São Paulo – Na sabatina realizada pelo Jornal Nacional com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva nesta quinta-feira (25), a apresentadora Renata Vasconcellos introduziu a questão do agronegócio. Segundo ela, apesar de o setor ter crescido no governo do petista, hoje “grande parte do setor agro” não apoia o candidato. “O senhor atribui esse afastamento a desconfianças talvez geradas pelo relacionamento do seu partido com o MST?”, perguntou a apresentadora do JN.

“Não. Renata. Veja, eu queria que você trouxesse aqui o mais reacionário representante do agronegócio, e perguntasse para ele o que o Bolsonaro fez para ele que chegou perto daquilo que nós fizemos”, reagiu Lula. De acordo com ele, o agronegócio sabe que seu governo fez uma medida provisória que tratou da securitização e da negociação de uma dívida de quase R$ 85 bilhões.

O petista tem argumentado que, sem isso, o agronegócio teria quebrado. A apresentadora insistiu na questão, aparentemente com a intenção de “colar” em Lula a imagem de um candidato que incentiva invasão de terras. “E qual será o papel do MST no seu governo?”, perguntou Renata.

“O MST está fazendo uma coisa extraordinária: está cuidando de produzir”, respondeu Lula. “Não sei se você sabe, o MST, hoje, tem várias cooperativas e o MST é o maior produtor de arroz orgânico do Brasil. Você tem que visitar uma cooperativa do MST, Renata. Você vai ver que aquele MST de 30 anos atrás não existe mais. Agora, o Bolsonaro está ganhando alguns fazendeiros porque está liberando arma. Sabe?”, provocou.

Nesta sexta (26), todos as variedade de arroz orgânico das lojas Armazém do Campo, do MST, serão vendidas com pelo menos 13% de desconto. Em Belo Horizonte e São Paulo, 20%. A promoção – também para compras on-line – está sendo chamada internamente de “sextou com Lula“.

“Queremos pacificar este país”

Na sequência, Lula continuou: “Tem gente que acha que é bom ter arma em casa, que acha que é bom matar alguém. Não! O que nós queremos é pacificar esse país. Porque, para mim, o pequeno produtor rural, o médio produtor rural têm que viver pacificamente com os grandes negócios”, acrescentou Lula.

Em edição do jornal matutino Conexão, da GloboNews, nesta sexta-feira (26), a apresentadora Leilane Neubarth apresentou uma checagem da informação dita no JN sobre a produção de arroz orgânico pelo MST. A jornalista do canal pago da Globo confirmou a veracidade da informação de Lula.

O MST é o maior produtor de arroz orgânico da América Latina há mais de 10 anos, de acordo com o Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga). Por ocasião da 19ª Festa da Colheita do Arroz Agroecológico, na sede da Cooperativa de Produção Agropecuária Nova Santa Rita (Coopan), no Assentamento Capela, na região Metropolitana de Porto Alegre (RS), em março, a expectativa era de uma colheita de 15,5 mil toneladas de arroz orgânico. Isso equivale a cerca de 310 mil sacas de 50 quilos do produto.

Brilhante Ustra ou Paulo Freire

Em postagens no Twitter, Leilane postou elogios a Lula na noite da sabatina do JN. Ela elogiou o comportamento do petista em relação a Renata Vasconcellos. “Poderia citar muitas diferenças, mas me chama atenção o respeito de @LulaOficial pela Renata. Ele o tempo todo coloca ela presente e participando da entrevista. Homem que respeita mulher é outra coisa”, postou.

Ela também comparou Bolsonaro com Lula em relação ao “ídolo” de cada um. “Cada um cita seu próprio  ídolo … Uns citam Ulstra. Outros citam Paulo Freire”, escreveu a jornalista, em referência aos elogios de Bolsonaro ao torturador da ditadura Carlos Alberto Brilhante Ustra.

A menção de Leilane ao educador se deve ao fato de Lula tê-lo citado na sabatina. “Tem uma frase do Paulo Freire que é fantástica”, disse. “De vez em quando, a gente precisa estar junto com os divergentes para vencer os antagônicos. E agora, nós precisamos vencer o antagonismo do fascismo, da ultradireita”, acrescentou o petista.

Desse modo, após as postagens, as redes sociais bolsonaristas passaram a atacar a jornalista da GloboNews, por causa do erro de grafia do nome do torturador (ela escreveu Ulstra em vez de Ustra). As redes do ódio lideradas por Carlos Bolsonaro, porém, não contestam a informação principal: que o torturador Ustra, já morto, é ídolo do chefe de governo.

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