E a autocrítica?

Mídia que violou presunção de inocência de Lula também deve reparação, afirmam advogados

Parte dos veículos da mídia comercial, no entanto, noticiou decisão da ONU que condenou Sergio Moro por parcialidade no julgamento de Lula com atraso de quase 24 horas. Haddad vê “sonegação da informação”

Filipe Araújo/IL
Filipe Araújo/IL
A avaliação da defesa do ex-presidente é que, enquanto concessões públicas, canais deveriam incluir manifestações em reparação a Lula

São Paulo – Os advogados Cristiano Zanin Martins e Valeska Teixeira Zanin Martins defenderam nesta quinta-feira (28) que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) também seja reparado por veículos da imprensa comercial que atacaram sua presunção de inocência, desrespeitada pela força-tarefa da Operação Lava Jato, juntamente com o ex-juiz Sergio Moro. A retratação pelo governo brasileiro dos danos causados pela operação ao ex-presidente é uma das exigências do Comitê de Direitos Humanos da ONU, que oficializou hoje a conclusão do julgamento da parcialidade de Moro contra Lula

Mais do que isso, a defesa do ex-presidente avalia que todos os segmentos sociais, incluindo os veículos de imprensa que violaram o direito de presunção de inocência de todo e qualquer cidadão ou cidadã até que haja decisão condenatória transitada em julgado “deveriam sim também participar dessa reparação e reconhecer que agiram indevidamente“, conforme disse Zanin à imprensa. 

Assim como Moro e os procuradores da força-tarefa da Lava Jato, parte da mídia comercial também foi responsável pelo lawfare contra Lula, reconhecido internacionalmente. “Foram sete anos de perseguição política, arbitrária e assimétrica” contra Lula, observou Valeska. “Com o disparo de todo o tipo de ‘notícia’ para passar à população, como dito pelo tribunal da ONU, a presunção de culpa”, completou. 

Mídia abafa vitória

A avaliação da defesa do ex-presidente é que, enquanto concessões públicas, esses canais deveriam incluir manifestações em reparação a Lula. Pela decisão das Nações Unidas caberá ao governo brasileiro decidir como irá reparar todos os danos causados ao ex-presidente pela Lava Jato. A Corte internacional também impôs a adoção de medidas de prevenção para evitar violações similares a qualquer outro cidadão brasileiro. O documento exige que o Brasil traduza, publique e divulgue amplamente o conteúdo da decisão que julgou Moro “parcial” e “arbitrário”. 

“Lula jamais perdeu seu estado de inocência. Mesmo com as condenações arbitrárias impostas pela operação Lava Jato, o ex-juiz Sergio Moro e o Tribunal da 4ª Região (TFR-4). Nós temos uma Constituição da República que prevê que a presunção de inocência só pode ser superada se houver uma decisão condenatória transitada em julgado. Então jamais houve uma decisão condenatória transitada em julgado contra o ex-presidente Lula, mesmo nesse ambiente de lawfare e nesse ambiente de perseguição que agora a ONU reconhece”, contesta o advogado. 

Ontem (27), mesmo com a decisão internacional, veículos como O Estado de S. Paulo, Folha de S. Paulo, O Globo e Valor Econômico passaram o dia sem registrar quando a informação veio a público, e sim apenas hoje, sem qualquer destaque. Também o Jornal Nacional, da TV Globo, preferiu omitir a informação. O mesmo veículo que, em 2015, na chamada ação do “quadrilhão”, que tinha como alvo filiados do PT, dedicou 12 minutos e 30 segundos para noticiar o caso. Mas que em 2019, quando os acusados foram inocentados pela 12ª Vara Federal de Brasília, divulgou a informação em apenas 52 segundos. 

Na manhã de hoje, o pré-candidato do PT ao governo de São Paulo, Fernando Haddad, acusou a chamada grande mídia de “sonegar ao cidadão brasileiro a informação sobre a vitória espetacular de Lula nas Nações Unidas”. Uma “demonstração clara de que se trata de crime continuado contra a democracia com a qual a imprensa não demonstra nenhum compromisso. Longo caminho até outubro”, acrescentou Haddad.


Leia também


Últimas notícias