Projetos para o estado

Recuperar setor industrial é o maior desafio da economia de SP, diz Haddad

Candidato petista defendeu a criação de um “Sistema Estadual de Inovação”, envolvendo estado e iniciativa privada, para mapear oportunidades de negócio

Reprodução/Youtube/ACSP
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Haddad também quer interligar as principais regiões do estado à capital com ferrovias

São Paulo – O candidato a governador pela coligação Juntos por São Paulo, Fernando Haddad (PT), apontou o processo de “desindustrialização” resultante das sucessivas administrações tucanas no estado como o maior desafio da economia paulista. Em debate na Associação Comercial de São Paulo (ACSP) nesta quinta-feira (1º), Haddad afirmou que a indústria de São Paulo está em decadência em função da “guerra fiscal” e pelo que chamou de “calote” na devolução do ICMS.

“Se a pessoa tem direito à restituição do ICMS dos produtos exportados e você não paga – e tem estado que paga –, o empresário vai pensar duas vezes antes de expandir a produção em São Paulo”, afirmou o candidato. “A indústria química está pensando em sair. A indústria automobilística que resta também.” Como governador, se eleito, Haddad se comprometeu a devolver às empresas os devidos créditos tributários.

Sobre “guerra fiscal”, ele disse que os últimos governos paulistas foram “muito acanhados” no enfrentamento dessa questão. Além disso, Haddad apontou a falta de liderança política. “Um dos problemas graves da prefeitura e do estado de São Paulo, por serem os maiores do país, é que assim que a pessoa se elege, se ela não tem juízo, ela começa em seguida a pensar no cargo que vai disputar”, numa referência direta ao ex-governador João Doria.

Para os micro e pequenos empreendedores, o candidato do PT também sinalizou que pretende facilitar o acesso ao crédito, por meio do programa Desenvolve SP. “Quero o Desenvolve SP mais ágil e com novos programas, como o de recuperação de empresas quebradas por meio de crédito tributário que venham a ter direito.”

Inovação

Nesse sentido, para estimular a reindustrialização de São Paulo, Haddad defendeu a criação do “Sistema Estadual de Inovação“, modelo inspirado no estado norte-americano da Califórnia. “A Califórnia tem uma mesa que é um triangulo: o estado, as instituições de pesquisa e o setor privado. A tarefa dessa mesa é mapear todas as oportunidades de negócio”. Por lá, o estado chega, até mesmo, fazer parcerias (joint-venture) com o setor privado, capitalizando novas empresas, com o compromisso de vender a participação estatal após um prazo estabelecido.

Para tanto, o candidato ressaltou as potencialidades das universidades paulistas, que respondem por metade da produção científica do país, e cerca de um quarto da produção latino-americana, segundo ele. Haddad afirmou que vai se engajar pessoalmente nesse projeto, fazendo a interlocução com o setor privado. O objetivo, de acordo com ele, é “desatar” os nós que atrapalham o desenvolvimento. Como exemplo, citou o caso bem-sucedido do Plano Diretor da cidade de São Paulo, que possibilitou um “boom imobiliário” na capital.

Ele também sinalizou que pretende desburocratizar processos e combater a corrupção, como fez durante sua passagem pela gestão municipal. “Revoguei mais de 1.100 portarias. Acabamos com a corrupção na expedição de alvarás. Acabamos com a máfia do ISS, que desviou R$ 500 milhões em propina.” Além disso, afirmou que a capital paulista foi a primeira a regulamentar os aplicativos de transporte.

Planejamento

“Nós não temos hoje um planejamento estratégico no estado de São Paulo. É zero a nossa capacidade de planejamento”, criticou o candidato. Ele citou, por exemplo, o desmantelamento da Empresa Paulista de Planejamento Metropolitano SA (Emplasa). “Nós vamos restituir isso. Porque planejamento é o papel do estado.”

Como uma das facetas do planejamento que pretende executar no estado, Haddad quer implementar o Trem Intercidades, ligando por trilhos as regiões de São José dos Campos, Campinas, Sorocaba e Baixada Santista à capital. De acordo com o candidato, as rodovias paulistas estão “entrando em colapso”.

Renovação e “ameaça” do Centrão

Politicamente, Haddad ressaltou que o PSDB comanda o estado de São Paulo há 28 anos. “Nada contra, sou amigo de muita gente (do PSDB). Mas está na hora de mudar, de oxigenar. E mudar de um jeito certo.” Com a aliança com o ex-governador Márcio França (PSB), candidato ao senado na mesma chapa, e o apoio do candidato da coligação Brasil da Esperança à Presidência da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), e do seu vice, Geraldo Alckmin (PSB) – que também foi governador de São Paulo –, Haddad prometeu uma “mudança segura”.

Sobre os competidores na disputa pelo Palácio dos Bandeirantes, o petista afirmou que o atual governador, Rodrigo Garcia (PSDB), representa esse mesmo grupo que comanda o estado há décadas. Por outro lado, chamou a atenção para Tarcísio de Freitas (Republicanos), candidato apoiado pelo atual presidente Jair Bolsonaro e pelos partidos do chamado Centrão. “O Centrão nunca governou São Paulo. Acho muito perigoso para o estado. Essa turma não é brincadeira, essa turma joga pesado”, alertou aos empresários.

Na pesquisa Datafolha sobre a disputa para o governo de São Paulo, divulgada nesta quinta, Haddad lidera com 35% das intenções de voto. O candidato bolsonarista Tarcísio de Freitas (Republicanos) está em segundo com 21%, seguido pelo atual governador Rodrigo Garcia (PSDB), com 15%, empatado com os que dizem que votarão em branco ou nulo.