Vale do Anhangabaú

Lula: ‘Povo tá de saco cheio de tanta mentira, injustiça e sofrimento’

Lula rebateu “fake news” difundidas por “falsos profetas” e voltou a se indignar com a fome no maior produtor de alimentos do mundo

Ricardo Stuckert
Ricardo Stuckert
"É o povo que vai tirar Bolsonaro de lá", disse Lula

São Paulo – O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva deu vários recados ao “homem do Palácio do Planalto” neste sábado (20). O candidato do PT à presidência disse que quem vai tirar Bolsonaro de lá é o povo brasileiro, “que está de saco cheio de tanta mentira, injustiça e sofrimento”. Também disse que o adversário deve aprender a ser “mais humano”, já que ele não derramou uma lágrima pelas mais de 680 mil vítimas das pandemia no Brasil. “Para você a morte é normal. Para nós, a morte tem que ser evitada o máximo possível. O maior bem que Deus nos deu foi a vida. E a gente precisa gostar da vida, e gostar de ser feliz”. Lula falou a milhares de pessoas que enfrentaram o frio para ir ao Vale do Anhangabaú, no centro de São Paulo.

Foi o segundo grande comício da campanha da coligação Brasil da Esperança, e lançamento da campanha de Fernando Haddad ao governo de São Paulo. Na quinta (18), a campanha abriu a temporada de atos de rua em Belo Horizonte.

Rouco ao final do comício, Lula disse que o que seu adversário mais quer é que ele perca a voz. Mas alertou. “Eu não preciso falar para conversar com esse povo. Falo pelo olhar deles, pela alegria deles. Essa gente eu conheço desde que eu comecei minha vida política, em 1975. A gente se conhece.”

Religião e fake news

Lula disse que Bolsonaro rói as unhas a cada novo resultado das pesquisas que apontam a possibilidade de ser derrotado no primeiro turno. “Não pensei que eu tô nervoso. Quem deve estar nervoso é o meu adversário.” Ainda assim, disse que não é hora de “sossegar”. É preciso, segundo ele, combater as mentiras no WhatsApp. E, sem aceitar provocação, discutir política em todos os lugares, até o dia da eleição.

“Se o pastor tiver falando coisa séria, a gente respeita. Mas se ele estiver mentindo, a gente tem que enfrentá-lo e dizer que ele está mentido. Em nome de Deus, não se pode contar mentira”. Nesse sentido, Lula disse que tem “muita fake news religiosa correndo por aí”. A principal delas diz que o petista pretende fechar templos e igrejas. “Tem demônio sendo chamado de Deus, e tem gente honesta sendo chamada de demônio.”

Assim, Lula voltou a se apresentar como defensor do Estado Laico. “Todas as religiões têm que ser defendidas pelo Estado. Mas as igrejas não têm que ter partido político. As igrejas têm que cuidar da fé e da espiritualidade das pessoas. E não cuidar de candidaturas de falsos profetas ou de fariseus que estão enganando esse povo”.

Partidos e centrais destacam unidade histórica para ‘salvar a democracia’

Fome

O ex-presidente lembrou que, quando a situação do país era boa, num dia como hoje, era para as famílias se reunirem para fazer uma feijoada ou um churrasquinho. Mas lembrou que 33 milhões de pessoas estão passando fome, outras 105 milhões estão em situação de insegurança alimentar. No país que é o maior produtor de alimentos do mundo, ele afirmou que essa situação não tem explicação, a não ser a falta de dinheiro para o povo, bem como a falta de vergonha na cara do governo.

Disse que o governo tem que agir como um “coração de mãe”, tratando todos os filhos em condição de igualdade, mas com especial atenção para os mais frágeis e doentes. “É isso que o governo tem que fazer. Não é cuidar dos ricos ou dos banqueiros. É cuidar do povo trabalhador”.

Como afirmou no início da semana, em visita à fábrica da Volkswagen, Lula voltou a afirmar que vai reajustar a tabela do Imposto de Renda. Disse que não é justo os trabalhadores pagarem mais impostos diretos do que banqueiros e empresários. “Essa gente não paga sobre imposto sobre lucros e dividendos. Quem paga é o povo, que é descontado”.

E prometeu que o Brasil vai voltar a ser um país justo: “Essa país vai voltar a sorrir. As pessoas vão voltar a ter três refeições por dia. Vão voltar a ter emprego. O emprego vai ser melhor remunerado, o salário mínimo vai aumentar acima da inflação todo ano. A emprega doméstica terá direito trabalhista, férias, 13º e carteira assinada”.

