Reconstrução

Mais de 100 candidaturas se propõem a formar a ‘bancada da Educação e Ciência’

Ex-reitores, professores, pesquisadores e lideranças sindicais e estudantis se candidatam ao Senado, Câmara e Assembleias para fazer frente a bancadas do atraso

Yolanda Assunção
Yolanda Assunção
O projeto de construção da bancada conta com mais de 100 nomes, disputando cadeiras no âmbito federal, estadual e distrital

São Paulo – Mais de 100 candidaturas em todo o país estão comprometidas com a formação de uma “bancada da Educação e Ciência” no Senado, Câmara dos Deputados e Assembleias Legislativas nestas eleições. São ex-reitores, professores, pesquisadores e lideranças sindicais e estudantis, entre outras, que se apresentam para fazer frente às bancadas do atraso que chancelaram retrocessos. E defender projetos em prol de áreas fundamentais para a reconstrução do país, assim como brecar outros que possam aprofundar ainda mais as desigualdades. Afinal, da educação e da ciência dependem a tecnologia, a saúde, a economia, o meio ambiente e o desenvolvimento como um todo.

A ideia de formar tal bancada não é nova, mas tornou-se urgente com a chegada ao poder do presidente Jair Bolsonaro (PL). O candidato à reeleição, cujos projetos excluem a educação e a ciência, desferiu ataques a essas áreas como nunca visto anteriormente.

No último dia 12, a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) divulgou carta aberta alertando, mais uma vez, sobre a destruição do futuro do país promovida pelo governo federal. Nela, a entidade, que representa mais de 70 associações científicas, relata que, em nova investida contra a ciência brasileira, o governo Bolsonaro cortou 42% do orçamento previsto para o Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT), o principal financiador da pesquisa no país.

Com esse corte proposto na Lei Orçamentária Anual (PLOA), para 2023, o Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI) perderá R$ 4 bilhões de receitas. Um corte, segundo a entidade, que deriva da Medida Provisória 1.136/2022 que, entre outras ações, congelou a liberação de mais de R$ 3,5 bilhões de recursos ao FNDCT que estavam aprovados para este ano e impede o acesso a mais R$ 14 bilhões até 2027.

Na educação não é diferente. O ministério (MEC) envolto em denúncias de corrupção com anuência do presidente, que na prática desviaria recursos para construção e melhoria de escolas para igrejas de pastores amigos, sofreu corte de R$ 3,23 bilhões só neste ano. Um bloqueio que atinge todos os órgãos ligados à pasta, como o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), que faz a gestão dos hospitais das universidades federais.

À míngua com Bolsonaro

Nessa cartilha de Bolsonaro, institutos e universidades federais estão à míngua. E para não fechar cursos, vão fazendo o que podem. Ações de assistência estudantil e até a segurança, por exemplo, ficam comprometidos. Segundo estudantes da Universidade Federal do ABC, uma das mais bem ranqueadas entre as mais novas, há casos de assalto no campus em Santo André e o restaurante universitário tornou-se um dos mais caros. Isso tudo enquanto Bolsonaro lotou o MEC com pastores que negociam propinas em barras de ouro.

No manifesto Educação e Ciência para reconstruir o país que esses mais de 100 candidatos assinaram em março, antes de formalizarem suas candidaturas, a relação entre ciência e saúde é lembrada pelo descaso “intencional e criminoso” com a saúde pública é destacado como “outra face visível e cruel da aversão ao conhecimento”. Entre as consequências, as mais de 685 mil vidas perdidas para a covid-19, que fazem do Brasil o país com maior número proporcional de mortos pela doença em todo o mundo.

E não foi pior pelo enorme esforço da comunidade científica brasileira e seu compromisso com a vida, na busca de soluções para a gravíssima crise sanitária, que contou com a rápida resposta do SUS, que sobreviveu às tentativas de desmonte, e de seus valorosos profissionais na linha de frente contra a pandemia.

“Temos de ter espaço nos lugares de decisão. A ciência no Brasil é forte e capilarizada, especialmente após a ampliação da rede federal de ensino superior, que aumentou vagas, cursos, a pós-graduação e permitiu que hoje tenhamos grupos de pesquisa no Brasil inteiro, no interior, e não mais apenas no eixo sul-sudeste. Mas os ataques são fortes e toda natureza que põem em risco o Brasil como nação soberana”, disse à RBA o ex-reitor da Universidade Federal de Goiás (UFG) e ex-presidente da Associação Nacional de Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes) Edward Madureira, candidato a deputado federal pelo PT de Goiás.

