Antes da eleição

Em Londres e na ONU, Bolsonaro encerra ‘festival de bizarrices’ de sua política externa

“Bolsonaro nunca teve estatura de estadista e nunca compreendeu a importância da política internacional para os rumos do país”, diz professor da UFF

Reprodução/Youtube
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Bolsonaro fez um comício eleitoral em plena Embaixada brasileira, um prédio público, com o Reino Unido de luto

São Paulo – Depois de quase quatro anos de Jair Bolsonaro e incontáveis vexames internacionais, devido a uma política externa insana, a vergonha em que se transformou o Brasil no mundo parece ter chegado ao clímax a duas semanas das eleições. Os próprios britânicos perderam a paciência com a falta de compostura, ignorância e incivilidade do bolsonarismo.

Em uma Londres de luto, sob os funerais da rainha Elizabeth II, Bolsonaro fez um comício eleitoral em plena embaixada brasileira – um prédio público – e gravou vídeos de campanha em posto de gasolina, entre outras atitudes. Seus seguidores hostilizaram repórteres da BBC em plena capital. Aos gritos de “Globo lixo”, discutiram com cidadãos britânicos que pediam respeito a seu luto.

“Bolsonaro nunca teve estatura de estadista e nunca compreendeu a importância da política internacional para os rumos do país. É extremamente limitado. Está vendo agora o fim da campanha eleitoral. Então, nessas semanas que faltam para o pleito vê-se um festival de bizarria. Vale qualquer coisa para reforçar o eleitorado que já tem”, avalia Thomas Heye, do Instituto de Estudos Estratégicos da Universidade Federal Fluminense (UFF).

Os estragos causados pela política externa bolsonarista na imagem do Brasil pode levar muito tempo para se recuperar. “Vai levar décadas. Vai custar muito esforço da diplomacia brasileira”, afirma o professor. “Em compensação, temos um crédito. A tradição da nossa diplomacia é bem vista internacionalmente e Bolsonaro é um ponto fora da curva”, pondera.

Com sua incivilidade e falta de educação, Bolsonaro é duro teste para a frieza dos britânicos. Em vídeo postado no Twitter pela repórter Raquel Krähenbühl, da GloboNews, um cidadão “pede aos fãs de Bolsonaro que demonstrem respeito no dia do funeral da rainha”. “Você pode ouvir (no vídeo) um (bolsonarista) atacando a imprensa que cobre a visita do presidente (brasileiro)”.

A cara do bolsonarismo

Em situação ainda mais bizarra, a polícia de Londres teve de ajudar os jornalistas Laís Alegretti e Giovanni Bello, da BBC Brasil, em Londres, a se afastarem de apoiadores de Bolsonaro. Eles foram achacados pelo “blogueiro” Rodrigo Nascimento, que estava entre as pessoas que se dirigiram aos jornalistas da BBC com vaias e xingamentos como “lixos”, além de os chamarem de “comunistas”.

Com estilo semelhante ao deputado estadual Douglas Garcia (Republicanos-SP) – que na semana passada atacou a jornalista Vera Magalhães –, o “blogueiro” cobrava dos repórteres, em tom agressivo, que falassem “a verdade”. “Devem ser da USP”, disse Nascimento, que foi recebido pelo próprio Bolsonaro e a esposa, Michelle, em Londres, segundo o portal UOL.

Um dos bolsonaristas afirmou no tumulto que a BBC não é “bem-vinda” em Londres. “Lixo, lixo. Vocês não é (sic) bem-vindo”. A BBC é uma rede estatal do Reino Unido e uma das mais tradicionais da Europa.

O mesmo desrespeito que a política externa de Bolsonaro mostra pela comunidade internacional, os seguidores dele compartilham, observa o pesquisador. “O comportamento é legitimado: ‘se o presidente pode eu também posso’.”

Na mídia britânica

A imprensa britânica em peso repercutiu o comportamento do mandatário brasileiro.”Bolsonaro usa a visita a Londres para funeral da rainha com  discurso eleitoral”, diz o jornal The Times. “Bolsonaro é acusado de transformar funeral de rainha em comício político”, aponta The Independent.

O destaque em The Guardian é que Bolsonaro discursou em plena embaixada, e que o “presidente de extrema direita do Brasil” afirmou que segue no rumo de vencer as eleições no primeiro turno (sic), apesar de todas as pesquisas dizerem o contrário.

Nesta terça-feira (20), Bolsonaro discursa na Assembleia-Geral das Nações Unidas (ONU). Segundo divulgado pela imprensa, o comitê de campanha do candidato do PL à reeleição é o autor do discurso, pelo menos em linhas gerais. A ideia seria falar de economia, e destacar o pagamento do Auxílio Brasil, o crescimento do PIB e a queda dos preços dos combustíveis. De modo algum vai passar perto de falar do aumento da fome e da miséria no Brasil.

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