Educação, Cultura, igualdade racial e política externa

Lula afirmou que a Educação é o fator mais importante para fazer o Brasil competitivo no cenário internacional. E saldou Fernando Haddad (PT), candidato ao governo de São Paulo, como “o melhor ministro da Educação que esse país já teve”.

“Foi com Haddad na Educação que a gente saiu de 3,5 milhões de alunos nas universidades para 8 milhões de alunos. Foi com ele que a gente criou o Prouni e colocou 2 milhões de jovens da periferia na Universidade. Que a gente criou o Fies com o estado como avalista, com mais 2 milhões. Foi o Haddad que pensou no Enem, que criou o Sisu. Foi junto com ele que fizemos o governo que mais fez universidade e escolas técnicas nesses país.

Dentre outras propostas, voltou a defender a recriação do Ministério da Cultura (MinC), rebaixado à condição de secretaria durante o atual governo. Também anunciou que pretende criar o Ministério dos Povos Originários, para cuidar dos povos indígenas. Também prometeu acabar com o preconceito racial, que classificou como uma “coisa nojenta”. “Nós não temos preconceito contra africanos. Pelo contrário. Temos orgulho do resultado da nossa miscigenação”. E disse que pretende resgatar a política externa “ativa e altiva”, que foi a marca dos seus dois mandatos.

Por outro lado, Lula agradeceu o carinho com que a ex-presidenta Dilma Rousseff foi recebida pelo público. “Dilma, embora tenha sido vítima do Congresso Nacional, o povo de São Paulo acaba de te absolver, porque deram um golpe em cima de você”. E ressaltou a competência técnica da companheira ex-ministra e sucessora. “Quisera Deus que todos os presidentes de República tivessem um chefe da Casa Civil como Dilma. Ela era a minha tranquilidade, o que me fazia dormir tranquilo”.

Brasil tem sorte “porque tem Lula”

lula anhangabaú
Dilma e Lula se abraçam ao chegar ao palco do Anhangabaú. Ex-presidenta se emocionou com público (Foto: Cláudia Motta)

Dilma, que o antecedeu, disse que Lula tem duas principais qualidades, rara combinação em políticos: grande capacidade de construir consensos em prol do futuro do país, bem como é um dos “maiores gestores” que ela conheceu. “O Brasil tem sorte, porque o Brasil podia não ter o Lula. E a gente tem. Vamos aproveitar. Nós temos a pessoa certa, no lugar certo”.

Dilma chegou a se emocionar, ao ser saudada pela multidão, aos gritos de “guerreira do povo brasileiro”. “Estou aqui porque estamos vivendo um momento decisivo, pessoal. Temos a oportunidade de reconstruir o nosso país, de reconstruir a autoestima do nosso povo. Temos responsabilidade, como mulheres que somos, de eleger o presidente Lula e o vice-presidente Alckmin, para tirar o nosso país dessa profunda crise que nós estamos”.

Ela também classificou Haddad como “um dos quadros mais capazes, mais competentes, com maior capacidade de transformação que eu conheci”. E destacou a oportunidade histórica de São Paulo poder eleger, pela primeira vez, uma mulher como vice-governadora, em referência à Lúcia França, companheira de chapa de Haddad.

“Lula com chuchu” em nome da democracia

Alckmin ressaltou que ele e Lula estiveram juntos há 38 no Vale do Anhangabaú, para o comício de encerramento da campanha pelas Diretas Já, em 1984. “Estávamos em partidos diferentes. Ele (Lula) construindo o PT, eu na bancada estadual do partido que propôs as Diretas – (o antigo MDB) 2, partido de Ulisses Guimarães, Franco Montoro, Aloysio Nunes e teotonio Vilella, lutando pelas diretas”, disse o candidato a vice. “As Diretas não passaram, mas ali começou a morrer a ditadura.”

Quase quatro décadas depois, disse que ele e Lula estão juntos de novo, “porque o Brasil precisa”. “A democracia está em risco, nós precisamos fortalecer o processo democrático”, destacou Alckmin. Assim como o petista, ele afirmou que os brasileiros não aguentam mais “tanto sofrimento”. “Na Saúde, o negacionismo, com quase 700 mil mortes na pandemia, e o presidente debochando dos que adoecem. Retrocesso na Educação, desemprego, fome. Por isso estamos aqui, para mudar o Brasil.”

Assista ao ato de Lula no Anhangabaú

Ricardo Stuckert
(Foto: Ricardo Stuckert)


Leia também


Últimas notícias