Em Brasília

‘Cultura é essencial como o ar que a gente respira’, diz Lula, que promete recriar ministério

Em encontro com artistas do DF Lula diz que pedirá a Janja para ensinar-lhe os rebolados de Anitta. E prometeu a artistas e ativistas “revolução” no setor

Ricardo Stuckert
Ricardo Stuckert
Lula afirmou que a cultura brasileira é muito mais rica do que aquilo que passa na Globo

São Paulo – O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva se reuniu nesta quarta-feira (13) com artistas e trabalhadores da cultura do Distrito Federal e ouviu clamores pela retomada das políticas públicas no setor. Nesse sentido, ele prometeu recriar o Ministério da Cultura (MinC), rebaixado à condição de secretaria e esvaziado pelo governo Bolsonaro. Também anunciou que, caso vença as próximas eleições, vai criar comitês de cultura em cada estado. Além disso, sinalizou que pretende trazer para o governo federal a gestão de equipamentos culturais em Brasília e entorno.

“Como é que pode o Teatro Nacional estar há oito anos sem funcionar? É uma coisa inexplicável. Não pode ser por falta de dinheiro. O presidente deveria trazer para o governo federal a responsabilidade sobre alguns equipamentos. É essencial, quase como ar que a gente respira, investir em cultura”, afirmou Lula.

Assim, o pré-candidato pelo PT afirmou que a cultura é “vital para mudar esse país”. “Vamos fazer uma pequena revolução nesse país. Uma revolução em que a gente não vai dar um tiro, que a gente não vai ficar bravo com ninguém. Em que a gente vai, com muita paz, muita educação, com muita cultura e muito amor, extrair de dentro de cada brasileiro a riqueza que ele tem.”

Lula também criticou o orçamento secreto, que chamou de “podridão”. Em contrapartida, disse que vai tentar faz uma proposta de orçamento participativo, antiga bandeira do PT, agora em nível nacional. A ideia é desenvolver um aplicativo “para as pessoas dizerem o que querem”.

Envolver o Brasil

O ex-presidente ainda comemorou o apoio da cantora Anitta, e disse que vai pedir a sua mulher, Rosângela da Silva, a Janja, que lhe ensine o “rebolado” da funkeira. O ex-presidente afirmou que nenhum outro governo investiu mais em cultura do que ele. E prometeu uma “pequena revolução no setor”.

“Uma revolução em que a gente não vai dar um tiro, não vai ficar bravo com ninguém. Em que a gente vai, com muita paz, muita educação, com muita cultura e muito amor, extrair de dentro de cada brasileiro a riqueza que ele tem”.

O petista destacou que é muito mais barato financiar políticas públicas para 10 mil artistas do que atender a demandas de grandes empresários e fazendeiros por empréstimos do BNDES. “Prefeitos gastam uma fortuna com artistas que cobram até R$ 1,2 milhão para fazer um show. E não são capazes de gastar R$ 30 com um grupo local”, criticou. Do mesmo modo, Lula afirmou que a cultura brasileira é muito mais rica “do que aquilo que a gente vê na Rede Globo de televisão”.

Apelos dos artistas

Participaram do encontro poetas, escritores, músicos, atores de teatro, dançarinos e técnicos do setor cultural. Eles relataram a Lula um cenário de devastação das políticas públicas durante o governo Bolsonaro. A situação ficou ainda mais grave durante a pandemia, com a retração das atividades culturais. A situação só não é ainda pior em função das leis de incentivo – Leis Aldir Blanc 1 e 2 e Paulo Gustavo – que o Congresso aprovou e depois derrubou os vetos do atual ocupante do Palácio do Planalto.

“É para mim uma inspiração saber que podemos voltar a ter uma política pública de cultura para esse enorme e querido país”, afirmou a coreógrafa e dançarina Márcia Duarte. Ela reivindicou por políticas democráticas e inclusivas “depois de tanta frustração da tragédia que tem sido fazer arte e cultura nesses últimos quatro anos no Brasil”.

A professora Denise Camargo, representante das artes visuais, disse que tem o “coração triturado” pelo atual “estado de coisas” que se abateu sobre o país nos últimos anos. “A nossa única arma é a arte. Melhor dizendo, a nossa única alma. Por isso precisamos de políticas públicas para as artes e para a cultura, precisamos de volta dos nossos espaços públicos para a nossa expressão, dos editais de fomento e dos pontos de cultura”, afirmou ainda.

O ator, palhaço e diretor de teatro José Regino disse quer ver chegar a hora em que os artistas não precisem mais buscar uma segunda profissão. “Fiz mestrado, mas quero ter a opção de trabalhar com o que eu sei fazer de melhor.”

Capital do rock, capital do rap

Pedro Arcanjo, vocalista da banda Violator, disse que o heavy metal ensina a encarar os desafios da vida com a cabeça erguida, sem medo. “Em 2018, a gente ficou muito assustado, achando que os fascistas estavam tomando conta. . A gente perdeu muito tempo, se desorganizou. Dessa vez a gente vai encarar de frente para botar o fascismo de volta no lixo da história.”.

Dandara de Lima, presidenta da Associação Backstage, clamou por “diretos básicos” aos técnicos da cultura, que não têm a sua profissão reconhecida por lei. “Essa luz está iluminando a gente, esse microfone está ligado, porque tem gente lá atrás. A gente precisa recuperar os direitos de todos os trabalhadores, e trazer direitos básicos para os trabalhadores e técnicos que são invisibilizados dentro dessa categoria.”

O ‘poeta do rap nacional’, como GOG é conhecido, disse que Brasília também é a capital dos “manos”. “A nossa disputa não pode ser apenas no centro. É nas quebradas. Extrema direita combina com eles. Mas a esquerda é povo. Quem está na extrema pobreza, nos problemas da vida, é o povo e a comunidade”, afirmou.

Manifesto da Cultura

Lula também recebeu da mão dos artistas o Manifesto da Cultura DF com Lula, que conta com mais de 500 assinaturas. O documento defende a retomada das políticas públicas no área cultural, que precisa ser resgatada do “obscurantismo” do atual governo. “A guerra cultural pautada e praticada no desgoverno Bolsonaro tem sido de cortes orçamentários, reformas legislativas, trocas incessantes de gestores, ataques às instituições e aos movimentos culturais. Nunca foi tão necessário que um novo governo seja escolhido pelo povo brasileiro em eleições democráticas para a reconstrução do país”, diz um trecho do manifesto.

O secretário nacional de Cultura do PT, Márcio Tavares, afirmou que para os “não é nada difícil” fazer a opção entre dois projetos políticos antagônicos. De um lado, Bolsonaro, que acabou com o MinC e censurou a Agência Nacional de Cinema (Ancine). Além disso, transformou o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) num “balcão de negócios”, segundo ele. Do outro, Lula, que durante o seu governo chegou a investir 1% do Orçamento em Cultura, cumprindo pela primeira vez a recomendação da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). Também criou o Fundo Setorial do Audivisual (FSA), que fez com que a indústria do cinema superasse a automobilística no total de empregos.

Assim como Lula afirmou no dia anterior, Tavares destacou que são livros as principais armas na luta contra o autoritarismo. “É com a força da palavra, da escrita, do conhecimento, da cultura e da criatividade do povo brasileiro é que nós vamos retomar as políticas culturais.”


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