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Haddad lança plano de governo: ‘São Paulo voltará a ter emprego industrial’

Candidato do PT ao governo de São Paulo apresentou seu plano para o mandato, com 102 propostas

Reprodução/Youtube/Haddad
Reprodução/Youtube/Haddad
Líder nas pesquisas, Haddad não se imagina governando SP com Bolsonaro presidente: "Se eu Se eu ganhar aqui, o Lula ganhou, não tenho dúvidas disso"

São Paulo – O candidato do PT ao governo de São Paulo, Fernando Haddad, apresentou nesta segunda-feira (22) o plano de governo para o estado. Dentre as 102 propostas que constam no documento, ele destaca criar um “sistema estadual de inovação tecnológica”, estabelecendo parcerias entre o setor privado e as universidade públicas paulistas. O objetivo é explorar oportunidades de reindustrialização em São Paulo, com o estado contribuindo com apoio técnico e financeiro, atuando como parceiro desses novos empreendimentos. Ele citou o estado da Califórnia, nos Estados Unidos, e a cidade de Vancouver, no Canadá, como inspirações para esse modelo.

“Vou pilotar pessoalmente isso. Gosto de universidade, gosto de empreendedorismo. Vamos abrir uma mesa permanente de exploração de oportunidade de negócio em São Paulo. E se o estado tiver que entrar, vai entrar. Com apoio técnico e financeiro, quando for o caso. Seja participando do financiamento, seja por meio de crédito público”, detalhou o candidato, em entrevista coletiva. “Esse estado vai voltar a saber o que é emprego industrial”, acrescentou.

Haddad também afirmou que é preciso recuperar a capacidade de planejamento do estado. Como proposta, ele pretende lançar um programa de metas, caso seja eleito. “Hoje o estado de São Paulo não tem um plano de metas. Então você não consegue calibrar quantitativamente as propostas”, afirmou. Segundo ele, a capacidade de planejamento do governo foi “desmobilizada”. “Acabaram com a Emplasa (Empresa Paulista de Planejamento Metropolitano SA), com a CPOS (Companhia Paulista de Obras e Serviços)”, denunciou.

Clique aqui para ler o programa completo de governo de Fernando Haddad para São Paulo

As propostas de governo de Haddad foram construídas colaborativamente. Em junho, o então pré-candidato lançou a plataforma Fala SP. Por ela, os usuários puderam criticar e contribuir para o plano de governo, que foram divididas em três eixos: Inovação e do Desenvolvimento Sustentável; Oportunidades e Direitos; e Gestão Regional e Governança Participativa e Transparente.

Saúde e educação

Haddad também prometeu a construção de 70 Hospitais Dia, para desafogar a fila de espera por cirurgias de alta complexidade nos hospitais regionais do estado. “Só capital, fizemos 35. Um prefeito fez 35, um governador não faz 70? A gente sabe que dá para fazer. E vai economizar dinheiro. O Hospital dia é um procedimento mais em conta do que a internação no hospital regional”, disse o candidato.

Já na educação, o petista afirmou que pretende expandir o ensino em tempo integral, em consonância com o Plano Nacional de Educação (PNE), desenvolvido por ele quando foi ministro do setor. Mas, diferentemente do que ocorre atualmente, segundo ele, é preciso reestruturar o projeto pedagógico dessas escolas. Outra proposta é ampliar o ensino técnico, em parceria com o Sistema S.

“O que está acontecendo é que estão expandindo a escola de tempo integral e a proficiência do jovem está menor. Tem alguma coisa errada nisso”, criticou. “Tem um descompasso que só se explica pelo projeto pedagógico. Ou a gente arruma esse projeto e reforça as cadeiras básicas, para que a juventude tenha uma profissão ao sair do ensino médio, ou a gente vai ficar expandindo jornada sem resultado de aprendizagem”.

Meio ambiente

Ao lado de Marina Silva (Rede), candidata a deputada federal, também externou preocupações com o meio ambiente. Ele citou que, durante o governo Bolsonaro, a região amazônica perdeu “uma Bélgica” em área desmatada. Esse fenômeno já afeta o regime de chuvas em São Paulo, que viu ampliar em 30 dias o período de estiagem no estado.

“Você não precisa derrubar uma árvore para aumentar a produção de alimentos”, disse Haddad. “O que está afetando a produtividade é justamente o desrespeito ao meio ambiente. O latifúndio consegue se proteger melhor, porque faz investimentos em captação de água, coisas que o pequeno não consegue fazer. O que a gente precisa é proteger o pequeno, para garantir a produção de alimentos”. Ele destacou que a produção per capita dos principais gêneros alimentícios – como arroz, feijão e mandioca – estão caindo em São Paulo, devido à falta de assistência aos agricultores familiares.

