Povos da Amazônia

Com indígenas e quilombolas, Lula firma compromissos: demarcação e ‘floresta em pé’

“Quero dizer para vocês que a boiada não vai mais passar”, disse candidato, em encontro com representantes de povos originários e ancestrais em Belém

Ricardo Stuckert
Ricardo Stuckert
Volta das demarcações, paralisadas por Bolsonaro, é principal reivindicação dos indígenas e quilombolas

São Paulo – Em encontro com povos da floresta e ancestrais na manhã desta sexta-feira (2), no Parque dos Igarapés, em Belém, o candidato da coligação Brasil da Esperança à Presidência da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), renovou compromisso com a demarcação de terras indígenas e quilombolas, paralisadas pelo atual governo. Também reafirmou que, não haverá garimpo ilegal em terras indígenas, “nem em lugar nenhum”. E afirmou que “a boiada não vai mais passar”, fazendo referência a fala do ex-ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles que simboliza a política ambiental de Jair Bolsonaro.

O candidato defendeu o aproveitamento sustentável da biodiversidade da Floresta Amazônica. “Nós temos que criar na sociedade brasileira, a consciência de que a manutenção da floresta em pé é mais saudável, é mais rentável do que tentar derrubar árvore para plantar soja, para plantar milho, para plantar cana ou para criar gado”, disse o candidato.

Do mesmo modo, Lula afirmou que as comunidades tradicionais terão representação no seu governo, participando diretamente na elaboração das políticas públicas. “Vocês conhecem como ninguém o mundo que vocês vivem”, declarou. “Se a gente ganhar as eleições, vocês não serão pessoas estranhas ao Palácio dos Planalto.”

Nesse sentido, o candidato voltou a anunciar que vai criar o Ministério dos Povos Originários, além de fortalecer órgãos de defesa dos povos indígenas, como a Funai. “Que não terá necessariamente um presidente branco igual a mim. Ele pode ser um indígena ou uma indígena”, voltou a defender o candidato.

O ex-presidente também acenou com políticas públicas voltadas às populações que vivem do extrativismo, com mais crédito e melhores condições de produção. E disse que retomará o programa Mais Alimentos, que garantia compra de ao menos 30% da agricultura familiar pelas prefeituras para a merenda escolar.

Homenagem a Bruno e Dom

O ato com indígenas e quilombolas foi aberto com uma homenagem ao indigenista Bruno Pereira e ao jornalista inglês Dom Philips, assassinados no Vale do Javari, em junho. A antropóloga Beatriz Matos, viúva de Bruno, cobrou justiça, com a identificação dos eventuais mandantes dos assassinatos. Ela disse ainda que é preciso “desmontar” redes criminosas em quase todos os territórios da Amazônia.

“A maior homenagem ao Bruno, ao legado dele, é garantir os direitos dos povos indígenas isolados, pelos quais ele deu a vida. Para isso é preciso manter a política do não contato, fortalecer a Funai, fortalecer as bases de proteção etnoambiental e demarcar as terras dos isolados”, disse Beatriz. Ela entregou a Lula documento com as propostas elaboradas pelo Observatório dos Direitos Humanos dos Povos Indígenas Isolados e de Recente Contato (OPI), órgão criado pelo seu marido.

Ameaçados

O indígena Haitinga Parakanã reivindicou, o “mais urgente possível”, a demarcação da Terra Indígena da sua etnia. “Estamos passando muita dificuldade, sendo ameaçados. Precisamos que o presidente nos ajude, para que deixem os Parakanã em paz”, afirmou. O cacique Piná Tembé afirmou que o atual ocupante do Palácio do Planalto, Jair Bolsonaro (PL), “não é nosso presidente”.

Também afirmou que seu povo está “contando os minutos” para o fim do atual governo, para que, assim, as demarcações sejam retomadas. “Não vamos deixar a boiada passar, porque não somos curral de ninguém”, disse ainda Ubirajara Sodré, representante da Federação dos Povos Indígenas do Estado do Pará.

Eliane Souza, liderança quilombola do município de Salvaterra, falou da “angustia” causada pelo governo atual. “Nós não tivemos titulação nenhuma nos últimos anos. este ano. Estamos sendo turbados, perturbados e desrespeitados. Esse sistema está nos matando”. Aurélio Borges, da comunidade Damalungo, destacou que são cerca de 600 comunidades quilombolas no Pará.

E ressaltou que as mais de 70 mil famílias, que somam cerca de 40 mil eleitores, estão engajadas politicamente para alterar a atual situação. Da mesma forma, Ivanildo Brilhante, representante do Conselho Nacional das Populações Extrativistas, disse que o compromisso é eleger o “cabeça branca” (Lula), que leva no “coração” as pautas dos povos das águas e das florestas.