Luta por dignidade

Lula destaca valorização e educação em encontro com trabalhadoras domésticas

Ex-presidente, ao lado de Geraldo Alckmin, Fernando Haddad e Márcio França, recebeu carta de compromisso da categoria em evento realizado no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC

Ricardo Stuckert
Ricardo Stuckert
Lula com a carta compromisso que recebeu das trabalhadoras

São Paulo – O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva encontrou-se com trabalhadoras domésticas neste domingo (4), na sede do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em São Bernardo do Campo, e recebeu documento da categoria. Lula destacou o valor do trabalho doméstico e se comprometeu a colocar para apreciação carta de compromisso entregue pelas representantes das trabalhadoras. Falou também da necessidade de se criar oportunidades para as futuras gerações por meio do investimento na formação infantil e universitária e afirmou ser necessário facilitar acesso a serviços de saúde de qualidade. Um dia antes, ele se encontrou em São Luis com representantes de quebradeiras de coco do Maranhão, Pará, Piauí e Tocantins. À noite, anunciou, em programa eleitoral na TV, proposta de acréscimo de R$ 150 no Bolsa Família por criança até 6 anos.

“A gente tem de estar se vigiando todo dia, se a gente está tratando as pessoas com respeito, com carinho e se a gente está pagando aquilo que é o correto pagar. Tem muita gente boa de coração, que acha que R$ 1,3 mil não é nada, mas quando tem de pagar no final do mês pra empregada, acha que é muito. E o mais grave é porque a gente não faz avaliação do serviço prestado. Não lembra que aquele pagamento é porque alguém lavou a louça que a gente sujou, limpou a mesa, o chão, banheiro, limpou as crianças que a gente não teve tempo de limpar, arrumou a cama que a gente dormiu. Se a gente ficar pensando nisso, paga o salário agradecendo e acha até pouco. Mas não temos essa cultura. Precisamos valorizar o que a gente recebe”, começou.

Ricardo Stuckert
Lula e Diana Solis, imigrante boliviana há 26 anos no Brasil

Mesma oportunidade

A seguir, Lula lembrou de uma empregada doméstica na Bahia que concorreu à prefeitura contra o filho do patrão dela e venceu. Citou também a carreira de deputada federal Benedita da Silva (PT-RJ) para afirmar que “a gente precisa de oportunidade. E eu não quero prejudicar ninguém, não quero que o filho da empregada doméstica prejudique o filho do patrão dela, não quero! A única coisa que eu quero é que o filho da empregada doméstica tenha a mesma oportunidade de disputar a mesma vaga com qualquer outra pessoa”, disse. “E a primeira coisa que a gente precisa ter é comida. Tem de comer bem. É importante que as crianças tomem café bem, almocem bem, jantem bem.”

Educação e saúde

Lula também citou a necessidade de o Estado oferecer educação e saúde de qualidade para a população. “Essa é a nossa tarefa, Haddad. Transformar o ensino fundamental público de boa qualidade”. E enumerou algumas ações feitas durante os governos do PT. Destacou o Minha Casa Minha Vida. “As mulheres foram as que assinaram 89% das escrituras. A gente preferiu dar a casa para as mulheres com a consciência de que a mulher tem mais responsabilidade e jamais venderia a casa para deixar as crianças desabrigadas.” E também o cartão do Bolsa Família. “Ela ia comprar comida pra levar para os filhos.”

Falou, ainda, na criação do Ministério das Mulheres e rechaçou novamente argumentos de que investir em educação é gasto. “Não venham me dizer que é caro, é gasto. Não venham me dizer! Investir na formação de uma criança é o melhor investimento que um país pode fazer”. Sobre saúde, destacou ser preciso universalizar toda a rede de médicos especialistas. “Se na sua rua tiver um especialista, é lá que você vai, não precisa fica esperando.” Lula acrescentou sobre a necessidade de colocar o pobre no orçamento e rechaçou o “ódio que está sendo espalhado. Nós precisamo de amor. O ser humano é feito de amor, carinho, solidariedade. É isso que precisamos. Não haverá decreto de armas nesse país. Haverá de livros, de dinheiro para a educação.”

