Mobilização

Ato no Congresso defende processo eleitoral e repudia ‘plano golpista’ de Bolsonaro

Organizações reafirmam unidade pela democracia e respeito ao resultado das urnas. Para ativista, população fará em outubro o que a Câmara não teve coragem

Reprodução/YouTube
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Raimundo, Sérgio (ao lado de Rud), Douglas e Tânia: sociedade precisa se unir para evitar ameaças às eleições e a própria democracia

São Paulo – Ato no Senado, nesta terça-feira (2), repudiou iniciativas do atual presidente da República de atacar o sistema eleitoral. “Podem ter certeza: o plano golpista de Bolsonaro não vingará, porque a classe trabalhadora não vai permitir”, afirmou o presidente da CUT, Sérgio Nobre. “A gente precisa botar o carro nessa direção, da utopia de uma democracia que a gente ainda não viveu. Para isso, precisa tirar essa pedra do caminho chamada Jair Bolsonaro”, disse o professor Douglas Belchior, da Coalizão Negra por Direitos, uma das entidades que compõem a Coalizão em Defesa do Sistema Eleitoral, responsável pela manifestação de hoje.

Entre as várias organizações que participaram, houve também cobranças ao papel do próprio Congresso na manutenção do presidente em seu cargo. Manifestantes lembraram dos vários pedidos de impeachment – mais de uma centena – seguidamente ignorados. “No dia 2 de outubro, o povo brasileiro vai fazer o que a maioria dessa Câmara não teve coragem de fazer em 2021. Ou seja, afastar esse genocida da Presidência da República”, afirmou o coordenador da Central de Movimentos Populares (CMP), Raimundo Bonfim. Ele interpretou como possível “provocação” a ida de Bolsonaro a São Paulo no próximo dia 11, quando será lida a Carta à Brasileiras e Brasileiros em Defesa do Estado de Direito. “Mas nós não cairemos na provocação.”

Sem sair da rua

Pelo MTST (sem-teto), Rud Rafael acrescentou que Bolsonaro age apenas com a preocupação de não ser preso. Mas ele lembrou que a defesa da democracia construiu um “campo de unidade”. E que as organizações estão “obstinadas” em defender o processo eleitoral e ajudar a construir um projeto de reconstrução do país. “Não vamos arredar o pé das ruas”, afirmou.

Ao final do evento, foi lida uma carta na qual se afirma que os movimentos sociais “não estão inertes” e permanecerão unidos em defesa da democracia e do sistema de votação. Segundo Tânia de Oliveira, da coordenação da Associação Brasileira de Juristas pela Democracia (ABJD), o documento será entregue ao presidente do Senado e do Congresso, Rodrigo Pacheco (PSD-MG). Convidado para o ato, ele deverá receber representantes da Coalizão amanhã.

O pior da política

Douglas Belchior disse que o atual sistema eleitoral brasileiro ainda não é o ideal e representa o status quo, mas observou que neste momento é preciso se unir na defesa da democracia. O movimento, definiu o professor e ativista, é uma “reação à negação da ideia de alcance de uma democracia que a gente ainda não viveu”. Por enquanto, as Casas legislativas “continuam sendo espelhos de negação dos direitos de representação”, citando o caso da baixa presença de negros no parlamento. Assim, reforçou, diferentes organizações estão juntas “contra uma vertente do que tem de pior na política brasileira”.

O ato no Anexo II do Senado teve a presença de representações internacionais. Por isso, o presidente da CUT fez referência ao recente encontro de Bolsonaro com embaixadores para atacar o sistema eleitoral. “A gente fica muito envergonhado por aquele episódio tão grotesco”, afirmou. “A gente sabe que a democracia é muito mais do que o direito de votar, de se expressar. É na democracia que a classe trabalhadora pode se organizar, reivindicar, conquistar e ampliar direitos”, afirmou Sérgio Nobre

Ação do fundamentalismo

Representante da Comissão Brasileira de Justiça e Paz (CBJP, vinculada à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), Nuno Coelho lamentou a ação fundamentalista no atual governo. “Se falou tanto em Deus nos últimos quatro anos e não sabemos que Deus é esse”, afirmou, lembrando dos 33 milhões de brasileiros que passam fome atualmente. Ele afirmou que a democracia, mesmo a que ainda está por ser “concretizada”, permaneceu porque foi defendida pelos movimentos sociais, incluindo a Igreja. A reverenda Tatiane Ribeiro, do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs (Conic), reforçou: “Deus não está acima de ninguém, mas no meio do nosso povo, junto dos que sofrem, dos que passam fome”.

O desembargador Mário Pinheiro, da Associação Juízes para a Democracia (AJD), afirmou que o processo democrático precisa ser defendido em todos os momentos, enquanto Daniel Barros, do coletivo de policiais antifascistas, destacou que existem muitos integrantes das forças de segurança públicas dispostos a lutar pela ordem democrática. Segundo ele, em nenhum momento Bolsonaro quis governar, mas apenas implementar um sistema autoritário.

Durante o ato, parlamentares de vários partidos se revezaram no microfone, além de Rita Lima, vice da Associação Nacional das Defensoras e Defensores Públicos (Anadep). Quase ao final, o advogado Daniel Godoy falou sobre o caso do policial Marcelo Arruda, assassinado em julho no Paraná. “Ele (Jorge Guaranho, autor dos disparos que mataram Arruda) participa de vários grupos de bolsonaristas, é um efusivo defensor da violência.” Criticou a polícia do Paraná e afirmou que a pressão no caso fez com que o Ministério Público denunciasse Guaranho por homicídio duplamente qualificado por motivação política. “A família (de Arruda) espera que as pessoas não se deixem abater por esses processos de violência.”


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