Diferente da polícia

MP aponta morte de Marcelo Arruda por ‘motivação fútil por preferências político-partidárias antagônicas’

Ministério Público divergiu das conclusões policiais e vai denunciar Jorge Guaranho por homicídio duplamente qualificado. Promotor espera que caso seja “freio” contra a violência

Reprodução/GloboNews
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Tiago Mendonça e Luís Marcelo Silva, do MP do Paraná: sequência de fatos mostra que autor do crime teve motivação política

São Paulo – O Ministério Público (MP) do Paraná divergiu das conclusões da Polícia Civil e identificou motivação politica na morte do petista Marcelo Arruda pelo bolsonarista Jorge Guaranho no último dia 9, em Foz do Iguaçu. Segundo os promotores Tiago Lisboa Mendonça e Luís Marcelo Mafra Bernardes da Silva, o crime teve “motivação fútil por preferências político-partidárias antagônicas”. O policial penal Guaranho, que deixou a UTI ontem (19), será denunciado por homicídio duplamente qualificado.

“Esperamos que esse caso emblemático do Marcelo Arruda sirva de freio de arrumação para essa escalada da violência que o nosso país tem vivenciado no espectro político-partidário. Nós precisamos parar com isso”, disse Mafra.

Indícios “veementes”

Em entrevista coletiva na tarde desta quarta-feira (20), os promotores detalharam a sequência de fatos que levaram ao crime. E apresentaram uma denúncia “lastreada em elementos de convicção bastante meticulosos”, com um “veemente” conjunto de indícios. Dessa forma, divergiram da Polícia Civil, que em menos de uma semana concluiu que o assassinato de Arruda não teve fundo político.

Segundo os promotores, que ao longo da coletiva exibiram fotografias com a sucessão de acontecimentos, durante churrasco após um jogo de futebol Guaranho soube que ainda naquela noite de sábado haveria uma festa na Associação Recreativa e Esportiva da Segurança Pública (Aresf) “com decoração alusiva” ao PT e ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O guarda municipal Arruda, que comemorava seus 50 anos, era tesoureiro do partido no município. Associado da entidade, o policial penal foi até lá de carro – uma distância de poucos metros – com um aparelho de som reproduzindo uma canção cujo refrão era “O mito chegou/ E o Brasil despertou”.

Divergências

Ao chegar, ele confirmou que haveria a festa e, inconformado com a “apologia explícita”, passou a provocar os presentes, ofendendo Lula e enaltecendo Jair Bolsonaro. Algumas pessoas disseram a ele que se tratava de uma festa privada, restrita a convidados. A própria Pâmela, mulher de Marcelo Arruda, interveio e pediu que Guaranho se retirasse. O policial, então, exibiu sua pistola. Saiu, mas prometeu voltar, o que aconteceu 11 minutos depois, já sem a mulher e o filho, que até então o acompanhavam.

Esse é um ponto de divergência entre a Polícia Civil e o MP. Para os policiais, Guaranho se sentiu “humilhado” com o tratamento que recebeu. A motivação, portanto, seria torpe, por motivo pessoal. O promotor Tiago Mendonça entende que foi o fator político que levou Guaranho a voltar à sede da associação. “O Ministério Público entende – a denúncia é muito clara nesse sentido – que esse retorno se deu em razão desse mesmo motivo fútil”, afirmou. “Houve realmente esse link entre o primeiro e o segundo momento”, acrescentou Mafra.

“Aqui é Bolsonaro”

Assim, aos gritos de “Aqui é Bolsonaro” e “Petista vai morrer tudo”, segundo os relatos de testemunhas, Guaranho desferiu dois tiros, que atingiram o abdome e a coxa direita de Marcelo. Em seguida, ele se posiciona bem próximo do petista e se prepara para o terceiro disparo, que só não atingiu Marcelo pela intervenção de Pâmela. Caído, o guarda municipal – que após a primeira passagem de Guaranho havia buscado seu revólver – atira de volta. O MP considera que foi um ato de legítima defesa. Dele próprio, da mulher e dos convidados que ainda estavam lá. Essa, por sinal, é a segunda qualificação do crime: pôr outras pessoas em perigo.

Ainda na denúncia, os promotores afirmaram não ter sido constatada prática de crimes de ódio, discriminação ou contra o Estado democrático de direito. Já as pessoas que agrediram Guaranho com chutes, após os tiros, foram identificadas e deverão ser objeto de outra investigação.

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