Bolsolão

MST protesta contra ‘balcão de negócios’ de pastores no Ministério da Educação

Integrantes do MST usaram um bezerro de ouro para ilustrar pedido de propina cobrado por pastor para liberação de recursos

Matheus Alves/MST
Matheus Alves/MST
Dez prefeitos já confirmaram pedidos de propina em esquema comandados por pastores

São Paulo – Militantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) realizaram protesto em frente ao prédio do Ministério da Educação (MEC), em Brasília, nesta sexta-feira (25). A ação denuncia a existência de um gabinete paralelo na pasta, formado por pastores ligados ao ministro Milton Ribeiro e ao presidente Jair Bolsonaro. Em nota, o MST afirma que o caso, que ficou conhecido como “Bolsolão do MEC”, evidencia como a pasta se tornou um “balcão de negócios” voltado a atender os interesses escusos de grupos ligados ao governo.

Com os corpos pintados, e carregando um bezerro de ouro, que faz menção a uma passagem bíblica, os manifestantes gritaram palavras de ordem e cantaram para denunciar o escândalo: “Ei, você aí, me dá propina aí, um quilo de ouro aí”.

A alusão ao metal precioso faz referência ao relato de um dos prefeitos que denunciaram o esquema de propina comandado pelos pastores. Em um dos relatos, o prefeito de Luis Domingues (MA), Gilberto Braga, contou que lhe pediram um quilo de ouro em troca da liberação de recursos do ministério. Segundo ele, o pedido veio do pastor Arilton Moura, que atuava em parceria com o também pastor Gilmar Santos.

Para a dirigente nacional do setor de Educação do MST, Luana Pommé, “a corrupção no governo Bolsonaro se apresenta em todas as formas possíveis”. Além dos pedidos de propina para a liberação de verbas, ela cita o “desvio de finalidade da política educacional”.

Políticas públicas derretem

Ao mesmo tempo, enquanto o pastor é flagrado pedindo propina em ouro, as políticas educacionais se desmancham, denuncia o MST. Nesse sentido, o movimento destaca que a Educação é uma das pastas que mais sofreram cortes nos últimos anos.

“Diversas políticas da educação pública estão sendo desmontadas, como é, por exemplo, o caso do Programa Nacional de Educação da Reforma Agrária (Pronera). Há dois anos o governo Bolsonaro extinguiu a Coordenação-Geral de Educação do Campo e Cidadania, responsável pela gestão do Pronera”, acusa o MST. O fim do programa, segundo o movimento, afetou milhares de estudantes das zonas rurais.

Escândalo se multiplica

De acordo com o jornal O Estado de S.Paulo, 10 prefeitos já denunciaram o esquema de propina comandado por pastores no ministério. O prefeito de Bonfinópolis (GO), Kelton Pinheiro (Cidadania), disse que chegou a receber uma oferta de desconto no valor da propina. “(Arilton) falou: ‘vou lhe fazer por R$ 15 mil porque você foi indicado pelo pastor Gilmar, que é meu amigo. Pros outros aqui, o que eu estou cobrando aqui é R$ 30 mil’.” Além disso, o valor da contrapartida também incluía compra de bíblias patrocinadas pelo pastor.

O prefeito de Boa Esperança do Sul (SP), José Manoel de Souza (PP), que também relatou pedido de propina de Arilton. “Ele disse: Eu falo lá (no ministério). Já faz um ofício, mas você tem que fazer um depósito de R$ 40 mil para ajudar a igreja.”

Após pedido da Procuradoria-Geral da República (PGR), a ministra Cármen Lúcia, do Supremo Tribunal Federal (STF), determinou abertura de inquérito contra Ribeiro. Ela também deu prazo de 15 dias para a PRG informar se Bolsonaro também será alvo da investigação. Isso porque Ribeiro afirma que o atendimento preferencial às demandas dos pastores se tratava de uma orientação do próprio presidente.

“Minha prioridade é atender primeiro os municípios que mais precisam. Em segundo, atender a todos os que são amigos do pastor Gilmar”, disse o ministro, em áudio divulgado pela Folha de S.Paulo no início da semana. “Foi um pedido especial que o presidente da República fez para mim sobre a questão do (pastor) Gilmar”, acrescentou Ribeiro.


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