São Paulo – Durante entrevista coletiva em Porto Alegre (RS), nesta sexta-feira (16), o candidato da coligação Brasil da Esperança à Presidência da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), cobrou explicações do presidente Jair Bolsonaro sobre o escândalo imobiliário que envolve a sua família. “Quero saber se ele vai explicar os imóveis – não o imóvel, mas os imóveis – com a quantidade (de dinheiro) paga à vista”. O ex-presidente rebateu propaganda de campanha de Bolsonaro veiculada ontem, que tenta mais uma vez associar Lula a ilegalidades. Nesse sentido, ele reafirmou que após 26 vitórias consecutivas na Justiça e ter todos os processos contra si anulados, está “muito tranquilo”.

Na semana passada, Juliana Dal Piva e Thiago Herdy, jornalistas do portal UOL, publicaram evidências, entre escrituras e dados de quebras de sigilo obtidos junto ao Ministério Público do Rio Janeiro (MP-RJ), que comprovam que, nos últimos 30 anos, Bolsonaro e seus familiares compraram um total de 107 imóveis, dos quais 51 foram pagos com dinheiro vivo. Em valores corrigidos pela inflação, o montante equivale a R$ 25,6 milhões. Até o momento, o presidente não explicou a origem desses recursos.

Lula voltou a afirmar que, se eleito, vai revogar todos os “decretos de sigilo de 100 anos” que Bolsonaro editou para barrar investigações sobre atividades envolvendo seu governo. “Quero saber o que tem de tão escondido”, disse. Os decretos beneficiam, dentre outros, o ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello e os filhos de Bolsonaro.

“Na minha vida não tem decretação de sigilo”, disparou o petista. Ele disse ainda que, se eleito, “não vai ter tapete na sala presidencial para esconder corrupção”. Também reafirmou compromisso de voltar a fortalecer os órgãos de controle e fiscalização – como a Controladoria-Geral da União (CGU) e o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) – que foram esvaziados na atual gestão. “A corrupção aparece quando você combate. E desaparece quando você joga para debaixo do tapete”.

Orçamento secreto

Lula também voltou a acusar a usurpação do poder de governar pelo Centrão e que Bolsonaro virou “refém” do chamado “Orçamento Secreto”. “Pela primeira vez na história do país, estamos vendo um presidente da República não cuidar do Orçamento, que é a função dele”, criticou. “Se esse maldito orçamento é bom, não poderia ser secreto. Todo mundo deveria saber quem pegou dinheiro e o que se fez com a emenda”.

Conforme reportado nesta semana pelo jornal O Estado de S.Paulo, o governo reduziu em 60% os recursos para a aquisição de medicamentos e produtos do Farmácia Popular no Orçamento da União para o ano que vem. O montante retirado dos programas da Saúde servirá para abastecer deputados da base governista, por meio de emendas liberadas por meio do chamado Orçamento Secreto.

Ideb e merenda: “vergonha”

Sobre educação, o candidato classificou como uma “vergonha” os resultados do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) divulgados hoje, que mostram queda nos índices de alfabetização, bem como redução do desempenho dos alunos brasileiros em matemática. “Não existe na história da humanidade nenhum país que evoluiu sem investir na educação”, criticou. Lula ainda comparou a qualidade dos ministros que ocuparam o Ministério da Educação durante o seu governo – Cristovam Buarque, Tarso Genro e Fernando Haddad – com os que passaram pela pasta durante a gestão Bolsonaro.

Também na entrevista, Lula desafiou Bolsonaro a acompanhá-lo em visitas a escolas pelo país e, assim, verificar a qualidade da merenda oferecida aos estudantes. “Ele iria sentir vergonha de passar tanto tempo sem reajustar a merenda escolar”. As verbas que o governo federal repassa a estados e municípios estão congeladas há cinco anos. Atualmente, o valor repassado para os alunos do ensino fundamental e médio é de apenas R$ 0,36 por estudante.

Comício

Após a entrevista, Lula se dirigiu ao Largo Glênio Peres, no centro da capital gaúcha, para participar do ato Todos Juntos Pelo Rio Grande do Sul. O comício também conta com a presença do candidato ao governo do Rio Grande do Sul Edegar Preto (PT), do seu vice, Pedro Ruas (Psol), do ex-governador e candidato ao Senado Olívio Dutra (PT). Além deles estiveram o candidato a deputado estadual Leonel Radde, o senador Paulo Paim e os deputados Paulo Pimenta, Maria do Rosário e outros.