Após assédio

De olho na eleição, Bolsonaro escolhe mulher para comando da Caixa

Assessora direta de Paulo Guedes deverá assumir posto de Pedro Guimarães. Cúpula da campanha de Bolsonaro quer “punição exemplar” para minimizar desprestígio junto ao eleitorado feminino

YouTube/Reprodução
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Escolha é gesto eleitoral de Bolsonaro, acuado pelo eleitorado feminino mesmo antes das denúncias de assédio na Caixa

São Paulo – O presidente Jair Bolsonaro (PL) decidiu, nesta quarta-feira (29), que a secretária especial de Produtividade e Competitividade do Ministério da Economia (Sepec), Daniella Marques Consentino, vai presidir a Caixa Econômica Federal. Braço direito do ministro Paulo Guedes, ela substituirá Pedro Guimarães no comando do banco público. A escolha de Bolsonaro tenta conter o desprestígio do presidente junto ao eleitorado feminino, ainda mais abalada após virem à tona as denúncias de assédio sexual contra funcionárias do banco pelo seu apoiador e amigo. 

As denúncias contra Pedro Guimarães estão sendo investigadas pelo Ministério Público Federal (MPF), sob sigilo, desde o final do ano passado. À época, um grupo de funcionárias que trabalham ou trabalharam em equipes diretamente ligadas ao gabinete da presidência da Caixa decidiu se unir e romper o silêncio sobre o constrangimento imposto pelo executivo.

O caso veio a público ontem em reportagem do portal Metrópoles. Vítimas relataram toques em partes íntimas sem consentimento, por parte do presidente da Caixa, além de falas, abordagens e convites inconvenientes e desrespeitosos. Muito próximo de Bolsonaro, ele teria acertado com o presidente da República que entregaria sua carta de demissão até a noite de hoje.

Mas a exoneração ainda é aguardada e motivo de embate dentro da cúpula do governo. Segundo a imprensa, Guimarães insiste em sair “a pedido” para cuidar da sua defesa. Por outro lado, o Centrão e o núcleo político da campanha de Bolsonaro pressionam para que ele seja exemplarmente demitido e que o presidente mostre indignação com o caso. 

Gesto eleitoral 

A nomeação de Daniella Marques também parte da escolha dessa ala que teme a altíssima rejeição do chefe do Executivo junto ao eleitorado feminino. Segundo a mais recente pesquisa Datafolha, o percentual de mulheres que rejeitam a candidatura de Bolsonaro chegou a 61%. A secretária já vinha liderando a agenda Brasil Pra Elas e sua nomeação daria impulso à imagem de Bolsonaro junto a esse público, de acordo com o jornal Folha de S. Paulo.

O site Congresso em Foco também confirmou com fontes do Palácio do Planalto e da Caixa o nome de Daniella Marques para a presidência. Ela é formada em Administração pela Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Rio de Janeiro e, antes de entrar no governo, atuou por 20 anos no mercado financeiro. A assessora de Guedes foi sócia-fundadora e diretora de fundos de investimento. Segundo o veículo, Daniella Marques tem boa inserção no Palácio do Planalto e é uma voz ativa na gestão Guedes. 

Mais novo integrante do governo Bolsonaro envolvido em má conduta, Pedro Guimarães chegou a comparecer em evento da Caixa na manhã desta quarta, em Brasília. Acompanhado da esposa, ele não disse nenhuma palavra sobre as acusações investigadas pelo MPF. Em discurso para a plateia de empregados do banco, afirmou apenas que tem um relacionamento “profissional, pautado na ética”.

Suspeitas de proteção

Representante eleita dos empregados no Conselho de Administração da Caixa, Maria Rita Serrano divulgou que solicitou aos órgãos internos de governança a apuração urgente e transparente dos fatos que destacou como “graves”. As deputadas federais do Psol Fernanda Melchionna (RS), Sâmia Bomfim (SP) e Vivi Reis (PA) também recorreram ao MPF para pedir o afastamento imediato de Pedro Guimarães. As parlamentares dizem temer pela segurança das servidoras que denunciaram o caso. 

“A prioridade no momento deve ser a proteção das vítimas. Os relatos são vários e estarrecedores. O caso vem à tona bem no momento em que discutimos a violência contra as mulheres e que o governo federal vem fazendo uma verdadeira cruzada machista e misógina. Tudo nos leva a acreditar que o governo não economizará esforços em protegê-lo das investigações, por isso o afastamento é tão importante”, declarou Fernanda Melchionna. O líder da oposição no Senado, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), protocolou hoje um pedido de convocação de Pedro Guimarães para que ele preste informações sobre as denúncias de assédio.

Redação: Clara Assunção

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