco. E também por lideranças indígenas e ambientalistas.

A pauta indígena, marcada pela crise humanitária que vitima o povo Yanomami, está entre as disputas no Congresso que retoma os trabalhos hoje. De um lado, a diminuta Bancada do Cocar e de outro, os interesses dos bolsonaristas apoiadores do garimpo ilegal.

Comissão dos povos originários

A criação de uma Comissão dos Povos Originários na Câmara, é cogitada por Arthur Lira, provável presidente da Casa a ser reeleito. Embora reduzida, a Bancada do Cocar pode ser determinante em pautas históricas. É o caso de demarcações de territórios e o próprio combate ao garimpo e à grilagem ilegais em seus territórios.

As ministras do Meio Ambiente, Marina Silva, e da Igualdade Racial, Anielle Franco, em ato da posse: indígenas na Câmara (Foto: Reprodução/Twitter)

Redação: Cida de Oliveira


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