Resistência

Pesquisadores e estudantes defendem Arquivo Nacional. Para historiadora, situação é ‘trágica’

Governo nomeou para a direção uma pessoa da área de segurança. Profissionais temem por acesso e conservação de documentos históricos

Reprodução Twitter
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Ato nas escadarias do Arquivo Nacional, no Rio de Janeiro: 'Estamos atentos'

São Paulo – Estudantes, historiadores, pesquisadores e movimentos fizeram nesta terça-feira (11) um ato em defesa do Arquivo Nacional, outro alvo, segundo eles, de “desmonte” por parte do governo federal. A manifestação foi realizada no final da manhã nas escadarias da instituição que acaba de completar 184 anos, na Praça da República, região central do Rio de Janeiro.

Um dia antes, a historiadora Eloá Chouzal, integrante da Associação Brasileira de Preservação Audiovisual (ABPA), falou sobre a situação do Arquivo Nacional. Em entrevista à repórter Marilu Cabañas, da Rádio Brasil Atual, ela criticou a nomeação de Ricardo Borda D’Água de Almeida Braga como diretor-geral. Uma pessoa sem a menor qualificação para o cargo, destacou a profissional.

Principal arquivo do país

“Você não vai botar um historiador para construir uma ponte. Esse senhor não tem a menor experiência, é uma pessoa que vem da área de segurança, ligada ao ministro da Justiça, se gaba de participar de clubes de tiro. Essa pessoa administrando o principal arquivo da memória brasileira é trágico”, lamentou Eloá. “Ele não poderia estar lá, porque não é apto. Como é que uma pessoa que não é da área vai administrar o maior acervo da história da administração pública?”

As consequências da nova gestão já estão sendo sentidas. Duas servidoras em funções importantes do Arquivo Nacional foram exoneradas, causando mal-estar interno. E outros quatro foram devolvidos a seus órgãos de origem. Além disso, um decreto de dezembro (10.148) modifica a estrutura do AN. “No sentido”, diz Eloá, “de tirar do órgão sua principal função, que é a gestão dos documentos do Poder Executivo.” Ela enfatiza a relevância do Arquivo: “São 55 quilômetros de documentos, mais de 1 milhão de fotografias, mapas, a Lei Áurea está lá, todas as Constituições, documentos de imigrantes, filmes do acervo da Tupi… É também um acervo pró-cidadão”, afirma.

Documentos da ditadura

Também ficam no Arquivo Nacional documentos do período da ditadura, no site Memórias Reveladas. Pesquisadores temem restrições ao acesso desses documentos ou mesmo um simples “desaparecimento”.

Para Eloá, o que vem acontecendo no AN reflete uma política de “desmantelamento” e ataques que atinge outras instituições públicas, como Cinemateca Brasileira, Ibama, Anvisa, fundações Palmares e Ruy Barbosa, entre outras. “É um ataque direto à cultura. Eles não querem que exista ciência, que exista cultura. A gente não vai deixar que essas pessoas destruam nossa memória, nossa história”, afirma a pesquisadora. Para ela, o ato no Rio é importante “para mostrar que nós estamos atentos”.

Confira a entrevista à Rádio Brasil Atual:


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