Eleições 2022

Brasília assiste a troca-troca partidário ‘frenético’ antes do fechamento da janela

O PL, de Jair Bolsonaro, foi a agremiação que recebeu o maior número de deputados. Mais que apoio ao presidente, objetivo é tirar proveito eleitoral de sua candidatura à reeleição

Zeca Ribeiro/Câmara dos Deputados
Zeca Ribeiro/Câmara dos Deputados
A motivação da troca de legenda por parlamentares, na chamada janela partidária, é mais a sobrevivência política do que ideologia

São Paulo – Termina às 23h59 desta sexta-feira (1°) o prazo para deputados aproveitarem a chamada janela partidária para disputar as eleições. Até o fechamento desta matéria, o PL (Partido Liberal), legenda de Jair Bolsonaro, foi a agremiação que havia recebido o maior número de deputados.

A “janela” é aberta apenas para donos de mandatos eletivos proporcionais (deputados e vereadores) migrarem entre legendas. Para o Senado a eleição é majoritária e, por isso, senadores não podem aproveitar este “espaço”.

Porém, a motivação para troca de partido é mais a sobrevivência política do que qualquer ideologia. Na verdade, na maioria dos casos, questões programáticas ou ideológicas têm pouco ou quase nada a ver com a decisão de mudar de partido. 

Segundo o último levantamento da consultoria Queiroz Assessoria Parlamentar e Sindical, de Brasília, o PL era o partido com maior bancada, com 74 deputados. Ganhou 41 cadeiras nesta janela partidária e perdeu dez, ficando com saldo de 31 deputados a mais até o fechamento desta edição. Mas as mudanças, a poucas horas do final do prazo terminar, estavam num ritmo “frenético”, segundo Antônio Augusto de Queiroz, ex-diretor do Diap (Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar) e analista político da consultoria em Brasília.

Grande parte dos novos deputados do PL são oriundos do União Brasil, partido criado com a fusão do PSL e DEM. Antes da janela, logo após a junção das legendas, o União tinha 81 deputados. Mas, até o último levantamento, contava com 50. Uma revista semanal deu uma manchete sobre a janela, ontem, segundo a qual Bolsonaro deu “uma goleada” no ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, já que o atual mandatário atraiu dezenas de parlamentares ao PL, e o PT (Partido dos Trabalhadores), que tinha 53 deputados antes dos troca-trocas, deverá ficar com 57.

Muy amigos

Mas a constatação da revista não chega a ser nem mesmo uma meia verdade. Como explica Queiroz, os deputados que migraram ao PL não necessariamente apoiam Bolsonaro. O grande número de filiações à legenda “não quer dizer fortalecimento de Bolsonaro, mas que esses deputados querem tirar proveito eleitoral da candidatura forte do presidente. O que não significa que vão fazer campanha para ele.”

Junto com PL, o PP (Progressistas), o Republicanos, o PSC (Partido Social Cristão) e o PTB (Partido Trabalhista Brasileiro) apoiam Bolsonaro. O PL, porém, atrai os interessados em pegar carona na votação em São Paulo de Eduardo Bolsonaro e Carla Zambelli, por exemplo, que o analista cita como “puxadores” importantes. Ambos eram do PSL (Partido Social Liberal). Estima-se que determinados candidatos possam precisar da metade dos votos que seriam necessários para se eleger se Bolsonaro não estivesse no seu partido.

O PT, que tinha 53 deputados antes da janela, deverá manter-se com 57, mesma posição de ontem. Se perdeu a deputada Marília Arraes, que foi para o Solidariedade, o partido confirma a filiação de Gastão Vieira, que veio do Pros (Partido Republicano da Ordem Social), Flavio Nogueira (PDT, Partido Democrático Trabalhista) e Rubens Pereira Junior (PCdoB, Partido Comunista do Brasil).

Além deles, Josias Gomes, que era secretário do governo da Bahia, retorna ao mandato. E Márcio Macedo herda a vaga do deputado federal Valdevan 90 (PL-SE), cassado pela Justiça Eleitoral por abuso de poder econômico.

São Paulo vira polo de atração

Este ano, inclusive pelos “puxadores” Eduardo e Zambelli, São Paulo se tornou um atrativo para a direita brasileira nesta janela partidária. Sergio Moro, que se filiou ao União Brasil na quinta-feira (31), não é o único. O deputado federal Luis Miranda (DF) – conhecido por sua passagem na CPI da Covid – se bandeou do DEM (Democratas) para o Republicanos e mudou o domicílio eleitoral para São Paulo.

Outro direitista, Eduardo Cunha, de triste memória, se filiou ao PTB e afirmou que será candidato à Câmara pelo mesmo estado. O curioso é que Cunha está inelegível até 2027, devido à Lei da Ficha Limpa. Ele teve o mandato cassado em 2016 por decisão da própria Câmara. Só poderá concorrer como pretende se conseguir recuperar os direitos políticos.

Moro: “Não serei candidato a deputado”

Sergio Moro seria outro puxador, observa Queiroz, que o classifica como “traíra”, pela postura do ex-juiz em relação ao seu ex-partido, o Podemos. No entanto, Moro foi categórico ao dizer, em entrevista coletiva, no final da tarde desta sexta, que não será candidato a deputado. “Para livrar o país desses extremistas, coloquei meu nome à disposição”, afirmou. “Não serei candidato a deputado federal”, enfatizou.

O analista não vê grandes “puxadores” no PT, como era Eduardo Suplicy. O ex-governador Fernando Pimentel, que deve disputar uma vaga na Câmara por Minas deverá ter esse papel nas eleições.

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