Em alerta

Deputado da CPI do Capitólio vê risco ‘similar’ de violência fascista no Brasil

Deputado Jamie Raskin estimula grupo brasileiro a fazer denúncia internacional das ameaças de golpe e buscar apoio global à democracia

guilherme gandolfi
guilherme gandolfi
Assim como na invasão do Capitólio, homem dos chifres já esteve na Avenida Paulista para pedir golpe

São Paulo – O deputado do Partido Democrata Jamie Raskin, do estado de Maryland, recebeu nesta sexta-feira (29) integrantes de uma delegação de brasileiros que visita os Estados Unidos. Raskin é integrante da comissão do que investiga a invasão ao Capitólio em 6 de janeiro de 2021, uma espécie de CPI. Os ataques ao prédio do Congresso foram desencadeados por apoiadores de Donald Trump, no dia em que Câmara e Senado ratificariam a vitória de Joe Biden sobre Trump na eleição presidencial. A invasão resultou em cinco mortes.

“Estou muito preocupado com o que acontece no Brasil, porque é algo que pode se tornar muito similar ao que vivemos no 6 de janeiro. Bolsonaro é um grande admirador de Donald Trump e dos amigos dele. Sabemos que ele tem se envolvido com Steve Bannon, um assessor político chave para Trump. A extrema direita no mundo vem mostrando um massivo desrespeito pela democracia constitucional e pelas instituições”, disse o parlamentar.

A agenda de encontros entre 18 entidades da sociedade civil e autoridades americanas teve como objetivo denunciar a escalada golpista no Brasil. Articulados pelo Washington Brazil Office (WBO), os encontros buscaram ainda apoio internacional à defesa da democracia e do Estado de direito. Raskin não descarta citar no relatório da CPI do Capitólio o caso brasileiro, como exemplo de articulação internacional fascista contra instituições democráticas.

“Fiquei sabendo que o presidente Bolsonaro tem feito críticas ao processo eleitoral e promovido grandes mentiras a respeito. Então, isso pode ser prelúdio de uma tentativa de atacar o processo eleitoral ou colocar-se à margem desse processo, caso perca. Essa é uma marca típica de partidos fascistas”, disse o deputado. “Quero ter certeza de que os EUA vão se colocar de forma muito forte ao lado das instituições democráticas no Brasil.”

Vacinas democráticas

A representante da organização Pacto pela Democracia no encontro, Flávia Pellegrino, conversou com o Seu Jornal, da TVT. Ela classificou a conversa com Raskin como “extremamente positiva”. “Embora ele não estivesse surpreso com o golpe em curso produzido pelo presidente Bolsonaro, ele demonstrou imensa preocupação. Sobretudo com os perigos e chances que temos de uma tentativa de reprodução do episódio do Capitólio no Brasil”, disse.

O alerta é de que Bolsonaro replique a cartilha do ex-presidente norte-americano. Trump, antes das eleições, passou a duvidar do sistema eleitoral do país e insuflou um levante contra a democracia do país. Mesmo contornada e sem apoio de Mike Pence, vice de Trump e então presidente do Congresso, o episódio violento ficou marcado como uma tentativa de golpe. Já levou a centenas de prisões e o próprio Trump é alvo de novas investigações pela CPI do Capitólio.

cpi do capitólio
Seguidores da mesma cartilha. Bolsonaro sempre bajulou Trump, que é investigado pela CPI do Capitólio

“Nosso objetivo, enquanto comitiva, além de alertar os americanos foi ouvi-los. Entender o que as investigações da CPI do Capitólio têm trazido e buscar informações sobre o que podemos fazer”, diz Flávia. O parlamentar aprovou a iniciativa da delegação brasileira, que esta semana teve também contato com o senador Bernie Sanders.

“Raskin trouxe para nós, como primeiro elemento, que mantenhamos e ampliemos diálogo com atores nacionais e internacionais. Que denunciemos para uma coalizão mais ampla o possível com aqueles que tenham compromisso democrático. Ele está ciente dos envolvimentos de Bolsonaro e sua família com Steve Bannon e aqueles envolvidos diretamente com os ocorridos dos Estados Unidos. Então ele compartilhou alguns achados e estratégias para que nós, enquanto sociedade civil, possamos reagir”, completou a ativista.

Cenários golpistas

Flávia cita o 7 de setembro, em que bolsonaristas convocam mobilizações antidemocráticas, como momento grave para qual a sociedade brasileira deve estar preparada. Além disso inclui o próprio dia das eleições, em 2 outubro e, também, a posse do vencedor em janeiro de 2023, como situações cruciais para a defesa da democracia. “As ameaças são prometidas, Bolsonaro disse que o que aconteceu 6 de janeiro de 2021 no Capitólio foi pouco, que no Brasil seria mais grave. Temos o 7 de setembro em que estão sendo promovidos atos antidemocráticos. No dia das eleições também teremos um momento importante. Depois do resultado também. A cartilha de Trump, que Bolsonaro segue, é de questionar o resultado e promover algum tipo de insurreição.”

A saída para a defesa da democracia diante das ameaças está na mobilização e vigília constantes. Flávia lembrou da importância da Carta aos Brasileiros e Brasileiras em defesa da democracia, que conta com assinaturas de quse meio milhão de brasileiros dos mais diversos setores e orientações políticas. “Tivemos o manifesto pela democracia reunindo grandes vozes e nomes de instituições do PIB nacional. Estamos em um caminho importante de isolar as ameaças. Mas precisamos seguir de forma atenta e assertiva em uma união democrática.”

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