Farra dos fardados

Mourão defende Viagra com dinheiro público para militares ‘velhinhos’

Além do medicamento para impotência e das próteses penianas, nova denúncia mostra que militares gastaram R$ 37 mil gel lubrificante íntimo. TCU vai apurar superfaturamento

Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil
Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil
Mourão afirmou que a compra de medicamento para impotência pelos militares "não é nada". "Eu não posso usar o meu Viagra, pô?"

São Paulo – O Tribunal de Contas da União (TCU) vai apurar se os militares cometeram “desvio de finalidade” na compra de 35 mil comprimidos de Viagra pelas Forças Armadas. O tribunal vai investigar também a suspeita de superfaturamento na aquisição do medicamento para impotência. O relator da ação é o ministro Weder de Oliveira. O procedimento, aberto nesta terça-feira (12), decorreu de um pedido de investigação do deputado federal Elias Vaz (PSB) e do senador Jorge Kajuru (Podemos). “O governo Bolsonaro deve uma satisfação ao povo brasileiro”, disse Vaz, pelo Twitter.

Nesta quinta (14), o vice-presidente Hamilton Mourão tentou minimizar o episódio, em entrevista ao jornal Valor Econômico. Ele alegou que “boa parte” da verba para a compra dos comprimidos sai de um fundo alimentado por descontos nos salários dos militares. “Eu não posso usar o meu Viagra, pô? O que são 35 mil comprimidos de Viagra para 110 mil velhinhos? Não é nada”, disse o general da reserva.

A fala de Mourão, contudo, contesta a versão oficial apresentada pelos próprios militares. As Forças Armadas alegam que a aquisição da sildenafila (princípio ativo do Viagra) visa ao tratamento de pacientes com Hipertensão Arterial Pulmonar (HAP). Trata-se de uma doença rara, que acomete principalmente as mulheres, que são minoria entre a classe. Além disso, na dosagem adquirida, a substância é ineficiente para tratar a HAP.

Também hoje, a Revista Fórum divulgou que o Ministério da Defesa gastou R$ 37 mil em bisnagas de gel lubrificante íntimo, entre 2019 e 2020. “Embora esse seja um produto usado em alguns procedimentos médicos, o que chama a atenção é quantidade excessiva e a destinação para unidades que não têm relação com os hospitais militares ou divisões de saúde das três forças”, diz a reportagem.

Farra dos militares

Quem primeiro revelou o escândalo da compra do Viagra foi a colunista Bela Megale, do jornal O Globo, na última segunda (11), a partir de levantamento do deputado Elias Vaz, com base em dados do Portal da Transparência e do Painel de Preços do governo federal. A “farra do Viagra” ganhou destaque inclusive na imprensa internacional. O jornal britânico The Guardian, por exemplo, afirmou que o presidente Jair Bolsonaro enfrenta “duras perguntas” sobre o escândalo.

No dia seguinte, Vaz também identificou a compra, pelo Exército, de 60 próteses penianas infláveis no valor total de R$ 3,5 milhões (médida de R$ 58 mil por unidade), no ano passado, conforme publicou Guilherme Amado, colunista do site Metrópoles.

Já na quarta (13), ele também divulgou que os militares reservaram R$ 546 mil para a aquisição de 50 frascos de botox, utilizado principalmente em procedimentos estéticos para rejuvenescimento facial. Mais uma vez, a Defesa alegou que utiliza a substância em “tratamentos para estrabismo, acalasia, dor pélvica, espasmos musculares”, dentre outras doenças, negando o uso meramente estético.

Além disso, são inúmeras as denúncias de compras de bens supérfluos pelos militares nos últimos anos. A lista inclui remédios para calvície, picanha, salmão, camarão, leite condensado, bebidas alcóolicas importadas, dentre outros. Nesse sentido, o deputado Bira do Pindaré (PSB-MA), líder do partido na Câmara, iniciou a coleta de assinaturas para a instalação da CPI do Viagra, que também pretende apurar os demais gastos suspeitos dos militares.


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