Eleições 2022

Só a mobilização popular pode garantir o resultado das urnas, afirma Bonfim

Para coordenador da CMP, Bolsonaro ataca as instituições para encobrir seus próprios fracassos. Movimentos devem estar nas ruas para garantir qualquer tentativa de golpe e a posse de um novo governo democrático

Oliven Rai / Mídia Ninja
Oliven Rai / Mídia Ninja
"O povo é o senhor de todas as vitórias", disse o coordenador da Central de Movimentos Populares (CMP)

São Paulo – O presidente Jair Bolsonaro (PL) e os militares do seu entorno seguem levantando suspeitas infundadas sobre o sistema eleitoral. Para o coordenador da Central de Movimentos Populares (CMP), Raimundo Bonfim, são ações que buscam preparar o terreno para contestar o resultado das urnas em outubro. Isso porque, diante do fracasso do seu governo, em termos econômicos e sociais, são reduzidas as chances de reeleição de Bolsonaro. Mas o presidente também atua para enfraquecer as instituições do regime democrático que poderiam conter a ameaça golpista. O exemplo mais recente foi a “graça” concedida por Bolsonaro ao deputado Daniel Silveira (PTB-RJ), desautorizando o Supremo Tribunal Federal (STF), que o condenou a 8 anos e 9 meses prisão.

Diante desse cenário, Bonfim afirma que “só a mobilização popular, ou seja, só o povo organizado pode garantir o resultado das eleições”. Em entrevista à RBA, ele afirmou que os brasileiros têm a tendência da acreditar que todos os problemas podem ser resolvidos por meio do voto. Mas, diante da ameaça fascista de Bolsonaro e seus apoiadores, o processo eleitoral desse ano vai exigir um esforço ainda maior. O golpe do impeachment contra a então presidenta Dilma Rousseff, em 2016, também serve de exemplo para os riscos de colocar todas as fichas na disputa eleitoral, segundo ele.

“Bolsonaro ataca as instituições para tentar esconder a carestia, o desemprego, as más condições econômicas. E há também uma percepção da dificuldade de reeleição, dada a ampla rejeição que ele tem”, afirmou Bonfim. Pesquisa Ipespe divulgada nesta sexta-feira (6) indica que 60% dos eleitores não votariam no atual presidente de jeito nenhum.

“É uma forma de tentar esconder o desastre que é o seu governo. E, ao mesmo tempo, ir criando uma narrativa para justificar o questionamento do resultado das eleições, como forma de manter a sua base mobilizada”, acrescentou.

Instituições enfraquecidas

O cenário é preocupante, segundo Bonfim, diante da debilidade das instituições em frear Bolsonaro. “Que autoridade tem o STF ao afirmar que o resultado eleitoral será respeitado? A gente espera que seja assim, mas como é que fica, após Bolsonaro descumprir uma decisão do Supremo? As instituições estão fragilizadas.”

“A situação é de tamanha preocupação que somos nós, da esquerda e do campo popular, que estamos defendendo as nossas frágeis instituições do regime da democracia, para num segundo momento conseguir avançar”, acrescenta.

Nesse sentido, ele afirma que o episódio do indulto a Silveira é mais um sinal de avanço do fascismo. “A característica do fascismo é a violência. Tentam impor medo nas pessoas. Se valem da liberdade de expressão, mas na verdade é autoritarismo. A liberdade que eles pregam e defendem é para tutelar e instrumentalizar as instituições do regime da democracia.”

Mobilizar para avançar

Para vencer o fascismo, Bonfim aposta na “chama” da mobilização popular. “O povo é o senhor de todas as vitórias da humanidade. Então só com organização, consciência de classe e mobilização é possível garantir o resultado das eleições e sustentar governos populares”. Dessa maneira, ele afirma que os movimentos populares terão papel destacado até as eleições.

“É importante que as forças democráticas e populares mantenham-se em alerta, mobilizados. Os movimentos populares certamente contribuirão para eleger um governo democrático-popular. Depois, para assegurar a posse, dadas as ameaças de não aceitação do resultado eleitoral. E, num terceiro momento, para fazer a disputa num provável governo Lula”, diz ainda.

Bonfim afirma que, para os movimentos sociais, reconduzir o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao Palácio do Planalto é “fundamental”. Mas isso, por si só, não basta. O desafio, segundo ele, é fazer com que o próximo governo seja “o mais progressista possível”. Isso porque ele prevê que a burguesia brasileira, representada no Congresso pelos partidos do chamado Centrão, vai resistir a qualquer tentativa de mudança. Para revogar as “reformas” trabalhista e da Previdência, por exemplo, será necessário muita pressão popular.

Disputa pelo orçamento

Além disso, Bonfim destacou que a mobilização popular também será fundamental na disputa por recursos para aplicar em políticas de combate à fome, criação de empregos, ampliação investimentos em educação e ciências, entre outras tarefas prioritárias para reconstruir o país.

“E os recursos vão vir de onde? Tirar da classe trabalhadora não dá mais”, afirma. “Então, temos que acumular forças para rumar no caminho de taxar as grandes fortunas, os lucros e dividendos. Para o Estado arrecadar mais recursos e gastar bem. Gastar em infraestrutura, nas políticas sociais, na geração de emprego e renda e no combate à fome.”


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