Crime de ódio

Bolsonarista mata eleitor de Lula com faca e machado após discussão em Mato Grosso

Novo caso de violência política aconteceu na noite de quarta (7), na zona rural de Confresa, interior do Mato Grosso. O autor do crime, Rafael Silva de Oliveira, de 22 anos, desferiu ao menos 17 golpes contra a vítima, Benedito Cardoso dos Santos, de 44 anos

Polícia Civil MT/Divulgação/Revista Fórum
Polícia Civil MT/Divulgação/Revista Fórum
Criminoso foi preso em flagrante por homicídio qualificado. Apesar da motivação política, ele deve responder por motivo fútil e cruel

São Paulo – Um apoiador do presidente Jair Bolsonaro (PL) assassinou com golpes de faca e machado um eleitor do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na noite de quarta-feira (7). O crime aconteceu em uma chácara em Agrovila, zona rural de Confresa (MT), a 1.160 quilômetros de Cuiabá, após discussão política. Os dois divergiam sobre seus candidatos ao pleito desse ano. A vítima, Benedito Cardoso dos Santos, de 44 anos, era apoiador de Lula. Já o homem que mata o colega, Rafael Silva de Oliveira, de 22 anos, é bolsonarista. 

Eles trabalhavam juntos no corte de lenha em uma propriedade rural e estavam sozinhos na chácara no noite do 7 de Setembro. De acordo com o delegado responsável pelo caso, Victor Oliveira, o crime veio à tona na manhã do dia seguinte. O suspeito procurou atendimento médico no hospital da região para tratar de um corte na mão e outro na testa. À Polícia Militar, que estava na unidade de saúde e já tinha conhecimento de uma vítima de homicídio na zona rural, ele alegou que tinha sido vítima de tentativa de roubo. 

A PM, no entanto, suspeitou da história e, segundo contou o delegado ao site da revista Fórum, encaminhou Rafael para prestar depoimento na Polícia Civil. Ele negou a autoria do crime e declarou que Benedito havia sido assassinado por homens que tinham invadido a chácara. E que as marcas em seu corpo também tinham sido provocadas pelos supostos invasores. Mas, segundo Oliveira, “ele (autor do crime) viu que não adiantava mais negar e resolveu confessar os fatos”. 

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17 facadas

Em depoimento, Rafael detalhou que na noite do feriado da independência eles estavam falando sobre política. Mas começaram a brigar quando cada um passou a defender seus candidatos. Na sequência, Benedito teria dado um soco na cara do autor do crime, que revidou com outro golpe. Rafael contou que nesse momento a vítima pegou uma faca que estava sobre a mesa e foi para cima dele, que conseguiu tomar a arma. O bolsonarista então, persegue o petista e o mata. Primeiro, o golpeando pelas costas. Depois, com a vítima já caída no chão, o autor do crime desferiu vários golpes no olho, pescoço e testa de Benedito.

Segundo o delegado, foram ao menos 17 facadas. “Ai ele saiu de cima da vítima, que ainda estava com vida. A vítima xingou o autor do crime de ‘filho da put*’ e o autor ficou com mais raiva ainda e foi até o barraco, pegou o machado e golpeou o pescoço da vítima, que ainda estava com vida. Após isso a vítima veio a óbito”, relatou Oliveira à Fórum. Além de tentar decapitar a vítima, Rafael, após o crime, ainda filmou o corpo.

O suspeito foi preso em flagrante por homicídio qualificado. Apesar da motivação política, ele deve responder por motivo fútil e motivo cruel. Nesta semana, a Justiça de Mato Grosso também converteu a prisão em flagrante para preventiva. As investigações, segundo o delegado, continuam. O órgão ainda aguarda laudos periciais e deve testemunhas antes de remeter o inquérito policial para as demais providências judiciais. 

Caso Marcelo de Arruda

Esse é o primeiro crime de ódio motivado por questão políticas na cidade, mas não o único pelo país. Desde 2018, casos de violência política multiplicam em território nacional. Neste ano, um dos mais repercutidos aconteceu em 9 de julho, quando o guarda municipal, sindicalista e tesoureiro do PT, Marcelo Aloizio de Arruda, foi mortos a tiros na própria festa de aniversário, em Foz do Iguaçu (PR), pelo policial penal federal Jorge Guaranho. Bolsonarista, o agressor invadiu a festa privada de Marcelo – que tinha como tema o PT e imagens do ex-presidente Lula. 

Gritando “aqui é Bolsonaro”, Jorge assassinou o petista com três tiros. A Polícia Civil do Paraná também concluiu o inquérito, argumentando que não houve motivação política para o crime. O bolsonarista está indiciado por homicídio duplamente qualificado por motivo torpe e perigo comum. Em 10 de agosto, a justiça determinou prisão domiciliar para Jorge. A pena, no entanto, foi revista dois dias depois e o assassino foi encaminhado para penitenciária de São José dos Pinhais. 

Violência política avança

Um levantamento feito pelo Observatório da Violência Política e Eleitoral da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (OVPE-Unirio), ao longo da primeira metade deste ano, identificou um aumento da violência política pelo país. Até agora, pelo menos 40 pessoas já foram mortas, segundo os dados reportados pelo jornal O Globo. O relatório do OVPE também aponta para 89 ameaças a lideranças políticas, 42 agressões, 27 atentados, 11 homicídios de familiares, dois sequestros, dois sequestros de familiares e um atentado contra familiares de lideranças políticas brasileiras.

No último dia 31, o policial militar Vitor da Silva Lopes, de 37 anos, atirou na perna do assessor empresarial Davi Augusto de Souza, de 40 anos, dentro da Congregação Cristão no Brasil, em Goiânia, após também uma discussão política. Na ocasião, a vítima questionava o discurso do pastor que pregava aos fiéis para não votar “em vermelhos”, em referência aos partidos de esquerda. Nesta sexta (9), o bolsonarista Rodrigo Duarte, candidato a vereador nas eleições de 2020 pelo PRTB, foi atingido por um soco após provocar confusão na porta de um comício eleitoral do ex-presidente Lula. Segundo militantes petistas, o bolsonarista parou de propósito no local como ato de provocação.

A polícia, que fazia a guarda do evento eleitoral tentou convencê-lo a ir embora, mas Duarte continuou no local, protestando contra Lula e ameaçando ligar para o prefeito da cidade, Capitão Nelson (Avante)

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