SEM TERCEIRA VIA

Lula e Bolsonaro podem atrair votos da ‘terceira via’ já no primeiro turno, aponta cientista político

Professor da UFRJ compara eleições deste ano com as 1994 e diz que petista segue como favorito para vencer ainda no turno inicial

José Cruz/Agência Brasil
José Cruz/Agência Brasil
A última pesquisa divulgada é a terceira consecutiva em que Lula aparece com o percentual de 44% pelo Ipespe. Esse dado mostra a possibilidade do candidato vencer no primeiro turno, se a soma de votos dele for maior do que a soma dos adversários

São Paulo – O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) segue liderando as pesquisas eleitorais, enquanto Jair Bolsonaro (PL) aparece em segundo nas intenções de voto. O levantamento divulgado ontem (27) pelo Ipespe mostra que os dois candidatos somam 68% dos votos totais: 44% do petista e 24% do atual chefe do Executivo.

Na avaliação do professor de Ciência Política da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Josué Medeiros, que é coordenador do Núcleo de Estudos sobre a Democracia Brasileira, não há espaço para a terceira via desde que Lula recuperou seus direitos, e as eleições deste ano podem repetir o pleito presidencial de 1994, definido já no primeiro turno. “Os dois candidatos possuem cerca de 70% das intenções de votos e, na minha opinião, isso antecipa o segundo turno. A tendência é essa rivalidade se acentuar ainda mais, os dois sugarem mais votos e haver uma definição ainda no primeiro turno”, afirmou, em entrevista a Glauco Faria, no Jornal Brasil Atual desta sexta-feira (28).

A última pesquisa divulgada é a terceira consecutiva do Ipespe em que Lula aparece com o percentual de 44%, mostrando a possibilidade de vitória no primeiro turno. “Desde que Lula recuperou seus direitos políticos, saltou de 27% para 35% das intenções de voto, ainda sem anunciar que estava de volta ao jogo. Na medida que Bolsonaro consolida a tragédia em todos os setores, o ex-presidente se torna o contraponto, lembrado pela população pelo seu governo exitoso”, acrescentou Medeiros.

Bolsonaro fragilizado

O levantamento também mostra que Bolsonaro atinge o maior índice de desaprovação desde o início de seu governo, 64%, ante aprovação de 29%. Segundo a pesquisa, 55% dos entrevistados consideram o governo Bolsonaro ruim ou péssimo, enquanto 23% o avaliam como ótimo ou bom e 21%, como regular.

Medeiros ressalta que a avaliação positiva e negativa de Bolsonaro não mudou, mesmo após o implemento do Auxílio Brasil. Para ele, isso demonstra que Lula tem uma espécie de “casca dura”, capaz de bloquear a rede de mentiras de Bolsonaro.

“Em alguma medida, a estratégia de mentiras do Bolsonaro não é para tirar pontos do Lula, mas ele mesmo saltar desses 23%, restaurando aquele fantasma do comunismo, kit gay e essas coisas. A ideia não é bater em Lula, mas criar uma estrutura para benefício próprio. Bolsonaro não tem muita coisa para apresentar como projeto, então vai bater na questão de valores morais”, analisou.