Auxílio Brasil

Auxílio Brasil: Lula domina tema nas redes e pesquisas não asseguram retorno eleitoral esperado por Bolsonaro

Auxílio Brasil, apresentado por Bolsonaro para reverter rejeição entre os mais pobres, ainda não é garantia de retorno à sua campanha eleitoral

Marcello Casal/ABR
Marcello Casal/ABR
Bolsonaro diz que vai manter, mas não previu isso na lei

São Paulo – A campanha de Jair Bolsonaro à reeleição não conseguiu ainda, superar nas redes a discussão do tema Auxílio Brasil. O benefício lançado por Bolsonaro não para atender a uma emergência nacional, mas como manobra eleitoral, começou a valer este mês. Oficialmente, o projeto do governo prevê recursos até dezembro, mas o presidente vem afirmando que pretende seguir com ele em 2023. Algumas pesquisas chegaram a apontar na semana passada para um crescimento da candidatura do presidente entre os mais pobres. Porém, o resultado não se repetiu na pesquisa divulgada nesta segunda (15). Novos levantamentos previstos para ainda hoje (15, do Ipec, ex-Ibope), quarta (17, Genial/Quaest) e quinta (18, Datafolha) poderão ser um tira-teima em relação a esse comportamento do eleitorado.

Além disso, o campo de apoio ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) teve larga vantagem na repercussão do Auxilio Brasil nas redes sociais, como mostra o cientista de dados Pedro Barciela.“Entre os 30 posts que mais engajaram sobre o auxílio no último mês, a dupla Lula e Janones produziu 3,5 milhões de interações. Jair Bolsonaro, Eduardo Bolsonaro, Flávio Bolsonaro, Carla Zambelli e Carlos Jordy, somados, não chegaram a 1 milhão de interações sobre o tema”, apontou.

A análise levou em conta, de um lado, o engajamento do deputado federal André Janones (Avante-MG) na campanha de Lula, sobretudo com sua atuação nas redes. E, de outro, atores próximos ao bolsonarismo. Em live no fim de semana com o deputado, Lula assumiu o compromisso de manter a ajuda de R$ 600 se eleito. Enquanto isso, Bolsonaro chegou a este valor às pressas, em jogada considerada eleitoreira para tentar reverter sua rejeição.

No auge da pandemia, quando o programa foi criado, Bolsonaro queria originalmente auxílio de R$ 200 – o valor ficou maior graças à oposição. Depois de seu governo decretar unilateralmente o fim da emergência sanitária e suspender o pagamento, o presidente fez retornar agora o Auxílio Brasil de R$ 600 às vésperas das eleições. Contudo, ainda que Bolsonaro “prometa”, a manutenção desse programa não tem fundamentação legal e orçamentária.

Públicos alvos

Barciela lembra da força de Janones nas redes sociais, em especial no Facebook, uma plataforma com presença massiva do bolsonarismo, com perfil de usuários mais velhos. “Janones conseguiu, em 2022, mais de 15 milhões de interações falando de auxílio no Facebook. Isso é 2.5x mais do que o presidente Bolsonaro conseguiu no mesmo período, tratando do mesmo tema. Esse é o peso de André Janones em uma plataforma dominada pelo bolsonarismo.”

Soma-se a isso, o fato de que Janones não faz parte de uma oposição clássica ao bolsonarismo. Ao contrário, ele dialoga “fora da bolha” da oposição. “Janones não faz parte do antibolsonarismo nas redes, portanto não é esse o perfil de usuário que ele atrai. Por onde ele circula? Por grupos que vão desde ‘vitrini tuppeware’ até ‘notícias auxílio negado’. Ele chega em quem quer – e precisa – falar sobre o benefício”, completa Barciela.

Redes de impacto de Janones no Facebook revelam força descentralizada. Fonte: Pedro Barciela

Sequestro do auxílio

Além da insegurança sobre o futuro do auxílio com Bolsonaro, também pesa a decisão controversa do presidente de assinar um decreto para autorizar a concessão de empréstimos consignados ao auxílio. Com a medida, bancos podem explorar este dinheiro de ajuda emergencial e ofertar empréstimos a juros de 80% ao ano. Especialistas avaliam a possibilidade como um “sequestro” do benefício, que pode enforcar os beneficiários em dívidas impagáveis. As dificuldades vão desde a expectativa de redução do auxílio a até a incerteza sobre sua continuidade.


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