Frente ampliada

Lula: movimentação na sociedade permite sonhar com vitória no primeiro turno

Economistas e ex-ministros ressaltam união em torno de Lula e Alckmin em nome da reconstrução da democracia e dos direitos humanos

Ricardo Stuckert
Ricardo Stuckert
"Ele (Tancredo), se vivo fosse, estaria aqui conosco hoje", disse o ex-ministro Rubens Ricupero

São Paulo – O candidato da coligação Brasil da Esperança à Presidência da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) recebeu nesta terça-feira (27) o apoio de diversos economistas e ex-ministros de governos anteriores por uma vitória já no primeiro turno das eleições, no próximo domingo (2). Em agradecimento, Lula voltou a citar o educador Paulo Freire, destacando que o encontro representou “a união dos divergentes para vencer os antagônicos”. Participaram do encontro ex-ministros dos governos José Sarney (MDB), Itamar Franco (ex-PMDB), Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e Michel Temer (MDB).

O diplomata Rubens Ricupero, ex-ministro de Itamar, chegou a citar também o ex-presidente Tancredo Neves (MDB), para defender a unidade entre os democratas. “Ele (Tancredo), se vivo fosse, estaria aqui conosco hoje. Porque ele representava esse espírito de uma ampla união nacional para reconstruir o país, depois do regime militar. Hoje, de certa maneira, nessa eleição, estaremos refundando a Nova República”, afirmou Ricupero.

Do mesmo modo, o economista André Lara Resende, um dos elaboradores do Plano Real (1994, com Itamar Franco), defendeu a eleição de Lula no primeiro turno como forma de restabelecer a “normalidade democrática e institucional”. “É importante a sua eleição imediata, para podermos passar imediatamente a pensar no futuro, e não continuar por mais algumas semanas penosas, de uma campanha agressiva e raivosa no país”.

Aos economistas no encontro, Lula frisou que é contra o Teto de Gastos, que ele “chamou de aprisionamento que o sistema financeiro fez do governo”. “Quem tem responsabilidade não precisa de Teto de Gastos”, declarou o candidato, ressaltando que a “fome não pode esperar”.

“O melhor do Brasil”

Ex-senador pelo PSDB e ex-ministro das Relações Exteriores no governo Temer, Aloysio Nunes disse que o grupo ali reunido representava “o que foi feito de melhor no Brasil, depois da Constituinte”. Ele citou conquistas suprapartidárias, como o fortalecimento do SUS, entre outros. E disse que essas conquistas foram e estão ameaçadas pelo governo do atual presidente, Jair Bolsonaro (PL).

“Não vamos deixar essa pessoa (Bolsonaro), ferido de morte, nas convulsões finais, mas com a caneta na mão, podendo criar grandes transtornos. Por outro lado, precisamos começar desde já, desde o dia 2, a trabalhar pensando e construindo o futuro”, disse Nunes.

Ex-ministro de Sarney e de Fernando Henrique, o economista Luiz Carlos Bresser-Pereira também citou outros políticos que tiveram papel de relevo na redemocratização do país. “Não estamos só nós. Também estamos juntos com Ulysses Guimaraes (ex-presidente da Constituinte), com Mário Covas, com Franco Montoro (ex-governadores de São Paulo) e com Tancredo. Temos um passado atrás de nós que é muito importante. E mais importante do que isso, nós estamos com o povo, que precisa dramaticamente de apoio e compaixão”.

Por sua vez, o jurista José Carlos Dias, presidente da Comissão Arns e ex-ministro da Justiça de FHC, citou sua trajetória em defesa dos perseguidos políticos durante a ditadura. “E você, Lula, é um perseguido político até hoje”, ressaltou. Por outro lado, disse que atualmente, votar no petista, e no seu vice Geraldo Alckmin (PSB0, “é votar pela democracia deste país”.

Para Paulo Sérgio Pinheiro, a eleição de Lula vai significar a “reconstrução” dos Direitos Humanos na sociedade brasileira. “Esse governo conseguiu pôr abaixo tudo o que foi construído nesses últimos anos, a não ser a Constituição, que não conseguiu destruir. Ele destruiu e tratou a sociedade civil como inimiga”, afirmou o ex-ministro de Direitos Humanos de FHC.

Alckmin articulador

O também ex-ministro Aloízio Mercadante (PT), coordenador do plano de governo da coligação, ainda citou que os ex-ministros Delfim Netto, José Gregori e Nelson Jobim, não puderam comparecer, mas também manifestaram apoio a Lula no segundo turno. Além disso, Mercadante ressaltou o esforço de Alckmin para a realização do encontro. No mesmo sentido, Lula elogiou o companheiro de chapa.

“De vez em quando eu dizia para o meu pessoal ‘por que a gente não vai querer o Alckmin de vice? O cara ganhou da gente quatro vezes. Significa que ele tem qualidade’”, declarou Lula. Ele lembrou ainda que Covas ganhou duas eleições com o apoio do PT. Em contrapartida, Marta Suplicy (ex-PT) ganhou a prefeitura de São Paulo, em 2020, contando com apoio tucano.

Além disso, o ex-presidente destacou a possibilidade de vencer as eleições em primeiro turno, no próximo domingo (2). “Há uma movimentação na sociedade que talvez nos permita sonhar em ganhar no primeiro turno. E se não ganharmos, vamos nos preparar para o segundo.”