Conspiração

Além da fraude em vacina, Mauro Cid e aliado discutiram golpe de Estado e prisão de Moraes

Ao ajudante de ordens de Bolsonaro, Ailton Barros sugeriu pressionar comandante do Exército por pronunciamento pela tomada do poder em dezembro

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“O outro lado tem a caneta, nós temos a caneta e a força. Braço forte, mão amiga", disse Ailton

São Paulo – Presos na Operação Venire, que investiga suspeitas de fraude no cartão de vacinação do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e seus aliados, o militar da reserva e ex-candidato a deputado estadual Ailton Barros (PL-RJ) e o ex-ajudante de ordens Mauro Cid também tramaram um golpe de Estado no Brasil. A Polícia Federal (PF) interceptou conversas entre os dois, que estão presos preventivamente desde ontem. A CNN Brasil divulgou a transcrição dos áudios nesta quinta-feira (4).

A conversa ocorreu em 15 de dezembro do ano passado. Ailton disse que era preciso “pressionar” o então comandante do Exército, general Freire Gomes, para que ele “faça o que tem que fazer”. Além disso, fala em o uso da força, “fora das quatro linhas” da Constituição, jargão utilizado por Bolsonaro. E sugere ainda a prisão do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).

A conspiração

“É o seguinte, entre hoje e amanhã, sexta-feira, tem que continuar pressionando o Freire Gomes para que ele faça o que tem que fazer”, diz Aílton. “Até amanhã à tarde, ele aderindo… bem, ele faça um pronunciamento, então, se posicionando dessa maneira, para defesa do povo brasileiro. E, se ele não aderir, quem tem que fazer esse pronunciamento é o Bolsonaro, para levantar a moral da tropa. Que você viu, né? Eu não preciso falar. Está abalada em todo o Brasil”, acrescenta.

O militar queria ainda que “todos os decretos da ordem de operações” para o plano golpista estivessem prontos no dia seguinte. “O outro lado tem a caneta, nós temos a caneta e a força. Braço forte, mão amiga. Qual é o problema, entendeu? Quem está jogando fora das quatro linhas? Somos nós? Não somos nós. Então nós vamos ficar dentro das quatro linhas a tal ponto ou linha? Mas agora nós estamos o quê? Fadados a nem mais lançar. Vamos dar de passagem perdida?”, indaga.

Dando continuidade ao plano, Ailton afirma que “se for preciso, vai ser fora das quatro linhas”. E recomenda a prisão de Moraes. “Nos decretos e nas portarias que tiverem que ser assinadas, tem que ser dada a missão ao comandante da brigada de operações especiais de Goiânia de prender o Alexandre de Moraes no domingo, na casa dele”, adiciona.

“01 do Bolsonaro”

Nas últimas eleições, Ailton se apresentava como “01 do Bolsonaro” na campanha. Cid acionou o colega da reserva após fracassar na primeira tentativa de fraudar o certificado de vacinação de Gabriela Santiago Ribeiro Cid, sua esposa. O ajudante de ordens então pede a ajuda de Ailton, que consuma a fraude no cartão Gabriela. Ele teria contado com a ajuda do ex-vereador do Rio de Janeiro Marcello Siciliano.

Assim, em troca do favor, Ailton pede a Cid para facilitar um encontro do ex-vereador com o cônsul dos Estados Unidos no Brasil. O objetivo era resolver um problema relacionado ao visto de entrada de Siciliano no país norte-americano.

O ex-vereador chegou a ser acusado de ser o mandante do assassinato da vereadora Marielle Franco (Psol-RJ), fato que estaria atrapalhando a obtenção do visto. Noutra conversa interceptada pela PF, Ailton diz a Cid que sabe quem é o responsável pela execução da vereadora. “Eu sei dessa história da Marielle, toda irmão, sei quem mandou (matar). Sei a porra toda. Entendeu? Está de bucha nessa parada aí”. A “bucha”, no caso, seria Siciliano.


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