Diretrizes para 2023

Lula destaca importância de eleger Congresso comprometido com reconstrução do país

Ex-presidente participa de evento com os sete partidos da frente Vamos Juntos pelo Brasil. E alerta que para executar programa será preciso maioria de deputados e senadores

Reprodução
Reprodução
Movimento é aliança inédita de partidos que nunca estiveram juntos em eleição presidencial desde redemocratização

São Paulo – O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin (PSB) lançaram nesta terça-feira (21) as diretrizes de programa de governo da chapa presidencial. Participaram do evento representantes dos sete partidos que compõem a aliança: PT (Gleisi Hoffmann), PSB (Carlos Siqueira), PCdoB (Luciana Santos), PV (José Luiz Penna), Rede (Randolfe Rodrigues), Psol (Juliano Medeiros) e Solidariedade (Paulinho da Força).

Em seu discurso, Lula destacou a importância para a população de votar em deputados e senadores comprometidos com a “reconstrução” do Brasil. “Para que, chegando no dia D, a gente possa ter uma maioria qualificada para fazer as mudanças que o país precisa.” A aliança com Alckmin, segundo ele, é “o grande fato novo da política brasileira”. “Jamais imaginei que a gente pudesse estar junto numa campanha. Acho que Alckmin também jamais imaginou, e de repente a gente está junto.” Para o ex-presidente, os mais resistentes ao ex-governador paulista, após o estranhamento inicial, perceberam que a aliança era necessária para haver mais chance “não apenas de ganhar as eleições, mas de governar o país”.

Lula: Bolsonaro faz bravata com Petrobras para esconder incapacidade de governar

Segundo ele, “governar é mais difícil do que ganhar a eleição. Sobretudo quando estamos com a tarefa de reconstruir”. No processo de reconstrução, as diretrizes do programa apresentadas hoje (confira abaixo) são “o alicerce”, disse Lula. “Vamos ter que construir a casa ao longo do tempo”. Mencionou “a arte de governar com aquilo que você tem na mão e com aquilo que tem de capacidade de construir o novo”.

Bolsonaro: “Cidadão do mal”

“Vamos construir tijolo por tijolo (como acabar com a fome, revalorizar o salário mínimo), até chegar na cobertura da casa, que é o material da soberania: esse país tem que voltar a ser soberano”, exortou. A soberania será conquistada “quando o povo tiver conquistado uma cidadania digna que todo ser humano tem direito, que está na Constituição, na Declaração Universal dos Direitos Humanos, que está inclusive na Bíblia”, disse.

Apesar de considerar que governar é mais difícil do que ganhar, destacou a dificuldade também nas eleições, devido ao adversário Jair Bolsonaro. “Um cidadão desequilibrado, um cidadão do mal, que não foi capaz de derramar uma única lágrima pelas vítimas da covid.”

“Esse governo vai terminar (e) ele nunca recebeu os dirigentes sindicais, os governadores, os prefeitos, nenhum movimento social, nunca atendeu ninguém da sociedade”, observou o petista, que citou o caráter “desumano” de Bolsonaro diante da tragédia com as chuvas em Pernambuco. “Mais de 130 pessoas morreram, esse cidadão foi lá, sobrevoou, nem desceu, e foi pra Santa Catarina andar de jet ski, depois foi fazer motociata em Miami. Precisa ser estudado pra ver de onde surgiu essa figura”, afirmou Lula.

Ainda segundo ele, um programa de governo não pode propor o que é irrealizável. No primeiro mês de governo, a tarefa é reunir os 27 governadores para começar a reconstruir o pacto federativo. “Quero saber o que eles têm de projeto, de infraestrutura, pra que a gente não perca tempo.”

Reconstrução e esperança

De bom humor, Alckmin começou falando sobre sua esposa, Lu Alckmin: “dizer, presidente, que nunca vi a Lu tão animada com a política, viu?”, disse. Segundo ele, a viagem que fez com Lula na semana passada foi importante pela experiência de “ouvir” diversas vozes da sociedade. Citou a agricultura familiar, o cooperativismo, artesanato, educadores, a cultura, artistas, reitores das universidades e professores. “Não se faz um programa de governo democrático em cima de motociata e jet ski, mas ouvindo a população, dialogando”, afirmou.

Sobre as diretrizes do plano de governo apresentadas, disse que, entre outras, uma palavra se repete no texto: “reconstrução”. Isso devido aos valores da cidadania envolvidos no “desmanche do Estado” pelo bolsonarismo. Citou também “esperança” e “compromisso”. “Não tem promessa, mas tem compromisso. E o primeiro compromisso que Lula tem destacado é com quem mais necessita, perdeu o emprego, passa fome, foi levado de volta à miséria.”

“Triste presidente”

Mencionou também o salário mínimo com Bolsonaro: “Esse triste presidente será o único da história que deixará como legado um salário mínimo menor em termos reais do que quanto entrou”. Alckmin, que é médico, estacou o SUS como “ganho civilizatório” e exemplo de política de Estado a ser retomada como prioridade.

