Balanço

CGU abre sigilos de 252 pedidos negados pelo governo Bolsonaro. Carteira de vacinação entre eles

Foram levantados sigilos sobre crédito consignado do Auxílio Brasil, uso de cartão de pagamentos de Bolsonaro e operação da PRF nas eleições

Reprodução/Youtube
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Em 2020, a covid matava os brasileiros enquanto Pazuello dava risada e dizia ao lado do chefe: "é simples assim: um manda e o outro obedece"

São Paulo – A Controladoria-Geral da União (CGU) divulgou, nesta terça-feira (16), o balanço do trabalho de revisão de sigilos impostos pelo governo de Jair Bolsonaro a pedidos de acesso à informação. Foram revisados 252 casos de negativas de acesso a dados ocultados por sigilo. As informações da maioria desses segredos já foram entregues aos solicitantes. No evento, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva assinou três decretos que atualizam a LAI e o acesso a informações públicas.

O balanço foi apresentado pela CGU em evento comemorativo dos 11 anos de vigência da Lei de Acesso à Informação (LAI). Entre os temas considerados relevantes cujo sigilo foi levantado estão os relacionados a possíveis irregularidades de instituições do governo federal no processo eleitoral de 2022. A má gestão da pandemia de covid-19 é outro tema que o governo Bolsonaro cercou de sigilos agora abertos.

Outro exemplos são o crédito consignado do Auxílio Brasil durante o segundo turno das eleições presidenciais; uso de cartão de pagamentos da presidência da República; operação da Polícia Rodoviária Federal no dia da eleição em 30 de outubro e dias anteriores; carteira de vacinação do ex-presidente da República; estoque de vacinas do Ministério da Saúde; lista de visitantes nos palácios;

O processo administrativo relativo a Eduardo Pazuello, ex-ministro da Saúde, é motivado por ele ter participado de um ato político em 23 de maio de 2021, no Rio de Janeiro, ao lado de Bolsonaro, o que é vedado pelas normas do Exército, já que Pazuello era um general da ativa.

A gestão de Pazuello na Saúde foi responsável pela explosão de casos de covid no país. Em live de outubro de 2020, quando a pandemia já tomava conta do país, o general já tinha aparecido ao lado do chefe, para dizer em tom de pilhéria e cinismo: “é simples assim: um manda e o outro obedece”.

Operação Venire

Foi uma decisão da Controladoria-Geral da União (CGU) de abrir os registros sobre o cartão de vacina de Bolsonaro e os respectivos dados que alavancou a Operação Venire, da Polícia Federal, no início deste mês. A ofensiva deflagrada no dia 3 de maio desencadeou uma série de revelações sobre o ex-presidente e sua família.

Além da fraude do cartão de vacinação de Bolsonaro, Mauro Cid e suas famílias, vieram à luz os pagamentos suspeitos de Mauro Cid, o braço direito de Bolsonaro, para a esposa do ex-presidente, Michelle Bolsonaro.

Com a revisão dos sigilos pela CGU, também foram divulgados gastos com o cartão corporativo dos ex-presidentes da República entre 2003 e 2022. As informações liberadas abrangem os mandatos de Lula (2003-2010), Dilma Rousseff (2011-2016), Michel Temer (2016-2018) e Jair Bolsonaro (2019-2022).

Quase 65 mil pedidos

A CGU trabalhou a partir de 64.571 pedidos de acesso à informação negados, total ou parcialmente, pelos órgãos da administração pública federal no período de 2019 a 2022. O estudo se concentrou nos casos que chegaram até a terceira instância recursal na CGU e tiveram a negativa de acesso mantida, em um total de 1.335 decisões.

Dos 252 casos selecionados pela CGU, 111 se referem a segurança nacional, 40 são relativos à segurança do presidente da República e seus familiares, 50 dizem respeito a informações pessoais, 29 a atividades de inteligência e 22 se relacionam a assuntos diversos.