Quem deve, teme

Bolsonaro tem repetido a diversos interlocutores que pode ser preso, caso perca as eleições

“Inquieto” e “transtornado” em alguns momentos, presidente da República tem dito que reagirá e que não será preso com facilidade

Lucio Távora/Xinhua
Lucio Távora/Xinhua
"Os relatos são unânimes: o tiroteio não foi no mesmo local em que Tarcísio estava. Quem já ouviu um tiroteio sabe que tiros podem ser ouvidos de longe"

São Paulo – Com dificuldade de se recuperar nas pesquisas eleitorais, o presidente Jair Bolsonaro (PL) está cada vez mais inquieto e vem repetindo a interlocutores diversos em Brasília, inclusive de seu próprio governo, que tem certeza de que será alvo de inquéritos que teriam como objetivo levá-lo à prisão caso perca as eleições, em outubro. Bolsonaro também acredita que seus filhos podem se tornar alvos mais fáceis caso deixe a Presidência da República. 

Essa possibilidade estaria deixando-o “transtornado”, em alguns momentos. As informações são da colunista Mônica Bergamo, do jornal Folha de S.Paulo. A coluna ouviu ontem (1º) quatro relatos diferentes que descrevem que esse assunto vem sendo pautado com frequência, com variações apenas quanto ao tom do presidente. Segundo políticos e autoridades que não integram o governo, mas que conversaram nos últimos dias com ele, Bolsonaro tem dito que reagirá e que não será preso com facilidade. 

Ainda segundo esses interlocutores, o mandatário tem demonstrado nervosismo e repetido o discurso que fez no dia 7 de setembro do ano passado, na avenida Paulista, em São Paulo. No ato antidemocrático, em que atacou as instituições, Bolsonaro também afirmou que sairia do Palácio do Planalto “preso, morto ou com vitória”. A coluna apurou que nas conversas em Brasília, o presidente também vem dizendo, na mesma linha, que pode haver “morte” caso tentem prendê-lo. Dois ministros de seu governo também confirmaram que Bolsonaro afirmou sobre a possibilidade de ser detido em mais de uma ocasião. 

Alvo de denúncias

Um de seus auxiliares descreveu que o presidente fala em perseguição e que “estão loucos” para prendê-lo. Mas ele não seria “ingênuo” como seus antecessores. Uma referência aos ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Michel Temer (MDB). Lula chegou a ficar 580 dias na prisão por um processo julgado posteriormente parcial e que anulou todas as acusações contra o petista. Já Temer, conduzido duas vezes às celas pela força-tarefa da Operação Lava Jato no Rio de Janeiro, foi solto em menos de 10 dias. 

A preocupação de Bolsonaro leva em conta as centenas de denúncias de que é alvo, principalmente por sua conduta durante a pandemia de covid-19 e pelos ataques ao sistema eleitoral. Caso seja derrotado e deixe a Presidência, o mandatário será julgado pela Justiça comum, o que eleva as possibilidades de responsabilização penal. 

PEC dos aliados

Essa hipótese explica em parte, como reporta a coluna, a intensidade dos ataques de Bolsonaro ao Supremo Tribunal Federal (STF) e ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Assim como a manobra de seus aliados no Congresso, que vêm articulando uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) para impedir que ex-presidentes sejam presos. Bolsonaro estaria cada vez mais acuado. O que o leva a aumentar as reações antidemocráticas numa escala sem limite.

A própria PEC, conforme mostrou a RBAvem sendo usada por políticos do chamado centrão – grupo de partidos que apoia e sustenta o governo no Legislativo – para comprometer o presidente e seus apoiadores com uma trégua nos ataques ao judiciários. A ideia do grupo é forçar um acordo com os demais poderes.

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