PEC do desespero

Lula diz que Bolsonaro subestima os brasileiros com auxílios eleitoreiros. ‘Acha que pode comprar o povo’

Ao comentar a aprovação no Senado do pacote social do governo, o ex-presidente ponderou que a população mais pobre precisa de assistência, mas as medidas de Bolsonaro “não resolvem, porque tudo vai acabar em dezembro”

Ricardo Stuckert/Marcos Corrêa/PR
Ricardo Stuckert/Marcos Corrêa/PR
De acordo com a AtlasIntel, 51,5% dos mineiros desaprovam o atual governo, antes era 21,1%. Já o número dos que aprovam caiu de 0,9% e está em 45,6%

São Paulo – O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou, nesta sexta-feira (1º), que o presidente Jair Bolsonaro (PL) subestima a população brasileira com a criação de novos benefícios sociais, a três meses do primeiro turno, que classifica como “eleitoreiros”. De acordo com o pré-candidato ao Palácio do Planalto, Bolsonaro “acha que pode comprar o povo. (…) Mas não vai”, declarou Lula. 

A crítica foi feita em entrevista à Rádio Metrópole, da Bahia, e faz referência à Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 01/2022, aprovada ontem (30) no Senado, que permite ao governo federal instituir o Estado de Emergência. Na prática, a medida é uma maneira de a gestão Bolsonaro contornar a proibição que atualmente o impede de criar um pacote social em ano eleitoral. E, com isso, reverter sua reprovação, já que, com o Estado de Emergência, o presidente poderia ampliar o Auxílio Brasil, o vale-gás, criar o auxílio a caminhoneiros e taxistas e financiar a gratuidade de transporte coletivo para idosos. 

Lula pondera que as políticas sociais são importantes diante da crise sanitária e econômica que se arrasta desde 2020. No entanto, ele destaca que o pacote de benesses de Bolsonaro “não resolve o problema. Tudo isso vai acabar em dezembro”, lembra o petista. Pelo texto do Executivo, os auxílios previstos valem até o último dia deste ano. A proposta ainda precisa também passar em duas votações na Câmara dos Deputados. 

Projeto eleitoral

“Na verdade, esse projeto que ele mandou é um projeto eleitoral. Ele acha que pode comprar o povo, que o povo é um rebanho. E que o povo não pensa e vai acreditar em mentira, mas não vai. As pessoas podem mentir para um, para dois ou três, mas não podem mentir para o mundo inteiro todos os dias. (…) O Bolsonaro sabe que o problema dele não é a urna eletrônica. O problema dele chama-se povo brasileiro”, ressaltou o pré-candidato, acrescentando que não acredita na reeleição do atual presidente. 

“Ele vai deixar a Presidência da República porque uma coisa chamada povo brasileiro, quase 150 milhões de eleitores, vão para urna dizer ‘chega’. O Brasil precisa de gente melhor, que fale em amor, paz, solidariedade e fraternidade. (Precisa) de alguém que conheça a palavra carinho e compaixão. E não uma pessoa que só vende ódio, só instiga ódio e divergências”, emendou Lula. 

Favorito na corrida pela presidência da República, o petista observou ainda que, caso eleito, não tentará a reeleição ao término do mandato. De acordo com Lula, ao lado de seu vice, Geraldo Alckmin (PSB), a prioridade de um eventual governo será “recuperar o país”. “Deixar preparado, gerar emprego, combater a fome, para recuperar a nação. Não vou ser um presidente que vai pensar na reeleição. Quero dar 4 anos da minha vida para esse país e depois gente mais nova disputa a eleição”, comentou. 

Agenda na Bahia

Durante a entrevista, Lula também voltou a fazer críticas ao chamado “orçamento secreto”, criado pelo atual presidente para angariar apoio do Congresso. É por meio desse dispositivo que são liberadas as chamadas “emendas do relator” sem qualquer transparência. O pré-candidato disse ter como proposta o orçamento participativo em que a sociedade civil, por meio de conferências municipais, estaduais e federais, aponta para onde e como devem ser investidos os recursos da União. 

O ex-presidente também prometeu novamente revogar todos os sigilos de 100 anos impostos pelo presidente Bolsonaro sobre casos sensíveis que atingem o governo. E declarou ainda que, se ganhar as eleições, pretende viajar pelo mundo “para restabelecer a credibilidade internacional do Brasil”. “Eu tenho na política externa uma crença muito forte. Tenho certeza que vai entrar muito investimento neste país, quero construir parcerias”, anunciou Lula. 

O petista está a caminho de Salvador, onde chega às 16h desta sexta-feira, para participar de agendas com o governador Rui Costa (PT). Lula também participará neste sábado da caminhada do 2 de julho, que marca a independência do Brasil na Bahia. “Não vou fazer motociata, eu vou conversar com o povo”, cutucou o ex-presidente. Bolsonaro e o pré-candidato do PDT, Ciro Gomes, também confirmaram presença na comemoração da capital baiana. 

Confira a entrevista completa

Redação: Clara Assunção – Edição: Helder Lima