ONG DE PRATELEIRA

Sob suspeita, ONG de Daniel Alves recebeu R$ 8 milhões e lidera orçamento do basquete no Brasil

Entidade é acusada de burlar regras em acordos com o governo federal e tem o dobro de recursos da Confederação Brasileira de Basquete

Lucas Figueiredo/CBF
Lucas Figueiredo/CBF
A ONG de Daniel Alves chamava-se Instituto Liderança até maio do ano passado e tinha como responsável Leandro Costa de Almeida, ex-treinador de basquete. Ele afirma que a ONG estava inativa havia cinco anos

São Paulo – O Instituto DNA, uma ONG do jogador de futebol Daniel Alves, já recebeu pelo menos o dobro de recursos públicos para investir no basquete brasileiro, na comparação com a própria Confederação Brasileira de Basquete (CBB). Criada em maio do ano passado, a entidade do atleta prometeu criar uma seleção de basquete permanente de 3 contra 3, além de realizar um grande evento da modalidade ainda neste ano.

De acordo com o jornalista Demétrio Vecchioli, do UOL, contando os R$ 3,5 milhões da emenda parlamentar, a ONG de Daniel Alves já tem ao menos R$ 8 milhões em recursos públicos para o basquete, mais do que o dobro dos R$ 3,6 milhões prometidos pelo Comitê Olímpico Brasileiro (COB) à CBB.

Em novembro do ano passado, o Instituto DNA conseguiu aprovar na Lei de Incentivo ao Esporte um projeto de R$ 5 milhões para, com essa verba, pagar a taxa e a hospedagem de atletas e outras pessoas envolvidas no evento. Paralelamente, a deputada Celina Leão (PP-DF) se comprometeu com uma emenda de R$ 3,5 milhões para a mesma ONG, liberada pela Secretaria Especial do Esporte em dezembro.

A reportagem aponta que R$ 4,5 milhões já foram doados, pela Usiminas, de Ipatinga (MG). A receita do Instituto DNA é ainda maior, porque a Usiminas também se comprometeu a pagar a realização de um grande encontro internacional de 3 contra 3, na cidade mineira, em outubro, e a prefeitura assinou, na semana passada, um protocolo de intenções para construir um centro de treinamento para a seleção da modalidade, sempre com Daniel Alves como intermediário.

‘ONG de prateleira’

O jornalista do UOL diz, em seu texto, que Daniel Alves está incomodado com a repercussão negativa do fato, cogita não levar adiante dois projetos de Lei de Incentivo que, juntos, já captaram cerca de R$ 5 milhões. Foi ele, inclusive, quem assumiu a responsabilidade de pagar US$ 500 mil à Federação Internacional de Basquete (Fiba) como taxa para realizar a Copa América de Basquete no Brasil. Por enquanto o valor não foi desembolsado.

As suspeitas sobre as entidades surgiram após uma reportagem da Folha de S.Paulo, apontando que o governo Jair Bolsonaro (PL) autorizou o repasse de R$ 6,2 milhões a duas ONGs até então inativas e recém-assumidas pelo ex-jogador Emerson Sheik e por Daniel Alves, lateral-direito da seleção brasileira de futebol.

As entidades tiveram projetos aprovados no ano passado para realização de cursos de esportes, mesmo sem ter nenhuma experiência prévia. A assinatura dos dois convênios só foi possível porque os atletas driblaram exigências legais usando as chamadas “ONGs de prateleira”. Ambas foram beneficiadas com emendas parlamentares a pedido de deputados da base do governo. 

Membros do Ministério Público e parlamentares ouvidos pela reportagem da Folha afirmam que “ONGs de prateleiras” têm sido usadas para escapar da regra que estabelece a necessidade de as entidades da sociedade civil existirem há pelo menos três anos para firmar acordos com o governo federal.

A ONG de Daniel Alves chamava-se Instituto Liderança até maio do ano passado e tinha como responsável Leandro Costa de Almeida, ex-treinador de basquete. Ele afirma que a ONG estava inativa havia cinco anos. Antes de assumi-lo, o jogador do Barcelona já havia fundado seu próprio instituto com seu nome em março de 2021. Entretanto, segundo o diretor técnico da ONG, Rodrigo Valentim, verificou-se depois da fundação desta entidade a necessidade de existência de três anos para firmar convênios com o governo federal.