Desonesto e corrupto

Moro parcial: ‘A verdade pode demorar, mas sempre aparece’

Políticos e juristas comemoraram a decisão do Comitê de Direitos Humanos da ONU que considerou parcial a atuação do ex-juiz da Lava Jato. “Juiz ladrão” aparece entre os termos mais comentados do Twitter

Wilson Dias/Agência Brasil
Wilson Dias/Agência Brasil
Imprensa lavajatista silenciou sobre decisão da ONU contra Moro

São Paulo – Desde a divulgação, no início da tarde desta quarta (27), da decisão do Comitê de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU), que concluiu que o ex-juiz Sérgio Moro foi parcial nos processos contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no âmbito da Operação Lava Jato, o termo “juiz ladrão” está entre os termos mais comentados do Twitter. Milhares de menções fazem críticas à atuação de Moro, que corrompeu o sistema de Justiça para tirar Lula das eleições de 2018, ajudando a eleger Jair Bolsonaro, do qual se tornaria ministro.

“A verdade pode demorar, mas sempre aparece”, escreveu o senador Humberto Costa (PT-PE), que destacou que Moro violou os direitos políticos de Lula em 2018, conforme decisão da ONU. Da mesma forma, a deputada Erika Kokay (PT-DF) disse que “o mundo inteiro” sabe que Lula foi vítima de uma “farsa jurídica”. “É a verdade prevalecendo em nível internacional”.

O deputado Ivan Valente (Psol-SP) destacou que não é apenas o bolsonarismo que ataca o Poder Judiciário, como faz atualmente com mais intensidade. “Antes disso Moro quis reescrever nossas leis ao sabor do autoritarismo”, afirmou. Ele frisou que o entendimento da ONU respalda decisão anterior do Supremo Tribunal Federal (STF), que já havia confirmado a parcialidade, a suspeição e a incompetência de Moro para julgar processos referentes ao ex-presidente Lula no âmbito da Lava Jato. O historiador Fernando Horta bateu na mesma tecla: “Agora não é mais o STF… É o Comitê de Direitos Humanos da ONU que falou ‘juiz ladrão'”.

Para o advogado Marcelo Uchôa, professor de Direito da Universidade de Fortaleza (Unifor) e integrante da Associação Brasileira de Juristas pela Democracia (ABJD), Moro deveria ser um “preso comum”, após ter tornado Lula um “preso político“.

Carimbo internacional

De acordo com o advogado Marco Aurélio de Carvalho, coordenador do grupo Prerrogativas, a decisão da ONU confere uma espécie de “carimbo internacional” à decisão do STF que declarou Moro parcial. “Tudo aquilo que desde sempre Lula denunciou, que sua defesa denunciou, que o Prerrogativas denunciou, acaba sendo confirmado”, disse à Revista Fórum. Ele lembrou que Lula ficou preso ilegalmente durante 580 dias, “e isso não será restituído”. Mas que o ex-presidente pode continuar andando “de cabeça erguida”, com a certeza de que foi “vítima de uma perseguição absolutamente implacável”.

Para o jurista e professor de Direito Constitucional Pedro Serrano, o efeito da conclusão da ONU é principalmente “moral e político”. Ele foi o autor de um dos pareceres utilizados pela defesa de Lula que resultou na decisão do comitê. “Há agora um reconhecimento do mundo, da ONU, de que realmente o que houve com Lula foi uma medida de exceção, um processo fraudulento”, disse, também à Revista Fórum.

Silêncio da mídia

Por outro lado, apesar do simbolismo da decisão das Nações Unidas a favor de Lula, a chamada grande mídia do país optou por omitir a informação de seus públicos. Jornais como Folha de S.Paulo, O Estado de S.Paulo, e O Globo, além do portal g1, das revistas Veja e IstoÉ, por exemplo, estão entre os principais veículos que atuaram como assessores da Lava Jato.

Durante anos, eles se dedicaram a publicar todo tipo de “notícia” passada pela força-tarefa de Curitiba, sem qualquer exercício crítico. O intuito deliberado era fustigar Lula e o PT de todas as formas, colaborando assim com a ascensão da antipolítica, que resultou no bolsonarismo.

Nesse sentido, a deputada Maria do Rosário provocou a jornalista Eliane Cantanhêde, outro expoente da ala “lavajatista” da imprensa. Ela havia anunciado que, nesta manhã, entrevistaria Moro, para saber do “plano de voo” do ex-juiz para as eleições deste ano – já que suas pretensões presidenciais já haviam sido definitivamente enterradas.

Após o anúncio da ONU, a parlamentar então sugeriu que Cantanhêde deveria entrevistar os advogados Cristiano Zanin Martins e Valeska Martins, da defesa de Lula. “Eles que derrotaram o Moro no Brasil e na ONU”, tuitou.


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