Toma Lá, Dá Cá

Ministro da Educação diz priorizar amigos de pastores a pedido de Bolsonaro; parlamentares querem investigação

“Porque a minha prioridade é atender primeiro os municípios que mais precisam e, em segundo, atender a todos os que são amigos do pastor Gilmar”, afirma Milton Ribeiro em áudio vazado

Carolina Antunes/PR
Carolina Antunes/PR
Gilmar Santos e Arilton Moura, citados em áudio de ministro, em evento oficial do governo ao lado de Bolsonaro

São Paulo – O ministro da Educação, Milton Ribeiro, afirmou que o governo federal, a pedido do presidente Jair Bolsonaro (PL), prioriza prefeituras cujos pedidos de liberação de verba foram negociados por dois pastores, que não têm cargo, mas atuam em um esquema informal de obtenção de verbas da pasta. A informação foi divulgada pelo jornal Folha de S.Paulo, após acesso a um áudio vazado.

Na reunião no Ministério da Educação, Ribeiro fala sobre o orçamento da pasta, cortes de recursos da educação e a liberação de dinheiro para obras de creches, escolas, quadras ou para compra de equipamentos de tecnologia. De acordo com a Folha, os pastores Gilmar Santos e Arilton Moura têm, ao menos desde janeiro de 2021, negociado com prefeituras essas verbas federais. “Porque a minha prioridade é atender primeiro os municípios que mais precisam e, em segundo, atender a todos os que são amigos do pastor Gilmar”, diz o ministro na conversa.

“Foi um pedido especial que o presidente da República fez para mim sobre a questão do (pastor) Gilmar”, acrescentou o ministro, que também indica haver uma contrapartida à liberação de recursos da pasta. “Então o apoio que a gente pede não é segredo, isso pode ser (inaudível) é apoio sobre construção das igrejas.”

Segundo relatos obtidos pelo jornal, junto a gestores e assessores, os pastores negociam pedidos para liberação de recursos a prefeituras em hotéis e restaurantes de Brasília. Depois, entram em contato com o ministro Milton Ribeiro, que determina ao Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) a oficialização do empenho. Questionados, o governo e o FNDE não responderam. Os pastores Gilmar e Arilton também optaram por não se manifestar sobre o caso.

Investigação

O deputado federal Rogério Correia (PT-MG) apresentou requerimento na Câmara, no último domingo (20), para solicitar a convocação do ministro da Educação, Milton Ribeiro, com o objetivo de obter explicações sobre a operação de um suposto gabinete paralelo de pastores. O parlamentar aponta possível prática de tráfico de influência e improbidade administrativa. Ele descreve a denúncia como um esquema “escandaloso”. Além disso, o subprocurador Lucas Rocha Furtado entrou com representação no Tribunal de Contas da União (TCU) para que investigue se o governo federal está agindo com “afronta” à Constituição.

O pedido foi feito após publicação de reportagem do jornal O Estado de S. Paulo, divulgada na útima sexta-feira (18), mostrando a existência do “gabinete paralelo” formado por pastores que, mesmo sem um vínculo formal com a pasta ou com o setor de ensino, controlam a agenda do MEC e do ministro Milton Ribeiro. A matéria mencionava que eles viajam em voos da Força Aérea Brasileira (FAB), fazem intermediação com prefeituras e empresários, discutem as prioridades da pasta e o destino das verbas públicas do setor.

Após o vazamento de áudios, outros parlamentares pediram uma investigação sobre o assunto. “O ministro admite que negocia verbas do MEC com pastores para beneficiar amigos de Bolsonaro a pedido do próprio presidente! Enquanto isso a educação e a pesquisa sofrem com cortes de recursos. Protocolaremos uma representação ao Ministério Público Federal (MPF) contra mais esse crime”, afirmou a deputada federal Natália Bonavides (PT-RN).

O senador Alessandro Vieira (PSDB-SE) também anunciou que entrará com uma procuração na Procuradoria-Geral da República (PGR). “Não podemos tratar como ‘novo normal’ absurdos e/ou cometimento de crimes. Ainda hoje vamos cobrar providências do PGR contra o ministro da Educação, por possível improbidade administrativa, e investigações do MPF sobre o gabinete paralelo da Educação, por tráfico de influência”, disse.

Os dois pastores já apareceram ao lado de Bolsonaro, participando de agendas oficiais e discursando em eventos como se fossem integrantes do governo federal desde 2019, antes mesmo de Milton Ribeiro tomar posse. Arilton chegou a viajar em avião da FAB ao lado do atual ministro para evento oficial em Alcântara (MA).


Leia também


Últimas notícias