O golpe de 2016, segundo lembrou, abriu caminho para uma série medidas agravadas com o atual governo. E as conquistas a partir de 2004 foram desconstruídas. E há uma angústia crescente com a perda de cérebros, que já começa antes da universidade, ainda na educação básica. Jovens que são expulsos da escola, antes de revelar suas capacidades. “Isso preocupa demais porque vivemos o último bônus demográfico, que temos de aproveitar. Há um descréscimo de jovens entre a população brasileira, e sem eles não se constroi. Nenhuma nação deu certo sem esse tipo de investimento”, disse.

Meio para o protagonismo

Entre os 43 candidatos a deputado federal está também o professor titular de Física da USP Ricardo Galvão. De prestígio internacional, foi eleito em 2019 como um dos 10 cientistas mais importantes do mundo. No mesmo ano, foi demitido por Bolsonaro por divulgar os dados sobre a Amazônia produzidos pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o qual dirigia. 

Outro nome é o do presidente da Associação Brasileira de Incentivo a Ciência (Abric), Émerson da Costa. A entidade tem como objetivo fazer da ciência um meio para colocar o jovem como protagonista do próprio processo de aprendizagem. E transformar os estudantes em agentes de mudanças em suas regiões por meio da prática científica. Para isso oferece suporte para que as escolas se tornem ambientes transformadores. Ou seja, oferecer uma educação transformadora com mais prática científica. Além disso, divulga os trabalhos dos estudantes, validando-os nos meios acadêmicos, por meio de um periódico para jovens cientistas. Segundo a entidade, mais de 20 artigos já foram publicados.

A disputa por cadeiras nas Assembleias conta com 46 nomes comprometidos com a causa. Entre eles, o presidente licenciado da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE), Heleno Araújo Filho, candidato ao legislativo pernambucano. Para a liderança, a destruição dos avanços no setor a partir do golpe, reforçam a urgência da bancada da qual pretende construir.

“As conferências de educação realizadas durante os governos Lula foram muito importantes para nós, porque definimos políticas importantes para o país. O direito à eduação dos 4 aos 17 anos de idade, a ampliação do financiamento, a visão sistêmica da educação da crèche até a pós graduação nos levando até a construir um plano nacional de educação, que tem as digitais do movimento educacional brasileiro, mas que não foi colocado em prática devido ao golpe de 2016 e a eleição de Bolsonaro em 2018”, disse à RBA.

Desde então, segundo lembrou, há ataques brutais em todas as etapas e modalidades de educação, da básica à superior, que configuram o momento atual. “Aprendemos na marra que é preciso ter uma representação, uma bancada da Educação no Congresso, no Senado, nas assembleias, juntando trabalhadores, trabalhadoras ligadas aos setores de educação, ciência, tecnologia, para atuar de forma conjunta nessa relação permanente em cada estado, no Distrito Federal. Em 2014 conquistamos um plano muito bom, mas que não saiu do papel porque a maioria dos parlamentares não representa a educação, a ciência, a tecnologia em nosso Brasil”, disse.

Confira a lista:

* Candidaturas ao Senado

Maria Lúcia Cavalli Neder (ex-reitora da UFMT e ex-presidente da Andifes – PCdoB-MT)

Ricardo Vieira Coutinho (ex-governador da Paraíba – PT-PB)

Rosilene Corrêa Lima (professora aposentada, secretária de Finanças licenciada da CNTE; ex-diretora do Sinpro DF – PT-DF)

Teresa Leitão (deputada estadual – PT-PE)

Tiago Botelho (advogado, professor e coordenador do curso de Direito da Universidade Federal da Grande Dourados – PT-MS)

* Candidaturas à Câmara dos Deputados

Alessandra Minadakis (procuradora federal – Psol-GO)

Alice Portugal (deputada federal – PCdoB-BA)

Ana Cristina de Lima Pimentel (professora – PT-MG)

Ana Patrícia de Sousa Santiago (estudante e líder estudantil – PCdoB-RN)

Claudia Schiedeck (professora de magistério superior desde 1997, primeira diretora mulher eleita do Cefet-BG, primeira reitora do IFRS, reeleita em 2011 – PT-RS)