Sobre economia, defendeu um “crescimento inclusivo”, com regime tributário que permita distribuição. “A inflação não é socialmente neutra, atinge mais os mais pobres”. O desenvolvimento não pode destruir o meio ambiente, enfatizou. “Estamos vendo na Amazônia uma coisa inacreditável”, disse. O sistema amazônico “é destruído por criminosos para que amanhã o presidente possa titular essa terra e eles venderem”. Em resumo, “o valor maior que nos une é a democracia”, acrescentou.

Gleisi: plano é “síntese”

O documento é “uma síntese” do que pensam todos os membros da aliança, disse Gleisi.  As diretrizes reúnem as propostas para reconstruir o país, “porque o Brasil precisa ser reconstruído”, afirmou. “Combater a fome e a miséria é a primeira coisa que temos que fazer.” Ela classificou a aliança das sete legendas como “histórica”.

O senador Randolfe Rodrigues (AP), pela Rede, disse que a frente vai “conduzir a maior tarefa de nossas vidas”. De acordo com o parlamentar, a crise atual é a mais grave da história, porque “é uma ameaça ao pacto civilizatório que formamos com a redemocratização do Brasil estabelecido na Constituição de 1988”.

Ele mencionou a retomada da democracia, e estabilização da moeda, a contenção da inflação e o resgate de milhões de brasileiros da miséria como as principais conquistas dos últimos 30 anos, atualmente ameaçadas pelo projeto bolsonarista de destruição. Dirigindo-se a Lula e Alckmin, afirmou que eles encontrarão “um país muito mais devastado do que o que receberam em 2002”. Randolfe também destacou a Amazônia e o assassinato de Dom Phillips e Bruno Pereira como símbolo de que a floresta “foi entregue para o crime”.

Para derrotar Bolsonaro é necessário o “cimento da unidade” formada no movimento “Juntos pelo Brasil”, disse Carlos Siqueira pelo PSB. “As forças progressistas devem conquistar outros setores da sociedade para vencer o governo. É vencer ou vencer”, afirmou. Ele destacou a ciência e tecnologia como ponto que, especialmente, quer ver retomado no país.

“Vitória acachapante”

Penna, do PV, prevê uma “reação consistente que produzirá uma vitória acachapante da inteligência do conhecimento e da brasilidade diante desse escândalo dessa administração, onde todos estamos apavorados diante da chacina de Bruno Pereira e Dom Phillips”.

Presidente do Solidariedade, o deputado federal Paulinho da Força disse que o conjunto de forças reunido na frente “representa a esperança de que a gente possa tirar o país do buraco”. Ele destacou a falta de emprego e de renda como os principais problemas do país, e defendeu uma reforma para modernizar o sindicalismo brasileiro. Paulinho acrescentou que as diretrizes apresentadas hoje acertam ao prever, entre outros pontos, a revogação dos “marcos regressivos da atual legislação trabalhista”, a recuperação do salário mínimo, “marca dos governos Lula”.

Juliano Medeiros, do Psol, destacou a convergência e a síntese do texto apresentado pelos sete partidos. “Só alguém com a grandeza e a experiência política do ex-ministro Mercadante poderia fazê-lo”, disse, sobre o ex-ministro Aloizio Mercadante, coordenador do programa. Segundo Medeiros, as diretrizes e a unidade têm o objetivo de interromper “o ciclo de ataques aos direitos sociais e às empresas públicas do Brasil, iniciado em 2026 com o impeachment de Dilma Rousseff”. A ex-presidente estava no evento.

“Pacto histórico”

Para Mercadante, a frente representa um “pacto histórico”, que reúne partidos que nunca estiveram juntos em eleições presidenciais passadas. A aliança tem a tarefa de reverter o desmonte e a tragédia histórica atual. Ele ressaltou “a liderança inigualável do presidente Lula” como essencial ao processo. Destacou “a atitude de grandeza do presidente Lula de convidar o vice-presidente Alckmin, e a ousadia e grandeza do vice-presidente Alckmin, de aceitar o desafio, mostrando que precisamos nos unir”.


Diretrizes para um programa de governo da chapa Lula-Alckmin

Comissão de redação e sistematização: Aloizio Mercadante, Antonio Corrêa de Lacerda, Guilherme Mello, Jorge Messias, José Sergio Gabrielli, Miriam Belchior, Nilma Lino Gomes, Sandra Brandão, Tereza Campello, William Nozaki. Representantes dos partidos: Alexandre Navarro (PSB), Camila de Caso (Psol), Claudio Puty (Psol), Domingos Leonelli (PSB), Guilherme Martinelli (Solidariedade), Jorge Onoda (Solidariedade), José Carlos Lima (PV), Luís Fernandes (PCdoB), Maria do Rosário (PT), Mônica Valente (PT), Osvander Valadão (PV), Pedro Ivo (REDE), Rubens Diniz (PCdoB), Wellington Almeida (REDE) 


Leia também


Últimas notícias