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Em palanque, Bolsonaro e Arthur Lira achincalham independência do Legislativo

Lira passou a semana em silêncio sobre os ataques de Bolsonaro ao Judiciário, ao sistema eleitoral e à democracia. E foi lembrado por Bolsonaro como o homem que diz o que a Câmara vota, ou não

Dilvulgação/PL
Dilvulgação/PL
Lira (à direita) canta o hino nacional e ouve discurso perfilado como cabo eleitoral com o “alto comando” bolsonarista

São Paulo – A semana iniciada na segunda-feira (18), com discurso golpista de Jair Bolsonaro para dezenas de embaixadores, terminou neste domingo (24) com a convenção do PL no Rio de Janeiro. O evento oficializou a candidatura do presidente à reeleição, com faixas, cartazes e discurso contra o Supremo Tribunal Federal (STF) no ginásio do Maracanãzinho. Ali, surpreendeu a analistas e parlamentares a presença de Arthur Lira (PP-AL), presidente da Câmara dos Deputados, perfilado como cabo eleitoral de Bolsonaro.

Para a professora Maria do Socorro Sousa Braga, da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), Lira no palanque de Bolsonaro retrata com fidelidade esses atores políticos. “Mostra quanto o atual presidente manejou a base ao passar o controle do orçamento do relator (o chamado orçamento secreto) para Lira. A lealdade é a dádiva dessa troca de benefícios”, ironiza a analista.

A presença de Lira na convenção do PL carimba a presteza com que ele atropelou o regimento da Câmara para aprovar a PEC do Auxílio. Ou dos Benefícios, ou do Desespero, com a qual Bolsonaro pretende conquistar uma vaga no segundo turno das eleições. “Já tivemos outros presidentes da Câmara muito vinculados ao presidente, mas talvez não a ponto de vestir a camisa”, complementa Maria do Socorro.

Joelhos dobrados

Para o analista político Antônio Augusto de Queiroz, ex-diretor do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap), a presença de Lira na convenção do PL não é compatível com o cargo de um presidente de um poder. “Que independência terá o presidente da Câmara dos Deputados para conduzir matérias de interesse do governo?”, questiona Queiroz.

Devidamente paramentado, Arthur Lira ouviu o discurso extremista do presidente ao lado de seu vice da campanha, general Braga Netto, do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) e demais membros do “alto comando” da campanha. “Obrigado, meu Deus, pela minha segunda vida e pela missão de ser presidente dessa nação. Todos os dias, quando me levanto, eu tenho quase que uma rotina”, declarou o chefe de Estado brasileiro. Bolsonaro enalteceu ainda Arthur Lira, reconhecendo que a Câmara só vota o que ele quer.

“E, nessa passagem, eu dobro meus joelhos, rezo um pai nosso e peço a Deus que esse povo brasileiro nunca experimente as dores do comunismo”, discursou. Bolsonaro então atacou os países vizinhos Chile, Argentina, Venezuela e Colômbia por seus governos progressistas. Em nenhum momento, em mais de uma hora de discurso, mencionou as palavras “educação” e “cultura”. Mas falou em “Deus, pátria, família e liberdade”.

Silêncio constrangedor

Lira passou a semana em silêncio e não se manifestou sobre os ataques de Bolsonaro ao Judiciário, ao sistema eleitoral e à democracia brasileira. O evento no Palácio da Alvorada foi tão grave que provocou a reação da Embaixada dos Estados Unidos, de dezenas de instituições e entidades no país, e dos presidentes do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e do STF, Luiz Fux.

Deputados da oposição são veementes nas críticas ao colega-presidente. “Lira ficou a semana escondido em Arapiraca pra não ter que falar do vexame que foi a reunião do seu chefe miliciano com os embaixadores em Brasília. Apareceu, para bajular o golpista Bolsonaro vestindo a camisa ‘Bolsonaro 22’, que é do PL do Valdemar”, diz o deputado federal Ivan Valente (Psol-SP), no Twitter.

No meio do Centrão

Líder do Centrão e presidente do PL, Valdemar Costa Neto, indicou inúmeros nomes para o primeiro e segundo escalões do governo Bolsonaro. Este, por sua vez, antes de eleito, dizia que o bloco informal que comanda o orçamento secreto é o que há de pior na política.

“O presidente da Câmara Federal,@ArthurLira_, gestor do orçamento secreto, virou cabo eleitoral do presidente delinquente!”, postou o deputado Paulo Teixeira no Twitter.

Já Lira, na mesma rede social, mantém há uma semana uma postagem na qual comenta aspectos da atual conjuntura da política de Arapiraca, postadas no mesmo dia em que Bolsonaro atacou o sistema eleitoral do país para os embaixadores de todo o mundo.


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