Cristina del Papa (técnica-administrativa em educação da UFMG; coordenadora geral do Sindifes e diretora da Diretoria Estadual da CUT-MG – PT MG)

Edward Madureira Brasil (professor e ex-reitor da UFG; ex-presidente da Andifes – PT-GO)

Elisangela dos Santos Araujo (secretaria agrária do PT – PT-BA)

Émerson da Costa (presidente da Associação Brasileira de Incentivo a Ciência – ABRIC – Psol-RS)

Enio José Verri (deputado federal, professor e economista – PT-PR)

Erika Kokay (formada em psicologia pela UnB; bancária da Caixa – PT-DF)

Fátima Cleide Rodrigues da Silva (ex-senadora 2003-2010; trabalhadora em educação – PT-RO)

Flauzino Antunes Neto (dirigente sindical da CTB-presidente do DF e membro da executiva nacional – PSB-DF)

Flaviano Rodrigues (professor Flaviano – PSB-GO)

Fernando Mineiro (professor da rede pública estadual – PT-RN)

Israel Matos Batista (prof. Israel Batista, deputado federal – PSB-DF)

Ivan Valente (deputado federal – Psol-SP)

Jaime Teixeira (professor, presidente da Federação dos Trabalhadores em Educação Pública do MS – PT-MS)

Jose Valdir Misernovicz (deputado federal – PT-GO)

Kátia Geralda Silva Goyatá (psicóloga, pedagoga, bacharel em Direito, atual vereadora – PDT-MG)

Kelly Cristina Gonçalves (advogada, especialista em direito penal e criminologia crítica – PT-GO)

Luciano Solar (professor e produtor cultural – PV-MG)

Luiz Carlos Vieira (Professor e ex-dirigente sindical – PT-SC)

Márcio Caniello (professor titular de Antropologia da UFCG – PT-PB)

Maria do Rosário (deputada federal – PT-RS)

Maria José de Sena (professora e ex-reitora da Universidade Federal Rural de Pernambuco – PSB-PE)

Marize Souza Carvalho (professora do magistério superior Faced/UFBA, dirigente nacional da CUT – PT-BA)

Paulo Burmann (reitor da UFSM 2017-2021, professor de Odontologia – PDT-RS)

Paulo Lamac (professor – Rede-MG)

Paulo Rubem Santiago Ferreira (professor da UFPE – Rede-PE)

Pedro Uczai (deputado federal – PT-SC)

Railton Nascimento Souza (professor na educação básica e superior no setor privado de ensino; presidente licenciado do Sinpro Goiás e CTB/Seção Goiás – PCdoB-GO)

Ricardo Galvão (professor de física-USP; ex-diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais/Inpe – Rede-SP)

Roberto Brandão (professor e ex-reitor do Instituto Federal do Maranhão – Cidadania-MA)

Roberto Policarpo Fagundes (técnico judiciário do TRT e ex-coordenador da Fenajufe – PT-DF)

Rosa Neide Sandes de Almeida (professora – PT-MT)

Rubens Otoni Gomide (deputado federal – PT-GO)

Ruth Venceremos (artista, produtora cultural e ativista – PT DF)

Tatiana Roque (professora titular do Instituto de Matemática da UFRJ, ex-presidente do sindicato docente da UFRJ – PSB-RJ)

Uberlando Tiburtino (ex-reitor do Ifro – MDB-RO)

Valdo Nóbrega (professor EBTT da UFPB – PT-PB)

Waldeck Carneiro (professor da UFF e deputado estadual – PSB-RJ)

Wesley Costa (ativista estudantil na UnB, ex-chefe de gabinete na Secretaria Municipal de Educação de Luziânia – PSB-GO)

  • Candidatos aos Legislativos estaduais e distrital

Adroaldo Almeida (Professor doutor em História do IFMA – PSB-MA)

Ana Célia Rodrigues Athayde (professora titular e ex pró-reitora da Universidade Federal de Campina Grande – PT-PB)

Ana Júlia Ribeiro (estudante e ativista da educação – PT-PR)

Antônio Gomide (professor – PT-GO)

Bartolina Ramalho Catanante (docente do Mestrado Profissional em Educação da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul – PT-MS)

Bia de Lima (Presidente do Sintego e presidente da CUT-GO – PT-GO)

Carina Vitral (ex-presidente da União Nacional dos Estudantes – PCdoB-SP)

Cleiton Oliveira (professor, mestre em história e deputado estadual – PV-MG)