Nome de Jesus em vão

O ex-presidente não deixou de comentar sobre as mentiras contadas por Bolsonaro. “Não é o Lula que está dizendo, todos os jornais já falaram que ele conta no mínimo sete mentiras por dia. Sete! E a maior mentira que ele conta é avoca o nome de Jesus toda hora. Você sabe nos olhos dele que ele está mentindo. Usa o nome de Jesus em vão, que é para tentar enganar a boa fé das mulheres e homens cristãos desse país. O Estado não pode ter religião. Tem de tratar todas com respeito. Foi no meu governo, em 2003, que fizemos a Lei da Liberdade Religiosa e, em 2009, que criamos a Marcha com Jesus. Foi a Dilma que criou a Lei do Evangelho.”

Trabalho e educação

A fala do ex-presidente foi antecedida pela de Fernando Haddad, ex-ministro da Educação. “Meu pai dizia uma coisa muito legal, que guardo comigo até hoje: ‘é importante para uma pessoa acordar e ter para onde ir’, ter ou o trabalho ou a educação. Tenho a honra de ter trabalhado nos governos que mais fizeram pelo trabalho e pela educação. Quando vejo as pessoas aqui, empregadas domésticas, darem o depoimento de que os filhos, por meio de programas que forma criados por nossos governos, tem hoje um diploma universitário, fico muito convencido que a gente estava no rumo certo”, disse. “Esse mesmo governo que fez tanto pela educação, fez muito pelo trabalho. Gerou mais de 20 milhões de postos de trabalho. É responsável pela menor taxa de desemprego da história.”

Fernando Haddad seguiu afirmando que o Bolsonaro é uma reação a esse avanço. “Incomodou os de cima. Quando viu a filha da empregada doméstica na faculdade, falou: ‘onde é que isso aqui vai parar? Como é que pode?’.” E aí, segundo Haddad, começaram uma reação, e “vão entregar esse desastre econômico e social que estamos vivendo”. O ex-prefeito de São Paulo falou, ainda, sobre qual a sociedade que idealizaria, “justa pra valer”. “É o dia em que o Bolsonaro não tiver um único voto.”

(twitter/Haddad_Fernando)
Haddad destacou a importância de programas para acesso ao ensino universitário (twitter/Haddad_Fernando)

Eleição das mulheres

Márcio França falou antes de Haddad e avaliou que a eleição presidencial desse ano será decidida pela mulher. “Se dependesse só das mulheres do Brasil, o Lula tava eleito no primeiro turno com folga. As mulheres são boas de convencimento, sabem convencer. Então estamos com muita esperança de as mulheres orientarem um pouco os homens a pensar um pouco mais, pensar na felicidade, harmonia, na paz”, disse. “Imagine que São Paulo tem 200 anos, desde 1822. Em 200 anos, nós elegemos aqui em São Paulo, 164 pessoas para ocupar o cargo de governador e de vice. E nunca elegemos uma mulher. É um fato inacreditável. Agora, o Haddad eleito governador terá uma mulher eleita vice. E o Haddad assumiu um compromisso público que eu achei muito bacana, de garantir que nós tenhamos, no governo, paridade. Ou seja, metade do governo dele vai ser só com mulheres.”

Carta compromisso

O encontro de Lula com as trabalhadoras domésticas começou com elas falando. Cleide Silva Pereira Pinto, representando a presidência da federação nacional dos trabalhadores domésticas (Fenatrad), levou a carta compromisso “com toda a demanda que a nossa categoria tem”. Ao se dirigir a Lula, a primeira citação foi dos dois filhos, “formados graças a governo Lula. O filho da trabalhadora doméstica tem canudo graças ao governo Lula, ao governo Dilma”. Diana Solis, imigrante boliviana há 26 anos no Brasil que mora em São Paulo, também teve a palavra e ressaltou as dificuldades das imigrantes. “Continua invisível, é difícil saber onde tem uma. Elas são escravizadas, não têm direitos garantidos. Essa é uma luta que gostaria que o senhor pensasse com carinho também.”

Lula se comprometeu a ler o documento, pediu para Haddad e Geraldo Alckmin, também presente, lerem e repassarem às respectivas esposas lerem. “Elas três entendem melhor de mulher do que nós três”, disse Lula. “Quem sou eu, Alckim ou Haddad para ficar tentando achar soluções se vocês entregaram um documento que deve ter tudo o que vocês desejam?”


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