E criticou seus adversários por se calarem sobre os desafios que as mudanças climáticas impõem. “Não podemos fingir que não é conosco. Nesses quatro anos, não ouvi um pronunciamento do governador. O que o Rodrigo (Garcia) e o Tarcísio (de Freitas) pensam do desmatamento? Não sei. ‘Ah, mas vou perder o público conservador, se falar o que eu penso’. Então, dá-lhe negacionismo”, disse Haddad. “Aí perde-se tudo”, frisou.

Combate a crime cibernético

Em seu programa, Haddad também incluiu criar um departamento de combate a crimes cibernéticos. A ideia é reforçar a capacidade de inteligência das polícias para investigar esse tipo de crime. Nesse sentido, ele propôs adquirir “a melhor tecnologia” disponível para desbaratar quadrilhas e rastrear o destino do dinheiro desviado.

“Isso está afetando a economia popular, muita gente está caindo em golpe de estelionatários, em virtude da tecnologia. Esse departamento tem que ter a inteligência compatível com a evolução do crime”, afirmou o candidato. “Não é possível a quantidade de crimes que estão sendo cometidos, em geral associado ao furto de celular. Isso virou um problema grave em São Paulo. A não ser na propaganda do governo, onde parece que está tudo bem. Mas vai na periferia perguntar, não está nada bem.”

Também na área da segurança pública, o candidato voltou a defender a formação continuada dos policiais, associada a um plano de metas de combate aos principais crimes. “Temos que casar o que a sociedade quer das polícias e o que o policial quer da carreira. Essas coisas têm que estar compatibilizadas. Aí todo mundo cresce junto”, disse Haddad. “Nós podemos sair grandes dessa trajetória”, ressaltou.

Saneamento

Haddad também afirmou que São Paulo pode viver uma “era de ouro” na área de Saneamento. Isso porque o estado passou a receber montantes vultosos de recursos advindo dos royalties do pré-sal. Esses recursos, segundo ele, devem ser investidos ecologia – incluindo saneamento – e educação. Ele citou, por exemplo, investimentos em despoluição na região do litoral norte do estado.

“Por que não fazer um plano de saneamento para a região e acabar, de uma vez por todas, com a poluição ali? Seria um plano maravilhoso, que ia alavancar o turismo, assim como diversas outros setores”, afirmou. O saneamento tem que estar na ordem do dia, porque é meio ambiente na veia”.

Pedágios

Haddad anuncia em seu programa que vai “padronizar” os contratos de concessão dos serviços públicos no estado. Ele critica principalmente a mudança legislativa que passou a permitir a renovação antecipada das concessões, como, por exemplo, das rodovias. “Qual é a lógica do pedágio? Pretendo duplicar a rodovia. Então instala-se o pedágio, ok. Em 20 anos, vou cobrar um pedágio caro, mas vou duplicar. Ao final de 20 anos, o investimento está feito e amortizado. Aí você reduz o pedágio”, explicou. “O que acontece em São Paulo? A concessão não vence e o pedágio não cai. Em que país do mundo é assim?”, criticou.

Além disso, a antecipação dos contratos de concessão abre espaço para todo tipo de “bandelheira”, de acordo com o candidato. “Isso é sinônimo de bandalheira. Nunca ousaria renovar um contrato que não está vencido. Ou a gente estabelece regras de lisura administrativa, ou a gente vai cair num buraco negro terrível”.

Lula e renda básica

Perguntado como seria a cooperação do governo de São Paulo com o governo federal em caso de vitória de Bolsonaro, Haddad afastou tal hipótese. Acho muito difícil eu ganhar e o (ex-presidente) Lula perder. Se eu ganhar aqui, o Lula ganhou. Não tenho dúvidas disso”. Nesse sentido, ele ressaltou que pretende firmar parcerias com um eventual governo Lula para desenvolver programas de nas áreas de habitação e combate à pobreza, por exemplo.

Ao final, Haddad também afirmou que pretende implementar um programa de renda básica de cidadania, bandeira história do vereador Eduardo Suplicy (PT). Segundo ele, o principal desafio está no “desenho” do programa. Isso porque tem gente sem qualquer renda, outras na informalidade, além dos trabalhadores com emprego formal.

“É um desafio técnico grande. Acredito que a transição que vamos viver no campo monetário, a moeda vai sumir, esse é um caminho de oportunidade. Se as transações foram todas digitais, fica muito fácil fazer um programa de renda básica”. Por outro lado, a proposta ganha relevância em função das mudanças que estão ocorrendo no mundo do trabalho, especialmente com o avanço da automatização. “Tem processo de automação em curso que ninguém sabe aonde vai dar. Do que nós vamos viver? Vamos ter que redesenhar a civilização”.


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