Dani Balbi (primeira professora trans da UFRJ, Escola de Comunicação – PCdoB-RJ)

Djalma Nery (professor, vereador em São Carlos/SP, ambientalista – Psol-SP)

Edna Luzia Almeida Sampaio (professora da Unemat – PT-MT)

Elika Takimoto (professora, ex-coordenadora de física do Cefet/RJ – PT-RJ)

Erika Suruagy Assis de Figueiredo (professora e dirigente sindical licenciada – PT-PE)

Eugenia Portela de Siqueira Marques (professora do curso de Pedagogia da UFMS – PT-MS)

Fábio Antônio de Oliveira Junior (graduando em Economia, ex-coordenador do DCE UFG 2014-2017 – PT-GO)

Fabrício Rosa (professor de instituição privada, policial e doutorando em Direitos Humanos – PT-GO)

Gelson Albuquerque (professor titular aposentado UFSC – PSB-SC)

Gleice Jane Barbosa (professora da rede estadual e diretor da CUT-MS – PT-MS)

Graciele Marques dos Santos (professora, vereadora em Sinop – PT-MT)

Helenir Aguiar Schurer (professora da rede estadual e presidente do CPERS Sindicato – PT-RS)

Heleno Araújo Filho (professor da educação básica, presidente licenciado da CNTE – PT-PE)

Hemanuelle Di Lara Siqueira Jacob (professora da rede estadual de ensino – Psol-GO)

Henrique Lopes (professor – PT-MT)

Jerônimo Rodrigues (Professor no IFG, do qual foi reitor 2013-2021; ex-presidente do Conif – PSB-GO)

José Bertotti (ex-secretário estadual de Meio Ambiente e Sustentabilidade; ex-secretário estadual de Ciência e Tecnologia – PCdoB-PE)

Josete Dubiaski da Silva (vereadora, professora, Câmara de Curitiba – PT-PR)

Julio Anderson Bueno (professor – PT-GO)

Kátia Maria (Professora, mestre em Estudos Socioambientais pela UFG – PT-GO)

Li Li Min (Doutor Li, médico, neurocientista, gestor, professor da Unicamp – Cidadania-SP)

Luciane Carminatti (professora, deputada estadual e ex-secretária de Educação de Chapecó-SC – PT-SC)

Luis Cesar Bueno (professor; deputado estadual 2003-2019; vereador 1997-2003; diretor parlamentar da Asssembleia Legislativa – PT-GO)

Luiza Dulci (pesquisadora e ex-dirigente estudantil – PT-MG)

Macaé Evaristo (professora – PT-MG)

Magnus Eduardo Goulart (professor EBTT – IFPR Campus Curitiba – PT-PR)

Mariana Moura (pós-doutoranda Unifesp – PCdoB-SP)

Marina Sant’Anna (advogada – PT-GO)

Margarete Simon Ferretti (professora, ex-prefeita de Nova Santa Rita – PT-RS)

Marta Quintiliano (quilombola e pesquisadora – PT-GO)

Maurício Abdalla (professor – PT-ES)

Mauro Rubem (vereador – PT-GO)

Nilza dos Santos Barbosa (professora Nilza, da Universidade do Estado da Bahia – PT-BA)

Olívia Santana (primeira deputada estadual negra da Bahia; presidenta da Comissão dos Direito da Mulher da Assembleia Legislativa – PCdoB-BA)

Pedro Cesar Kemp Gonçalves (professor, psicólogo; deputado estadual – PT-MS)

Pedro Henrique de Barros Falcão (ex-reitor e professor adjunto da Universidade de Pernambuco – PCdoB-PE)

Roberto Carlos (ex-deputado estadual e professor – PT-ES)

Roberto Ramos (professor e ex-reitor da Universidade Federal de Roraima – Pros-RR)

Sofia Cavedon (professora; deputada estadual; pré-candidata a deputada estadual – PT-RS)

Vera Lúcia da Cruz Barbosa (Lucinha, executiva nacional do PT, Secretaria Nacional de Movimentos Populares e Setoriais MST/BA – PT-BA)

Wagner Romão (professor de Ciência Política na Unicamp – PT-SP)

* Candidato a deputado distrital

Edmilson Rodrigues de Lima (servidor técnico-administrativo da área da UnB; ex-dirigente do Sindicato dos Servidores Técnicos-Administrativo da UnB – PT-DF)


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